Nesse terceiro capítulo, pesquisando um pouco sobre subjetividade e
experiência dentro do contexto do porque das definições e rótulos, encontrei um
texto de Adolfo Beria di Argentine chamado: A Síndrome da Subjetividade, do
qual transcrevo alguns trechos.
Em geral o texto abre aspas quanto à subjetividade, mas mais do que
tratar dela, o texto talvez esteja focado na questão das escolhas - que é completamente subjetiva quando feita
de maneira pessoal -, em relação ao sofrimento ou da própria subjetividade enquanto
justificativa de "a vida é minha e ninguém tem nada a ver com isso",
ou ainda "gosto cada um tem o seu", ou "é aminha opinião".
"Ao procurar compreender as razões profundas pelas quais a
sociedade atual tem tanta aversão ao sofrimento, parece-me válido afirmar que
tais razões se encontram na perda da virtude da paciência: a capacidade de
suportar as tensões intermediárias da vida. (...)a sociedade moderna
aprisionou-se numa opção sem saídas: bem-estar pleno ou a morte. Ou, em outras
palavras, já não somos suficientemente fortes para suportar as tensões
intermediárias:
- Um casamento não pode ter problemas: ou é maravilhoso, ou se desfaz;
- Um trabalho não pode ter suas dificuldades: ou é gratificante, ou
muda-se de emprego;
- Um amizade não pode ter momentos difíceis: ou é total, ou torna-se
indiferença ou ódio;
(...)não estamos mais habituados ao esforço, ao sofrimento das tensões
intermediárias, e isto porque: ou perseguimos uma plenitude inatingível ou
mergulhamos na depressão e na ruína".
Observando esse trecho, deparo-me com a possibilidade de talvez
estarmos preocupados com uma rotulação em demasia ou mesmo uma necessidade de
definição das vivências o tempo inteiro. Não conseguimos mais apenas viver,
temos que ter um adjetivo ou substantivo extremista que nos coloque face a face
com uma realidade ditada, sem reticências ou interrogações sem respostas.
Porém é preciso atentar-se para o fato de que não é porque as
experiências e a própria vida são subjetivas, que tudo se justificará dessa
maneira, antes, devemos entender que "nem sempre a carga de subjetividade
que permeia um fenômeno ou um comportamento individual pode traduzir-se num
direito do indivíduo a julgar e decidir por si só com relação ao fenômeno e ao
próprio comportamento".
Sendo assim, procurar entender o mundo na forma de definições e
rótulos, tal qual se esbarrar também na justificativa da subjetividade como
forma de impor um modo de vida ou experimentação do mundo, seria elevar as
vivencias a apenas extremos, quando nossa capacidade em lidar com o
intermediário pode ser trabalhada.
E não somente trabalhar o entendimento sobre até onde vai a
subjetividade, como também entender que uma busca por experiências que definam
padrões e parâmetros contribuirá apenas para sucumbir a verdadeira experiência
que até mesmo o sofrimento possibilita.
É sair de uma esfera egoísta da qual "a alta subjetividade atual
dá lugar a um justificacionismo cômodo ao mesmo tempo que dramático em sua
banalidade", e cair nos caminhos do entendimento da diferença que realmente existe entre fenômeno
e direito subjetivo.
Sem banalizar as experiências, procurando rótulos quantitativos que
hierarquizem sentimentos, busquemos traçar metas para desbravar o mundo ao
nosso redor, tentando extrair sem precisar de símbolos e manifestações de
linguagem para alardear cada momento. E no silêncio do próprio espírito,
preso-livre em um corpo com data de validade, nos doemos inteiramente para o
que a vida nos oferece, de forma única para cada único, seja tomando coca-cola,
fotografando, amando ou experimentando
os sentimentos sem se preocupar se é amor, porque ao final, o que vale é o que
o caminho até o fim nos proporcionou e não a palavra que define que ele acabou.