quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Oposto do Post



Agora é sempre assim: os caracteres e o caráter, ou, diga-me o que escreves que te direi quem és. No mundo das palavras postadas, você está em constante sentir, pelo menos na teoria das pessoas que te lêem, porque na teoria de quem escreve, nas associações livres de idéias, cada linha tem sua função, nem sempre tão profunda como seu significado explícito. Sinta-se à vontade para postar, poste à vontade quando sentir.
Nos posts estão as novas regras ortográficas, ou melhor dizendo, regras “abreviográficas”, que, tal qual “o que você está pensando nesse momento”, em certos deles, transbordam do vidro para a vida, exercendo uma virtualização da realidade. Quer dizer que você pode ser “vc”, mas pleno em paz interior de que as pessoas sempre tentarão entender aquilo que é escrito.
O legal de “ser um post” é que você aprende a diferenciar quem realmente se importa com sua saúde mental e quem se importa em saber dos próximos capítulos, pois a vida passa a ser uma novela narrada – para aqueles que preferem interpretar tudo que você escreve como sendo realmente lá do fundo da alma.
Mas é claro que quem publica sabe que está indo a público por inteiro, naquele espaço de poucos caracteres. E esse é exatamente o sentido da postagem, informar à rede de carinhas fotografadas ao seu redor que “começou a chover em BH”, “acabei de comer uma massa com vinho branco seco”, e “não estou mais em um relacionamento sério”. Posto isso, ou postado isso no mural da sua vida, seus relacionamentos curtem, e comentam, e marcam e cutucam sua postagem e você, e marcam você e cutucam sua vida. E te chamam no MSN ou ligam para perguntar se está tudo bem, se você realmente vai praquela festa no sábado ou se já estamos sabendo que o fulano de tal sofreu um acidente de carro.
Postar é o verbo contemporâneo. Eu posto, tu postas, ele posta, nós postamos. Eu leio, tu lês eles lêem. Postar e postar, prostrar e postar! Postar o corpo, prostrar a mente e o contrário também acontece. Postar com o corpo em movimento, mas prostra-se nas relações com o mundo externo. Postar com o corpo prostrado, mas com o movimento dos pensamentos.
Sentimentos também se prostram, principalmente se saem do poço da alma para o post do mural e lá se eternizam como bytes de espaço na memória do servidor da empresa que se dispôs a expor suas parafernálias em palavras. Logo, entende-se que o que você sente e pensa é tão valioso para o mundo quanto para você mesmo, senão não haveria tanto espaço para empilhar o que você tira do seu espaço.
A escrita pode ser tudo, como pode também ser o nada. Pode ser essa tal exposição de idéias sem uma relação profunda com o que você pensa como pode ser o gozo de alívio. Ali é onde o bom pode ser bom e o ruim, ruim, como o bom pode ser ruim e o ruim muito bom, dependendo da proposta de quem posta.
Um texto é a gargalhada quando quem aprecia a escrita quer rir para o mundo. Como também é um choro quando seu autor não está bem. As letras são as lágrimas e as palavras os murmúrios. O backspace é o lenço umedecido que quando pressionado limpam as gotículas, uma a uma, para que novas sejam derramadas nessa eterna escrita da alma.
Sem limite de caracteres, o corpo posta o que a alma sente e posta também o que a mente pensa.
Publicar é gritar para o mundo sem querer uma resposta, como também é sussurrar alguns segredos sem que se espere juízo de valor. Nem sempre uma lamúria necessita de uma palavra de conforto, pois o conforto está em tirar de si toda aquela angústia e jogar no mural. Publicar é “lol” bem alto para que a alegria não fique aprisionada em você, pois ela é livre pra circular por aí como uma corrente que rebate no mural do seu amigo e retorna como um “like”.
Então não se importe com um post, nem tente ser um poste, pois nos caracteres da vida, os limites somos nós que colocamos. E deixe que te comentem, porque uma vida sem comentários é uma publicação não lida. E se ninguém leu, é porque sua rede social anda muito privada. Se é pra ser privada, não da pra ser social. Poste isso!