Todo mundo, pelo menos uma vez por ano deveria fazer um momento “Good Times”, no estilo daqueles programas de rádio, com o slogan clichê “o que ontem foi sucesso, hoje uma saudade” rs. Mas não me refiro a reviver músicas apenas, me refiro a reviver tudo aquilo que foi sucesso em algum momento da sua vida.
Não precisa ser no final do ano, ou no início para simbolizar aquelas “faxinas” de virada. Elas geralmente te fazem consumir um monte de inutilidades presentes que se tornarão necessárias num futuro que nunca chega, ou melhor, chega apenas quando as tais coisas já foram levadas pelo caminhão do lixo. Mas enfim, precisa ser uma “faxina” que não tem por objetivo eliminar nada, ao contrário, o objetivo é achar aquele monte de coisas que irão despertar sua memória e fazer reviver aqueles espaços de tempo museificados em objetos variados, mais ou menos conhecidos como tranqueiras. São os famosos ocupa-espaço.
Claro que esse flash back de memórias sempre acontece com a gente, num intervalo entre a correria do dia a dia e a procura incessante por aquele papel super importante. Aquele que você jura que outro dia colocou na caixa que fica dentro do seu buraco-negro-roupas – um guarda-roupas que atrai tudo para o seu interior e consome com a força sei lá do que.
Mas a idéia é tirar um dia inteiro para fazer isso. Domingo é sempre um ótimo dia para esse “reviver alegrias de outrora”. Basta ter disposição para revirar caixas, sacolas, pacotes, e claro, o guarda-roupas. E a partir daí começam as surpresas: extratos bancários que antes pareciam apenas comprovantes quaisquer, tornam-se agora uma boa gargalhada quando você se depara com o saldo negativo de quase um ano atrás por causa daquela pilha de gastos que você fez com seu cartão de crédito num daqueles momentos inconseqüentes do tipo adolescentes em crise consumista.
Tem também os post its cheios de anotações, desenhos, sujeira de quando você estava anotando algo e a caneta falhou, você começou a riscar com a azul, passou pra vermelha, rabiscou com a preta até quase rasgar o papel de tanto colocar força, e acabou anotando com um marca-texto verde fluo o telefone de alguém que você estava muito afim.
Preso naquela greta, entre uma prateleira e outra, pendia uma das pontas de um guardanapo meio amarelado, guardando uma cantada que recebeu naquela noite que você saiu para beber como quem não queria nada da vida, não se sentia muito bem, mas foi surpreendido com um: -“oi, estou na mesa 4, de vermelho, posso te conhecer?”.
E não é só de papel que vivem as memórias, você encontra um pingente, o parafuso do controle remoto que você perdeu quando estava abrindo para limpar, o gloss da amiga que você usou na noite em que perdeu o seu preferido, comprimidos para ressaca.
Clipes para papel são os mais comuns. Eu acredito que eles se reproduzem como qualquer ser vivo. Repare como é incrível, você às vezes precisa de dois e acha apenas um. Então, nesses momentos de revirar coisas você descobre um aqui, outro ali, e quando assusta, naquela caixinha mais ou menos do tamanho de uma caixa de anel de joalheria, um ninho, com uma família inteira. Tem azul, vermelho, prata, grande, pequeno, enferrujado, descascado, torto. Cada qual com suas peculiaridades. Mas é claro que esse ninho vai sumir rapidinho, é só você virar as costas que os danadinhos carregam a casinha deles de volta para algum lugar do seu guarda-roupas-negro.
Acredito que seja realmente bom fazer esses flash backs de memória. Ativar as alegrias perdidas no tempo, ou angústias que alguns objetos trazem à tona, outros te mostram um passado já distante, que poderia converter-se em um presente tão bom ou melhor. Vale ter as esperanças renovadas com aquele e-mail que você fez questão de imprimir para ler e reler à noite, deitado na cama, matutando se a pessoa está pensando em você também. Vale ter raiva e amassar tudo e jogar fora, e depois de passar horas e horas mergulhado nessa máquina do tempo, vale guardar tudo, ou melhor, perder tudo novamente para em outro momento encontrar e re-reviver como se fosse a primeira vez.