quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A saudade desafia sua capacidade de matá-la outra vez

Não! Nunca conheci quem conseguisse lidar com a saudade, talvez porque esse seja um sentimento ao qual você esteja direcionado a senti-lo, pura e simplesmente, talvez porque ela seja “imortal”.

Imagino que a saudade seja dividida em três categorias: “saudade triste” “saudade feliz” e “saudade instantânea”. Saudade triste é aquela saudade de quem partiu eternamente ou de quem está prestes a fazer a temida viagem sem volta. Saudades de quem se foi por uma briga, uma desavença, daquele rompimento com alguém cujo futuro você sonhava em partilhar lado a lado.

Essa é uma saudade que quase nunca é suprida, principalmente se quem partiu, partiu eternamente: seja para o lado de lá, seja para o lado oposto ao seu. É uma vontade de abraçar, de conversar, de sentir qualquer aspecto, o mínimo que seja, mas que volta e meia remete à pessoa e traz todas aquelas repetitivas boas lembranças capazes de trazer uma dorzinha momentânea no peito, no final da tarde.

Saudade feliz é aquela de quem foi morar ali – do outro lado do mundo -, mas ainda sim é aqui na terra, portanto alcançável. Saudades daquele amor avassalador de verão, que se foi logo que chegou o outono. Que voou junto com as folhas secas que caíam das árvores. Você viu o relacionamento voltar ao pó como as folhas, mas o amor não! Ele continuou, sobreviveu até o verão seguinte e, hoje ele perdura as quatro estações. Saudades daquele amor que virá um dia. Atuando exatamente como no filme que você criou na sua mente. Nos mínimos detalhes, cada palavra, cada gesto. Produção digna de Oscar.

Essa é uma saudade muitas vezes suprível. É uma saudade louca ou que induz à loucura, porque quando menos se espera, você simplesmente junta tudo numa mala como se estivesse fugindo da polícia por ter cometido um crime – que na verdade você irá cometer, pois irá matar a saudade -, e vai sem pensar, atrás de quem está longe. É uma saudade que você segura, espreme, aperta no peito, e quando não agüenta mais, faz o impossível, junta suas armas e vai à luta.

Saudade instantânea é a saudade de quem ainda irá. Saudade de momentos, pequenos momentos, às vezes minutos, segundos de um beijo que fez toda a diferença, de um “Te Amo” que saiu de forma mágica. Saudades daquele porre com a galera, porque não? Na maior parte do tempo estavam todos inconscientes, mas lúcidos o suficiente para lembrar no dia seguinte depois de quase doze horas de sono, debaixo de uma ressaca de querer sumir, com direito a muita sopinha, analgésicos e tremedeira irritante (rs). Saudades daquele dia em que acabou a eletricidade. Foi exatamente nesse dia que você viu sua família inteira se reunir ao redor da mesa, partilhar casos, brincadeiras, risadas. Viver aquela noite sem TV, internet, vídeo-game foi incrível.

Esse é um tipo de saudade que abrange pequenas coisas, mas grandes o suficiente para fazer parte do seu repertório de histórias de vida para todo o sempre.

E não! Nunca conheci quem conseguisse lidar com a saudade, primeiro porque ela é impossível de ser “matada”. Assim que o crime é cometido, você volta à sua vida costumeira tentando disfarçar o acontecido e, às vezes, no mesmo dia ela já está ali, te enchendo outra vez - viva, cuspindo em você lembranças, jogando na sua cara tudo de bom que você viveu e meio que rindo da sua incapacidade de retomar aqueles momentos, quase num desafio à sua coragem de matá-la novamente.

Segundo porque ela é “onipresente”, está em diversos lugares, pessoas, coisas, músicas, filmes, etc.

Mas o mais importante é saber que por mais perfeito que seja o crime de matá-la, ela sempre ressurgirá, ainda mais forte, ainda mais viva. E é aí que você a engana; lembra daquela frase “se não pode vencê-los, confunda-os?”, então, que tal uma ligação, um e-mail, uma visita ao cemitério, ou ao lugar onde tudo aconteceu?