sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Recicle-se

Texto publicado no Jornal Vale do Aço em 18/12/2009 no link:
http://www.jvaonline.com.br/novo_site/jornal/47/swf/OtU183-ASEXT.swf


Entre as muitas idas e vindas, em meio às infinitas rotações ou voltas da vida - junto ao movimento rotatório da Terra - sempre nos esbarramos com a sensação de imutabilidade. Sensação de que não acontecem mudanças em nossas vidas a um bom tempo. Mudanças necessárias para que a vontade de viver se renove em pequenos intervalos, tal qual a alegria pelo novo somada à ansiedade frente ao desconhecido.
E talvez seja a rotina casa-trabalho, casa-faculdade, ou casa-trabalho-faculdade, etc. que nos coloque nesse entendimento de órbita, ou seja, nessa rotina previsível de certezas cristalizadas.
Vivendo nesse marasmo cotidiano, ou por mais movimentado que seja nosso dia, ainda sim todas as ações estão pré-estabelecidas por uma necessidade subjetiva individual ou coletiva, ou pelo próprio desenvolvimento automatizado dos gestos, em função dessas necessidades.
Mesmo que os finais de semana sejam fartos de atividades diurnas ou noturnas, não há realmente nenhuma novidade, visto que sair da rotina virou rotina. A sensação de “congelamento” da vida é tamanha, que não conseguimos sequer movimentarmo-nos para quaisquer mudanças. Sentimo-nos “engessados” e presos em nossa capacidade física e, procuramos em nossa mente, justificativas para nosso estado atual, numa compensação involuntária de todo um caos interior - porém contido, que estamos vivendo - prestes a explodir a qualquer momento, numa espécie de “Big Bang”.
Não é que não tenhamos vontade de mudar, mas simplesmente nos entregamos à mesmice por comodismo/medo de movimentar, mudando pensamentos, valores, vontades e substituindo velhos hábitos e crenças por novas atitudes sensatas de situações avaliadas com cautela.
Mas entender a mudança apenas no sentido amplo, de uma reviravolta mais ou menos do tipo ganhar na loteria, é ignorar as sutilezas que a vida apresenta. São pequenas modificações diárias que após um período de tempo mais longo provocam resultados de proporções realmente significativas.
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E a ação de furar por de ser entendida aqui como capaz de gerar uma piscina natural de água mineral e límpida - onde há milhões de anos havia apenas uma rocha - e que virou um parque, freqüentado por muitos turistas, e graças a toda essa mudança sutil da natureza somada à ação humana, agora emprega várias pessoas que antes não tinham uma renda fixa: o guia local que outrora vivia da pesca e do plantio, sua esposa que só ficava em casa e hoje vende seu artesanato na loja do parque, etc.
Mudanças radicais nem sempre são as melhores alternativas, primeiro porque podemos não estar preparados para o impacto do totalmente novo, e segundo porque, mesmo necessitando de grandes movimentações, dentro de cada um existem aspectos que podem ser reaproveitados nesse novo estado do ser - e não podem ser descartados como obsoletos ou ruins - mas atribuindo novos significados/usos, nada se perde, tudo se renova.
Vamos aproveitar esses últimas dias de 2009 para colocar no papel tudo aquilo que queremos mudar, re-trabalhar ou reorganizar em nós e em nossas vidas. Encontrar dentro do mais íntimo, a força que sempre tivemos e que abdicamos em algum momento, mas que, durante esse tempo em que esteve adormecida, despertará com um acúmulo de energia capaz de impulsionar outra vez nossas turbinas - de energia eólica, claro -, se estamos trabalhando a mudança, vamos mudar para melhor, para aquilo que cause o menor impacto negativo possível.
E aproveitando esses tempos de Conferência de Copenhague, onde os países se unem para salvar o planeta, além de dar nossa contribuição fazendo o máximo possível pelo meio ambiente, vamos fazer o mesmo conosco, por isso, RECICLE-SE.
Bons Fluídos em 2010!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Metade da Cara

Texto publicado no Jornal Vale do Aço em 04-12-2009 no link:

http://www.jvaonline.com.br/novo_site/jornal/35/swf/cJrbq3-ASEXT.swf

“Metade” tem sido uma palavra de destaque no universo dos relacionamentos há muito tempo:
-Esse namoro só dá dando certo porque eu sou a metade racional dessa história, já que você
é a metade infantil.
-Você roubou metade do meu coração!
-Preciso encontrar minha metade da laranja!
-Estou dividido entre meus amigos e meu relacionamento.
Essa palavra também é abordada no campo da escrita; o texto “Metade” de Osvaldo Montenegro diz em alguns trechos: (...) “Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...” (...) “Porque metade de mim é o que
ouço, mas a outra metade é o que calo...”.Na música “Metade” da Wanessa Camargo, diz o refrão: (...)“Metade de mim te ama e te adora, outra metade de mim precisa ir embora...”
Já no refrão da música “Metade”, da Ana Carolina, diz: (...)”Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio, onde será que você está agora?”
Se tomarmos as histórias sobre seres humanos divididos que procuram sua outra parte, ou seja, que estamos pela metade e precisamos da outra para ser completo, poderemos entender que os trechos acima falam do resultado da junção dessas duas partes – dois tornaram-se um -, porém apresentando as especificidades de cada uma das metades que, mesmo estando juntas, são perceptíveis, mas necessárias para o sucesso do relacionamento: uma metade é comunicativa, a outra calada, contida; uma metade vive a euforia do amor, a outra se vê mais distante, não tão envolvida; metade está sofrendo interiormente, calada, e a outra não consegue ver esse sofrimento. Sempre uma metade é diferente da outra e, algumas vezes o total oposto, ou seja, elas não são iguais em nenhum momento, exceto pelo fato de serem metades.
Segundo estudos científicos, se dividirmos um rosto em duas partes, e juntarmos dois lados esquerdos e dois lados direitos, veremos que se formam dois rostos com pouca ou nenhuma semelhança entre si, isto é, um lado é diferente do outro e é isso que dá harmonia à fisionomia.
Pensando nessa diferença física necessária e somando-a a expressão “cara-metade”, entenderemos que estamos há séculos procurando pela pessoa errada.
Entenda: se em um rosto – vulgo cara – um lado é diferente do outro, ou seja, cada metade é única, com características um pouco diferentes ou com essas diferenças mais acentuadas, o fato de procurarmos uma cara-metade que seja nossa alma gêmea - que segundo o dicionário significa igual - de forma mais teórica estamos prestes a construir uma relação que dificilmente dará certo. Sabendo que a necessidade da diferença entre os lados da nossa cara é que a torna um todo interessante, o correto então é procurar a nossa cara-metade sendo um pouco o oposto de nós mesmos.
A partir do entendimento dessa perspectiva da diferença enquanto fator fundamental para a plenitude de uma relação a dois, estaremos prontos para enveredar pelo mundo, na busca da metade perdida.
E não, os dois não precisam gostar do mesmo gênero de filme, dos mesmos estilos musicais, das mesmas cores da pintura da parede do quarto dos filhos, do mesmo partido político ou time de futebol para terem uma final feliz. É melhor que um prefira praia e outro a montanha, que um goste de teatro e o outro de show, um prefira pizza portuguesa e o outro nem goste tanto de pizza, pois assim terão sempre uma novidade para fazerem juntos, experimentando um pouco do mundinho um do outro, já que tornando-se um, ambos precisam compartilhar e participar de tudo que agora envolve cada parte.
E vamos procurar a metade torta e diferente mesmo, e esquecer essa coisa toda de “alma gêmea”. Vivam as diferenças e que possamos enxergar nelas uma oportunidade de experimentar o novo que sequer imaginamos