segunda-feira, 18 de abril de 2011

E Por Falar Em Pormenores

Existem momentos em que é preciso fechar os olhos. É preciso deixar que o ar apenas flua naturalmente, contornando quinas de paredes e retornando às juntas e músculos, enquanto olfato e paladar mapeiam o espaço ao redor.
Existem momentos em que apenas ar não basta. É preciso que suas propriedades sejam manipuladas e somadas a outras circunstâncias experimentadas de um querer insaciável, suficiente em sua composição, insuficiente em quantidade.
Existem momentos em que todo deslocamento é longo demais. É preciso engessar as próprias pernas e nem levantar da cama, ouvindo ao longe o barulho do despertador marcando cada segundo, e o movimento lento dos ponteiros dos minutos e horas, marcando o compasso dos movimentos mentais.
Existem momentos em que as pessoas são apenas pessoas. É preciso não olhar para elas e não tentar entendê-las, nem dedicar qualquer esforço em prol de uma aproximação, mas antes de tudo, lutar por si mesmo, tentando acalmar o leão que ruge aí dentro.
Existem momentos onde escovar os dentes é uma tarefa árdua. É preciso grande esforço para executá-la, levando a mente a outros mundos, manipulando sonhos enquanto as mãos se esforçam para não incidir a escova contra a gengiva sensível.
Existem momentos perdidos. É preciso vontade de choro, vontade de morte, vontade de drama, apenas para que você se entenda no sentido de acolher suas imperfeitas vontades delirantes do absurdo.
Existem momentos que não existiram. É preciso coragem para torná-los realidade, pelo menos dentro de você, substituindo aquele bom intervalo de tempo por um intervalo de tempo talvez até menor, mas ainda sim bem melhor.
Existem momentos capazes de mudar uma vida inteira. É preciso entender que não dobram-se os joelhos a um momento, não obstante, dobram-se os joelhos para si mesmo, afim de se entregar à dor nas pernas pela caminhada morro à cima.
Existem momentos onde palavrões não exalam todo o ódio contido. É preciso gritar a dor da traição, o choro do desgosto, a dança do orgulho ferido.
Existem momentos em que treme-se o corpo inteiro. É preciso deixar que tremule, que sue frio, que as mãos gélidas alcancem o nada, para poder perceber a falta que faz ser mais coerente nas escolhas erradas.
Existem momentos onde ser feliz é mais uma coisa chata e sem sentido. É preciso abraçar a tristeza, pois ela que nos ajuda a movimentar rumo ao objetivo de sua não-existência, tentando entender que às vezes é melhor pedalar numa bicicleta ergométrica que em uma bicicleta comum.
Existem momentos onde o calendário pendurado na parede apenas te informa os dias que passam indo e vindo. É preciso deixar que passem, é preciso que passemos despercebidos pela vida, tal qual os dias, visto que em certos momentos, precisamos realmente não existir.
Existem momentos onde é necessário ser um assassino mental. É preciso matar aqueles pensamentos de matar alguém, pois temos que entender que é graças àquilo que nos fizeram que pudemos evoluir para jamais nos tornarmos o que aquela pessoa é.
Existem momentos onde toda música é barulho e todo barulho, um ruído insuportável. É preciso que haja qualquer coisa que não seja nem barulho e nem silêncio, talvez uma voz que fale algo que faça o mínimo de sentido quando não enxergamos sentido em nada, talvez algo que não seja sonoro.
Existem momentos que se desdobram em outros momentos, e que de tão ramificados e entremeados uns aos outros, confundem a mente e causam uma perda do corpo no tempo. É preciso que se perca no labirinto das lembranças ou nos becos e ruelas do pensamento, pois temos que entender que é somente na angústia da solidão que encontramos a alegria da própria companhia.

domingo, 10 de abril de 2011

A Barbárie Sem Barbie

Corte: Residência de um soberano. Gente, que rodeia habitualmente o soberano.
Povoação, em que este reside. O Governo de um paí­s, em relação aos de outros paí­ses: a corte de Madrid dirigiu uma reclamação à Itália. Pessoas, que rodeiam habitualmente outra, lisonjeando-a e procurando agradar-lhe. Edifício, onde está o parlamento.

Estava postergando falar sobre esse assunto há bastante tempo, mas sinto que mais do que nunca é preciso dissertar sobre este evento em que decoradores acham-se arquitetos e arquitetos atuam como decoradores – sem, em hipótese alguma menosprezar quaisquer das duas profissões, porém não queiram por favor dizer que ali é onde a arquitetura acontece, porque móveis dispostos não resumem essa profissão, apenas soma-se às milhares de outras atribuições dessa profissão.
É preciso ressaltar antes de tudo, que a Casa “Corte” é ao que parece, um evento meio Casas Bahia de Luxo, ou seja, por ser o maior das Américas e o segundo maior do mundo, sobrevive muito mais dos números expressivos e do marketing em si, do que da originalidade de seus produtos.
Quase como uma loja de móveis itinerante que em datas determinadas acontece em diversos lugares, e cujos produtos pouco divergem de região para região, esse evento é almejado por muitos arquitetos – o que seria cômico se não fosse trágico -, onde, junto com outros profissionais, delimitam seus “cômodos”, e se divertem como se estivessem de posso de um dos mais famosos produtos da Mattel: a desejada boneca Barbie.
Então, de posse desse personagem antenado com as tendências mercadológicas de consumo, recriam seu mundinho de fantasia cor de rosa – aqui, nos tons pastéis e terrosos -, acentuando para as crianças pobres que, se algum dia comprarem – se tornarem - a boneca, jamais terão seus acessórios. E o castelinho temático decorado então, muito menos.
E como um brinquedo desse cacife precisa de todo o aparato para ostentar sua vida modernosa, a Barbie em suas últimas edições controla sua casa por meio do iPad N, aplica formol nos pimentões para que fiquem eternamente lindos na bancada da cozinha, dirige um Fiat 500 estacionado em sua garagem com TVs de LED que transmitem coisas relacionadas a carros, das quais ela não entende bulhufas. Mas o mais legal é quando ela vai ao banheiro, pois sentadinha no vazo assistindo TV, conversa com o Ken deitado na cama, olhando pra “TeVer” em seu mais íntimo momento, já que o rasgo na parede e as divisórias de vidro te convidam a esse tipo de interação.
Não menosprezo em hipótese alguma o trabalho que deve ser escolher um Buda bem diferente para que não o encontremos em mais de um ambiente, como por exemplo encontramos os sofás pretos de couro, ou as poltronas diferentes do restante da sala. E também não estou falando daquele espelhão com moldura bordada, dourada, escorado na parede, nem dos livros de moda, arquitetura, viagens e vinhos que todas as pessoas do mundo sem exceção - seja na sala, no quarto ou no escritório - lêem.
A Barbie é americana, e para não perder suas raízes em qualquer parte das Américas que seu mundinho itinerante percorrer, faz questão de que nunca falte um quadro da Broadway, de NY, um croqui das Campbe’ll Soup, ou consagradas miniaturas dos pontos turísticos de suas últimas viagens ao país de origem.
Ao final elege-se a Rainha do Travertino Romano Bruto, o Rei da Lareira com Projeções de Fogo, e então reinam durante o evento, ostentados por súditos da mídia impressa, e seguidos por sua Corte nesse império do consumo do design para as pseudo-Barbies de carne e osso.
Elas, com seus espaços “vitrinizados”, nomeados com as várias atividades que a boneca exerce em sua vida múltipla, ressaltando sua realeza e nobreza, vêem converter o aglomerado de parcerias com os patrocinadores - materializados em “móveis e papéis de parede”-, em um catálogo de fotografias sem vida, vendido para que você possa também montar sua casinha de bonecas no estilo compre-você-mesmo.
Vai edição, vem edição e eu continuo pensando: “fazer arquitetura não é, definitivamente, fazer mostra de mobiliário”.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Perda de Massa Cinzenta, Uma Realidade Contemporânea

Anorexia Cerebral: é o comportamento persistente de uma pessoa em manter sua massa cinzenta abaixo dos níveis esperados para sua idade ou meio social em que vive, juntamente a uma percepção distorcida quanto ao seu próprio eu, que leva o indivíduo a enxergar-se como inteligente.
A pesar das pessoas ao redor notarem que o anorexico possui um   Q.I. questionável, que está muito fora de uma realidade cerebral aceitável, este nega sua falta de conhecimentos ou cultura e insiste na perda de neurônios.
A pessoa que desenvolve essa doença costuma utilizar meios muito difundidos para acelerar seu processo de “emburrecimento”: além de submeter-se a exercícios físicos intensos, despende grandes preocupações com a beleza e está em constante “pose para foto”. Possui um gosto musical duvidoso, acompanha as piores séries de TV, ama filmes dublados – preferencialmente os que possuam muito mais derrapadas que falas -, e vivem sob uma forte influência de festas de temporada.

Como é o paciente: o indivíduo anorexico é caracterizado fundamentalmente por suas escolhas. São elas que definem os níveis de emagrecimento do cérebro e empobrecimento de sua capacidade de raciocínio, que pode levar inclusive a uma mudança de círculo social, visto que este não conseguirá sequer manter um diálogo sensato com os demais. Dessa maneira, encontram-se aglomerados em grupos de 5 a 8, apertados em um carro qualquer, com um som ligado no máximo volume, o que faz com que fiquem impedidos de conversar e não precisem se preocupar em entender o que está além do volante e da lata de cerveja. Porém o número de indivíduos cresce conforme o local para onde vão.
Em geral os anoréxicos cerebrais não consideram seu comportamento distorcido, e se recusam a freqüentar ambientes ou enveredar-se por situações que exijam o mínimo de entendimento.
Como não se consideram “burros”, são capazes de falar desembaraçadamente, e convictamente para amigos, familiares e colegas de trabalho. Na maior parte do tempo em que entra algum assunto complexo e capaz de gerar horas de discussão sem conclusão, se o indivíduo estiver a fim de se mostrar caso note uma insuficiência em sua aparência no que tange chamar a atenção, ele provavelmente discutirá de forma mais incisiva que os demais, desembolando uma asneira atrás da outra, direcionando sua fala, até sair completamente do tema e desembocar em algo bobo e sem sentido.

A doença: não há uma idade média onde surjam sintomas de perda de identidade ou personalidade. Muitas vezes esse distúrbio começa por um uso excessivo de programas de domingo da TV aberta, rádios populares, etc. Talvez seja mais fácil entender a doença se você notar que a pessoa não possui algum livro, não sabe sequer o que quer dizer Usina Nuclear de Fukushima – de assuntos atuais -, desenvolve piadinhas idiotas ao invés de desenvolver o raciocínio em assuntos bacanas, não entende nada de política, religião, geografia, ou o mínimo entendimento de um pouco de cada coisa, pelo menos para saber discutir contra.

Tratamento: indicado apenas quando o indivíduo toma consciência de si mesmo e consegue entender o nível de magreza em que seu cérebro se encontra. A partir daí, precisará contar com a força de vontade para não freqüentar certos lugares, conversar com certas pessoas e ouvir certos tipos de música.
Por enquanto não há uma técnica especialmente eficaz. Forçar a alimentação cultural não deve ser feito de forma rotineira. Só quando o nível de desnutrição é ameaçador.
Talvez seja bom algumas doses de anti-depressivos em intervalos irregulares, como presenteá-lo com um bom CD, livro, ingresso para algum show, ou mesmo um café com poucas pessoas para trivialidades.

Como evitar a doença: pratique a frase "Para alcançar conhecimento, adicione coisas todo dia. Para alcançar sabedoria, elimine coisas todo o dia." Lao Tse