sexta-feira, 31 de julho de 2009

Incandecentes, Fluorescentes e do Aladim

Luz_O que, iluminando os objetos, torna-os visíveis. Candeeiro, lâmpada, vela ou outra coisa acesa. O que ilumina o espírito. Claridade de um astro. Brilho, fulgor. Evidência;
Acredito que a vida seja como as lâmpadas: existem várias, cada uma com suas características próprias de fabricação [brilho, intensidade, vida útil, validade, luminosidade, cor, etc.], mas se resumindo a três tipos básicos, que são as mais conhecidas: incandescente, fluorescente e “do Aladim”.
Assim sendo, apesar de serem apenas três tipos, existem diversos outros fatores que as tornam completamente diferentes, ou seja, apesar de todas exercerem a mesma função (viver/iluminar), cada uma possui uma marca própria, e assume uma identidade particular a partir do meio à qual é inserida.
Para tanto, sabe-se que existem lâmpadas que nasceram para iluminar sozinhas, às vezes clareando pequenos espaços, outras tornam-se capazes de iluminar vãos maiores. Apesar de sozinhas, não são menos importantes do que aquelas que iluminam em parceria. Essas nasceram com esse intuito e aprenderam a lidar com isso.
Do outro lado, existem as lâmpadas solitárias rebuscadas, ou seja, aquelas que ostentam alguma esfera de vidro ou cristal, alguma camada de alumínio que ajuda a espalhar seu brilho, ou aliada a alguma forma que a valoriza. Apesar de camuflada, algumas se deixam seduzir pelo que elas ostentam, sem saber que o deslumbre das pessoas naquele lugar está voltado àquilo que a esconde e não à lâmpada em si. Outras aprendem a lidar com isso, e despertam a curiosidade alheia em saber o que está por detrás daquele objeto de desejo, ou seja, que tipo de lâmpada é usada, e que torna o brilho intenso e atraente.
Há também aquelas lâmpadas que nasceram para viver em conjunto. Elas até são capazes de iluminar sozinhas, mas preferem estar no meio de outras, ou seja, lâmpadas que dividem um mesmo espaço com outras lâmpadas. Elas atuam em trabalhos sociais, constituem grandes famílias, amam os relacionamentos. E existem aquelas que trabalham em conjunto em grandes lustres de pedraria, com direito a viver cercada de requinte e gente importante.
Mas como tudo têm uma validade, um dia toda lâmpada morre. Claro, existem aquelas que simplesmente queimam e são logo substituídas. Existem aquelas que já vêm com defeito de fábrica, ou que simplesmente são descartadas no decorrer do processo de fabricação.
Algumas lâmpadas são tão importantes no espaço em que ocupam, que quando morrem causam “alarde” naqueles que dependiam de seu brilho para continuar vivendo.
Para entender melhor as particularidades de cada lâmpada, temos:
Incandescentes: são aquelas pessoas que levam a vida com intensidade total, ou seja, não são nada econômicas quando o assunto é viver. Iluminam mais que as outras lâmpadas, estão sempre com um brilho amarelado que imita bem o brilho do sol. Elas são lâmpadas quentes, com uma corrente elétrica capaz de fazê-las brilhar por muito tempo. São ansiosas e gostam de tudo a tempo e a hora.
Fluorescentes: são aquelas pessoas mais contidas, econômicas. Que vivem de maneira mais tímida. Não são muito aventureiras como as incandescentes. Mesmo estando cercadas de outras fluorescentes, são lâmpadas frias, de luz branca, mas são ótimas para passar horas sob seu brilho. Às vezes são cansativas, mas em geral são muito confortáveis na maior parte do tempo.
E por último, a “Lâmpada do Aladim”: essas são aquelas pessoas que vivem no mundo da fantasia, ou seja, vivem como se tudo fosse uma mágica. Tudo está sempre a um estalar de dedos. Elas estão sempre fazendo alguma coisa fantástica, nunca são desligadas, pelo contrário, uma vez esfregadas (quando se dão conta de que são gente), libertam o “gênio” [não entenda isso como inteligência] que existe dentro delas e provavelmente nunca mais o deixarão adormecer.
Mesmo adultas, continuam deslumbradas com tudo, e são capazes de acreditar nas próprias mentiras, tamanha a convicção com a qual as elaboram.

Enfim, apesar das subjetividades de cada uma, é preciso entender que, cumprido o tempo de vida útil [ou mesmo que seja abreviado], todas tem sempre o mesmo destino: o aterro sanitário.
Bem mais importante que o final da história, é o início dela. Estamos todos no mesmo supermercado, na mesma seção e prateleira. Apesar de separadas por categorias [religião, cor, raça, sexo, etc.], rotuladas por isso, e por preços diferentes, a função é sempre a mesma e só depende de nós converter esse brilho em luz branca/colorida ou nos tornarmos luz negra.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Prefiro Picolé de Banana a Spray para Ambientes

História real: Certo dia, meu avaliador de monografia [AM] estava passando por um lugar em Belo Horizonte [não recordo onde] e avistou um menino de uns 10 anos de idade, meio choroso, segurando uma mochila, olhando para ela inconformado. Curioso com a cena, AM parou e perguntou:
-Ei, porquê é que você está triste?
-É que minha mãe me deu essa mochila pra eu ir à escola, mas ela é feia, eu não gostei e meus colegas vão rir de mim, disse a criança.
-E onde está sua mãe?
-Ela foi ali resolver umas coisas e pediu que esperasse aqui.
-E porquê é que você não diz a ela que não gostou?
-Porquê ela vai ficar brava comigo e triste e não vai me dar outra mochila...
-E, o que você pretende fazer? Perguntou.
O silêncio tomou o lugar da conversa, o garoto olhou para o lado, fitou algo que prendeu sua atenção por um tempo e então disse:
-Você quer trocar essa mochila comigo?
-Trocar? Quanto você quer? Disse AM.
-Não quero dinheiro, quero trocá-la por picolés. Disse apontando o vendedor logo na esquina.
-Picolés?! Sorriu. -E quantos picolés você quer pela mochila?
O garoto retribui o sorriso: -Todos que puder chupar; disse entusiasmado.
-Mas você sabe que se você trocar sua mochila, quando sua mãe chegar e perguntar onde ela está e você contar que trocou em um monte de picolés, ela vai ficar muito brava.
-Sim, sei, mas quero trocar assim mesmo. Insistiu ele.
AM concordou e então se aproximaram do vendedor. O menino entregou a mochila àquele homem estranho, pediu o primeiro picolé, e à medida que acabava, pedia outro. Ao final, o garoto havia chupado três picolés, pegou mais um e disse:
-Estou satisfeito. Obrigado.
-Por nada. Agradeceu AM, se despediu e cada um tomou seu rumo.

Moral da história: essa história real nos conta muito mais do que a troca literal que se apresenta. Ela narra a coragem do menino em enfrentar seus próprios medos, em rejeitar a sua passividade diante de algo que o incomodava - por medo de uma possível reação negativa de sua mãe - vislumbrando a liberdade de escolha e posteriormente uma liberdade do indivíduo.
Agora pare e pense: quantas coisas nós aceitamos, engolimos quase forçado, fechamos os olhos e fingimos que não existiu, por uma questão de comodismo e costume.
A passividade com a qual vivemos [somos algum porão ou verdadeiros quartinhos de bagunça] torna-nos completamente infelizes, pois anulamos nosso bem-estar e felicidade por medo de recomeçar, de lutar em um novo campo de batalha, mesmo tendo perdido o último confronto [e continuamos ali, naquele lugar destruído pela guerra], já que nos habituamos a pegar as coisas que não servem para nada e, ao invés de jogar fora, juntar em caixas e acumular em um canto.
E assim vamos vivendo: guardando uma “dorzinha” num pacote ali, preservando um falso amigo num plástico bolha meio estourado lá, guardando objetos, coisas e momentos ruins em caixas cada vez maiores. E perdendo cada vez mais nosso espaço. E a cada dia nos sentimos mais sufocados pela poeira, mofo e excessos. E em pouco tempo a luz já não entra, pois a pilha de objetos danificados ou inúteis chegam a uma altura capaz de tapar completamente a única janela da alma [o coração].
Em certos dias, uma ventania forte ou um temporal [para piorar a situação] às vezes forçam a janela e derrubam algumas coisas; essas esbarram em algum encanamento ou fio danificando-os. Resultado: vazamentos, infiltrações, bolor, animais e insetos indesejáveis,ou seja, doenças; ou então algum curto circuito, incêndio ou queda de energia, ou seja, escuridão constante.
Para resolver, às vezes chamamos um técnico de reparos, alguma faxineira e pronto. Consideramos o problema resolvido.
Porém, os dois podem até reparar a fiação queimada, trocar o cano furado, tirar o mofo e poeira e depois borrifar alguns cheiros artificiais desses sprays para ambientes. Mas toda a tranqueira continua acumulada.
“Limpar” não é o mesmo que “dar faxina”. Porque a faxina verdadeira só pode ser realizada por cada um. Ninguém tem permissão para pegar o que te pertence e lançar fora. Isso só depende de você.
Felicidade, essa é a palavra que queremos que tome todo o espaço.
Mudar para ser feliz! Mudar de verdade, começando com uma boa faxina.
Hora de fazer um bazar na vida. Não é pra pegarmos tudo aquilo que está com defeito e colocar à venda [porque isso deveria estar no lixo], mas sim, pegar tudo aquilo que é inútil, que está entulhando nosso porão [momentos, pessoas, lugares, objetos, musicas] e colocar à venda, algo como uma mega liquidação.
Acreditar que a felicidade é para ser vivida e não ignorada e, como o garoto, ter coragem para hierarquizar aquilo que temos em nós e trocar tudo aquilo que nos impede de enxergar e viver o que de mais precioso possuímos.

ATENÇÃO: COMEÇA AGORA UM MEGA BAZAR NA VIDA. COISAS QUE NÃO SERVEM A PREÇO DE PICOLÉ DE BANANA!!! APROVEITEM!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Sociedade dos Best-Sellers Dublados

Visão_ Ação ou efeito de ver. PercepçãoPerceção pelo órgão da vista. Imagem que se julga ver, geralmente em sonhos ou por efeito de uma alucinação. Vista, aspectoaspeto, presença. Aparição sobrenatural, fantástica. Imaginação vã. Idéia sem fundamento.
Ah, os olhos! Olhos que encantam, olhos que projetam os resultados de alguma tristeza em forma de lágrimas, olhos que captam o mundo visível. Olhos azuis, castanhos, verdes, pretos, puxados, arredondados, grande, pequenos, olhos nus, ou exercendo sua função com a ajuda de algum acessório/aparelho. Olhos capazes de transmitir mais informações que a própria boca em ação [um olhar vale mais que mil palavras], será? Talvez, se forem mil palavras escolhidas aleatoriamente e ditas sem contexto e nexo, realmente, o olhar valerá mais. Porém, as palavras sempre dizem muito mais do que ouvimos, ou queremos ouvir, e é por isso que talvez um olhar somado ao momento, que somado às circunstâncias da situação, que somados a um determinado lugar, mais outras pequenas coisas que se acumulam dentro de um espaço de tempo, realmente digam mais que mil palavras, ou seja, existe quase uma cena teatral que nos movimenta interiormente e que é regurgitada ao mundo -quando existe um silêncio no ar - através dos olhos.
Amor à primeira vista, visão panorâmica, primeira impressão, ver, enxergar, olhar, observar. Um mundo imagético que vai sendo construído para iludir nossos olhos. Desde criança somos educados ao sentido da visão como o mais importante deles. Deixamo-nos seduzir pelas formas, cores, texturas, nos espelhamos em pessoas com visibilidade na mídia, e nos apegamos cedo a estereótipos físicos. E é também desde pequeno que formamos uma opinião própria, um juízo de valor, baseado em uma percepção visual e superficial de algo que é apresentado. No que diz respeito à nossa própria imagem, queremos agradar sempre aos olhos alheios. Os nossos só estarão satisfeitos se formos capazes de satisfazer aos outros em primeiro lugar, despertar o desejo, o sentimento de carência e posteriormente uma necessidade por nós, caso contrário temos a sensação de rejeição, de solidão e de tristeza, pois não fomos capazes de nos encaixar nos padrões de beleza física do outro e da sociedade contemporânea.
O que ainda não percebemos, é que fomos alienados de nós mesmos e somos incapazes de aceitar as diferenças que dão a cada um, uma identidade própria. O corpo “imperfeito” ficou estanho a si mesmo e posteriormente ao espaço em que se insere. Não passamos mais longas horas nas praças, ou conversando na porta das casas. O corpo parece carregar alguma esquizofrenia, e a vergonha de mostrá-lo nos faz escondê-lo atrás de telas de cristal líquido e vidros espelhados.
Mesmo sabendo que os olhos sempre nos enganam [ilusionismo, ilusão de ótica, imagens manipuladas], ainda sim nos prendemos à visão e ao que ela nos transmite.
Raramente nos entregamos à beleza que os olhos não captam; aquela que é sentida com a alma, com o coração. Quantas vezes fechamos os olhos para tentar ver uma imagem de alguém que está à nossa frente falando? O que a voz diz projeta alguma imagem em nossa mente quando não estamos vendo com os olhos; mas raramente nos entregamos a isso, por mera questão de comodidade, costume e principalmente, por estarmos extremamente ligados aos padrões físicos.
Levamos a vida muito mais parecidos com uma pessoa que prefere ir ao cinema assistir à estréia de um roteiro baseado em um Best-Seller, do que aquela que leu primeiro o livro, e através das palavras dele, desenhou a história em sua cabeça, em alguns casos usou as mensagens sutis que ele continha - e que foram descobertas em conseqüência à essa sensibilidade - em sua própria vida e só então direcionou seus olhos à tela, para ver o que ela já conhecia, através dos olhos da sua própria mente, para ver com os olhos do corpo, o que uma outra pessoa viu com os olhos da mente dela e tentou manifestar fisicamente.
As reações de quem já conhecia a história são sempre as mesmas: insatisfação pelas imagens visuais projetadas, que não contem toda a informação e beleza que as criadas mentalmente, ruptura e cortes em partes importantes e necessárias da história, etc.
Já para aqueles que não leram, a história é sempre ótima, o filme interessante, apesar de a legenda como sempre estar cansativa, rápida e impedir de ver as cenas direito. Preferiam um filme dublado.
Pobres de nós nessa sociedade presa a valores tão efêmeros. Sociedade cuja ciência é capaz de reconstituir corpos dilacerados com tamanha perfeição, que não deixam sequer cicatrizes como vestígios do passado; mas que é incapaz de reconstituir valores mesquinhos, que produzem a guerra, a miséria e as desgraças pelo planeta.

Fechamos nossos olhos para as mazelas que nos cercam como forma de nos ausentar de parte da culpa por elas existirem, mas não fechamos nossos olhos à beleza física, mesmo que sejamos maltratados por ela, pois estamos visualmente entorpecidos com essa realidade imagética fútil.

sábado, 11 de julho de 2009

Os Relacionamentos e as Massas

Relacionamento _ato de relacionar ou de se relacionar. Ligação afetiva ou sexual entre duas pessoas. = relação
Em outro post eu falei sobre o medo que as pessoas têm da solidão. Esse medo leva a uma necessidade latente, quase que obrigatória, de se relacionar com um parceiro. O não envolvimento em uma relação duradoura começa a despertar um sentimento de aflição e ansiedade, associados ao medo de permanecer eternamente “largado ao vento”.
Nesse contexto, as pessoas que não aprenderam a lidar consigo mesmas são incapazes de uma convivência com seu próprio eu. São pessoas que não estabeleceram um RELACIONAMENTO com suas potencialidades e deficiências. Na verdade elas se vêem como incapazes de qualquer coisa quando estão sozinhas.
Pessoas assim são como aqueles “colarzinhos” baranguérrimos de revistas populares, cujo pingente é a metade de um coração e você dá a outra metade para o seu parceiro, ou seja, você não sabe o que é pior, ver uma pessoa que parece a metade do coração partido, numa correntinha banhada a “ouro 18 quilates”, ou o casal que é o próprio pingente encaixado: forçado, de mau gosto e com a fenda do mal encaixe entre as partes, destacando mais que a bijuteria como um todo.
Toda essa busca por uma vida a dois levou os atuais relacionamentos do nosso tempo a uma escala muito mais “culinária” do que afetiva, a qual poderíamos facilmente comparar às massas: em geral são um macarrão instantâneo ou um espaguete mal feito.
Os relacionamentos “macarrão instantâneo” são aqueles cuja fome extrema somada à preguiça de preparar alguma refeição mais elaborada levam as pessoas a optar por aquela tradicional, econômica e barata massa: o popular miojo.
São relacionamentos chamados de namoro, que começam logo depois – senão antes – do terceiro encontro – ou o mais rápido possível. As pessoas abrem o pacote da massa, separam o tempero artificial – o sabor pouco importa, já que é artificial mesmo -, colocam numa panela qualquer com um pouco d’água, cozinham por três minutos e então degustam aquele preparo como se fosse realmente um excelente substituto de uma refeição real.
Esse tipo de relacionamento raramente vai adiante; primeiro porquê o tempero é forte, industrializado e posteriormente enjoa; segundo, porquê o coração, assim como o organismo, necessita de outros complementos reais e sentimentos verdadeiros e duradouros, assim como o corpo, de vitaminas e outras substâncias para poder funcionar bem.
E não adianta comprar o “cup noodles” simplesmente porquê vêm com aqueles milhos e carnes desidratadas; você até se distrai com esses complementinhos no início, mas logo nota que a quantidade de macarrão é menor que o de pacotinho, ou seja, vai continuar com fome, mesmo após ter comido.
Já os relacionamentos “espaguetes mal feitos”, são aqueles cuja intenção é comer alguma coisa rápida, mas um pouco mais saborosa que a outra massa.
Até existe um processo de produção da comida. Só que na maioria das vezes, não era esse tipo de alimento que você desejava, porém você prepara, porquê não está muito disposto a ficar na frente da geladeira pensando o que fazer com tantas sobras. Durante o preparo da refeição você se distrai pensando no que realmente gostaria de comer, principalmente quando o cheiro vindo da cozinha do apartamento ao lado te entorpece mais do que o da sua própria. Você se encontra pensando no cheiro e acaba ou salgando o molho, ou cozinhando a massa demasiadamente.
Ao final do processo você até encara, faz cara feia, engole sem mastigar muito, mas come. No máximo, você joga aquilo tudo fora e liga para alguma tele-entrega dentre os milhões de ímãs colados na geladeira, tipo disk-sexo. Alguém aparece, te entrega o recipiente térmico e você come e descarta as sobras.
Você se satisfaz ali, naquele momento, abraça, beija e até diz eu te amo. Porém, a fome logo voltará e toda a história da preguiça culinária se repetirá de alguma forma, ou pelo menos até você cair na real de que um relacionamento de verdade é como uma refeição de verdade: começa na escolha dos pratos, na seleção dos ingredientes certos, dos acompanhamentos, no lento preparo de cada refeição, na limpeza da cozinha, na organização da mesa de jantar, na degustação da refeição lentamente, com cada coisa a seu tempo (entrada, prato principal, saída, sobremesa), na etiqueta e no comportamento, na conversa durante tudo isso, e principalmente, no desejo de ambos pela próxima refeição juntos.
Lembre-se: às vezes as refeições em casa são boas, mas que tal ir a algum restaurante comer alguma coisa diferente... outras pessoas talvez tenham a mesma idéia de sair para comer sozinhas, e nesse encontro poderá surgir alguma adequação, mistura ou releitura de velhas receitas conhecidas.

domingo, 5 de julho de 2009

O Fantástico Mundo de Bob na Caverna do Dragão

vilão_plebeu, por opos. a nobre. Homem desprezível, avarento, sórdido.
vítima_Pessoa ou animal que os Antigos ofereciam em sacrifício aos deuses. Pessoa que morre ou que sofre pela tirania ou injustiça de alguém. Pessoa que é sacrificada aos interesses de outrem.

Bem/mau, assassinos/assassinados, polícia/ladrão, yin/yang, arma/corpo, céu/inferno, certo/errado.
Vivemos em um mundo de dualidades. Dividimos a terra em norte/sul, desenvolvidos/subdesenvolvidos, civilizados/não-civilizados, ricos/pobres, brancos/negros, etc., por uma mesquinha necessidade de rotular tudo o que existe, classificando principalmente as pessoas com vistas a interesses subjetivos.
Estamos tão habituados a dividir tudo, que nem sequer percebemos o quanto estamos divididos em nossas próprias escolhas. Por exemplo, se você ama alguém e esse alguém te decepciona, subitamente você passa a odiar a pessoa. Aos poucos o amor volta a tomar o lugar do ódio e em determinado espaço de tempo você já está entorpecido novamente, mergulhando de cabeça na relação (quaisquer que sejam elas). O que estou tentando dizer é que amor e ódio não são como a “matéria”, ou seja, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Apesar de serem o contrário, amor e ódio caminham juntos.
O que a maioria das pessoas acredita é que, tal qual a matéria, se você ama e de alguma forma alguém despertar seu ódio, o amor sairá e posteriormente o ódio ocupará o lugar dele. Acredito que você pode amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo e não necessariamente ter que escolher entre um ou outro.
Durante os percursos pela vida (uns seguindo trilhas já deixadas por outros, alguns transitando por estradas pavimentadas, outros abrindo novas), chama atenção o fato de as pessoas, em todos os tipos de relação entre elas, sempre se encontrarem obrigadas a fazer uma escolha: vilão ou vítima.
De um lado, os atormentados, os sofridos, os injustiçados. Do outro, os assassinos, o monstros, os maus.
E é claro que a maioria dos mortais (talvez 99,99%) pegue o roteiro da peça e prefira assumir o papel da vítima. Normalmente são pessoas que precisam alcançar o ápice da felicidade sem muito esforço e sem gastar muito tempo. Vivem cada dia como um episódio de “Caverna do Dragão”, onde precisam desesperadamente voltar para casa, ou seja, vencer na vida, mas como sabem que não será simples, precisam justificar suas frustrações de não conseguirem mais uma vez passar pelo portal, transformando os que estão à sua volta em monstros variados, quando não escolhem alguém e o transformam em Vingador. Assim, vão passando pelos episódios sempre como os pobres jovens perdidos em uma dimensão maligna.
O que as pessoas não entenderam é que escolher o papel de vítima significa assumir uma incapacidade de batalha, na qual sem se expressar claramente (como sendo um personagem com apenas um tipo de poder e que não sabe utilizá-lo corretamente) você precisa dos outros para vencer o vilão.
Porém, você pretende vencê-lo utilizando a pior estratégia para conquistar ajuda alheia: o de ser um pobre coitado, digno de pena, ou seja, o resto desgraçado, destruído e derrotado como resultado do que fizeram contra você.
Então, como um atropelado caído no chão, você começa a chamar a atenção de todos que estão passando. Logo há uma multidão ao seu redor, alguns curiosos, outros com pena do seu estado lastimável, outros oferecendo ajuda, enquanto o motorista assassino é golpeado com olhares de indignação e fúria.
Você ri por dentro porque não faltarão testemunhas para falar a seu favor. O plano parece funcionar perfeitamente. Interpretação digna de Oscar.
Do lado de fora da roda, o vilão, enquanto ciente da situação, assume seu papel de “homicida”, ergue a cabeça e segue em direção à delegacia, sabendo que corre o risco de ser injustiçado, porém, sem medo de fazer sua própria justiça.
A vítima, algum tempo depois, já recuperada do acidente, vai então depor contra o criminoso. E cheia de confiança e testemunhas, deixa transparecer em seu olhar a satisfação em ver o vilão apodrecer atrás das grades.
Durante o julgamento a vítima usa todas as suas táticas. Joga baixo, trapaceia, e interpreta cada vez mais.
Fim da sessão as vítimas se sentem vitoriosas.
O que elas ainda não se deram conta é que essa foi apenas uma sessão, que os dados estão rolando e o julgamento não acabou.
Por mais que mintam e interpretem, ninguém é ator em tempo integral. As máscaras apodrecem com a ação do tempo e aos poucos se decompõe e deixam à mostra um rosto pálido, de aspecto cadavérico e monstruoso.
Quando você começa a perceber (erroneamente) que esse papel de coitadinho é mais cômodo e fácil do que o de vilão, você será atraído a isso como um vício. Você viciará em mentir e logo está vivendo em um “Fantástico Mundo de Bob” que às vezes é invadido por episódios de “Caverna do Dragão”.
Quem diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque terá de inventar 20 vezes mais para sustentar a certeza da primeira... [Alex Poper]

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mega-Sena x Amizade

Amizade_Afeição recíproca entre dois entes. Boas relações.
Tal como fizeram com o amor, os seres humanos mais uma vez conseguiram – após milênios de árduo esforço – destruir e banalizar o real sentido da amizade.
Palavrinha idiota hoje em dia. Designa qualquer afeto momentâneo, simples ou necessidade de suprir um sentimento de carência: amigos tapa-buracos, amigos-metade do todo, amigos-virtuais, amigos-isso, amigos-aquilo.
O mundo não está de cabeça para baixo, nós estamos! Estamos submersos em nossos mundinhos imperfeitos, numa busca incessante pela perfeição e felicidade plena, a todo e qualquer custo. Custe dinheiro, custe meu próprio tempo e o tempo alheio, custe destruir o que está a minha volta. Enfim, pessoas que querem o que elas acreditam serem os melhores verbos: ser, ter, poder, fazer.
Gente que se quer “Caixinha de Perfeição”. Eu sou, eu posso, eu faço, eu tenho.
Pobres mortais de carne e osso! Mortais que sangram, que sofrem, que como o resto dos mortais desse mundo, se entediam, se aborrecem, vão a festas ruins, conhecem pessoas chatas, mas que jamais admitem o lado enfadonho da vida porquê são o máximo em tempo integral!
A vida para eles é um bilhete premiado da Mega-Sena. Já ganharam diante dos outros! Mas ainda continuam marcando infinitos números em infinitas cartelas, só que em segredo. Talvez o jogo esteja mais para jogo do bicho do que loteria da caixa, já que apostam suas fichas nos “amigos-bichos” para tentar ganhar o GRANDE PRÊMIO.
E então começam a correr contra o próprio tempo. Vivem uma disputa consigo mesmos, divididos por suas duplas-personalidades: de um lado o “eu-humano” contido, reprimido, trancado dentro de uma alma em crise, e do outro o “super-eu” escancarado, gritando, alardeado.
E jogam, e perdem em segredo, e continuam jogando e continuam perdendo. E enquanto apostam em um bicho de cada vez e esses não são sorteados e o prêmio não é alcançado, descartam-no e apostam em outro. E passam a vida num “bingo”.
-GANHEI!!! Talvez um dia finalmente exclamem. - É hora de pegar o prêmio, desfrutar da vitória, ser enfim feliz após tanto tempo de batalha. EU SOU, EU POSSO, EU TENHO. Mais do que isso, cheguei aqui sozinho, com minhas próprias mãos!
Bom, o êxtase dura pouco tempo. O suficiente para que a pessoa se posicione o mais alto possível em relação aos outros. Quando você acha que ela já está bem alta, ainda há como subir mais um pouco... A vista panorâmica é linda, o outros parecem formigas lá do alto. A pessoa ri de orelha a orelha, e comemorando. Só que está tão alta que ninguém a vê. Ninguém nota que ela está ali em cima, vitoriosa.
Porquê não existe vitória prazerosa se não for compartilhada. Mas compartilhar com quem? Ela rasgou e jogou na lixeira todas as cartelas enumeradas que não serviram para que fosse “the winner”. A felicidade não é como uma conta bancária milionária que você adquire em um momento da vida e começa a gastá-la. Ela é absorvida a longo do caminho. Durante o percurso até o “banco”, fundamentada nas relações que fazemos pelo caminho, nas pequenas coisas que encontramos, e não no momento do saque no caixa eletrônico.
Os dígitos que outrora eram sua ponte para a felicidade, agora são apenas borrões de caneta em papéis mal-cheirosos despejados em algum aterro sanitário, revirados por alguém que vive do lixo.
Os bichos das cartelas, estão rabiscados, alguns até feridos pela força com que pressionou a caneta no momento em que se viu derrotada em mais um dia de bingo.
Já dizia Elis Rejane Busanello sobre o câncer: “(..)hoje, depois de encarar a doença, cheguei à conclusão de que o câncer mata muita coisa realmente, entre elas: preguiça, vergonha, solidão, futilidades, intolerância(...). “Até quando precisaremos dele para percebermos as belezas que existem em nós e à nossa volta? (...)

Hei, acordem! Quanto tempo mais viveremos sendo consumidos pelos piores tipos de câncer do século XXI: egoísmo, individualismo, ganância, materialismo... quantos mais precisarão perder uma vida inteira alimentando essas falsas felicidades, para ao final descobrir que elas realmente eram doenças assassinas.
Sempre há tempo de iniciar o tratamento, esses tipos de câncer têm cura...