segunda-feira, 22 de março de 2010

Good Times Museificados em Tranqueiras

Todo mundo, pelo menos uma vez por ano deveria fazer um momento “Good Times”, no estilo daqueles programas de rádio, com o slogan clichê “o que ontem foi sucesso, hoje uma saudade” rs. Mas não me refiro a reviver músicas apenas, me refiro a reviver tudo aquilo que foi sucesso em algum momento da sua vida.

Não precisa ser no final do ano, ou no início para simbolizar aquelas “faxinas” de virada. Elas geralmente te fazem consumir um monte de inutilidades presentes que se tornarão necessárias num futuro que nunca chega, ou melhor, chega apenas quando as tais coisas já foram levadas pelo caminhão do lixo. Mas enfim, precisa ser uma “faxina” que não tem por objetivo eliminar nada, ao contrário, o objetivo é achar aquele monte de coisas que irão despertar sua memória e fazer reviver aqueles espaços de tempo museificados em objetos variados, mais ou menos conhecidos como tranqueiras. São os famosos ocupa-espaço.

Claro que esse flash back de memórias sempre acontece com a gente, num intervalo entre a correria do dia a dia e a procura incessante por aquele papel super importante. Aquele que você jura que outro dia colocou na caixa que fica dentro do seu buraco-negro-roupas – um guarda-roupas que atrai tudo para o seu interior e consome com a força sei lá do que.

Mas a idéia é tirar um dia inteiro para fazer isso. Domingo é sempre um ótimo dia para esse “reviver alegrias de outrora”. Basta ter disposição para revirar caixas, sacolas, pacotes, e claro, o guarda-roupas. E a partir daí começam as surpresas: extratos bancários que antes pareciam apenas comprovantes quaisquer, tornam-se agora uma boa gargalhada quando você se depara com o saldo negativo de quase um ano atrás por causa daquela pilha de gastos que você fez com seu cartão de crédito num daqueles momentos inconseqüentes do tipo adolescentes em crise consumista.

Tem também os post its cheios de anotações, desenhos, sujeira de quando você estava anotando algo e a caneta falhou, você começou a riscar com a azul, passou pra vermelha, rabiscou com a preta até quase rasgar o papel de tanto colocar força, e acabou anotando com um marca-texto verde fluo o telefone de alguém que você estava muito afim.

Preso naquela greta, entre uma prateleira e outra, pendia uma das pontas de um guardanapo meio amarelado, guardando uma cantada que recebeu naquela noite que você saiu para beber como quem não queria nada da vida, não se sentia muito bem, mas foi surpreendido com um: -“oi, estou na mesa 4, de vermelho, posso te conhecer?”.

E não é só de papel que vivem as memórias, você encontra um pingente, o parafuso do controle remoto que você perdeu quando estava abrindo para limpar, o gloss da amiga que você usou na noite em que perdeu o seu preferido, comprimidos para ressaca.

Clipes para papel são os mais comuns. Eu acredito que eles se reproduzem como qualquer ser vivo. Repare como é incrível, você às vezes precisa de dois e acha apenas um. Então, nesses momentos de revirar coisas você descobre um aqui, outro ali, e quando assusta, naquela caixinha mais ou menos do tamanho de uma caixa de anel de joalheria, um ninho, com uma família inteira. Tem azul, vermelho, prata, grande, pequeno, enferrujado, descascado, torto. Cada qual com suas peculiaridades. Mas é claro que esse ninho vai sumir rapidinho, é só você virar as costas que os danadinhos carregam a casinha deles de volta para algum lugar do seu guarda-roupas-negro.

Acredito que seja realmente bom fazer esses flash backs de memória. Ativar as alegrias perdidas no tempo, ou angústias que alguns objetos trazem à tona, outros te mostram um passado já distante, que poderia converter-se em um presente tão bom ou melhor. Vale ter as esperanças renovadas com aquele e-mail que você fez questão de imprimir para ler e reler à noite, deitado na cama, matutando se a pessoa está pensando em você também. Vale ter raiva e amassar tudo e jogar fora, e depois de passar horas e horas mergulhado nessa máquina do tempo, vale guardar tudo, ou melhor, perder tudo novamente para em outro momento encontrar e re-reviver como se fosse a primeira vez.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Por dentro do Cubo

Vamos imaginar que vivemos em um cubo negro, ao qual estamos cercados pela ausência de luz que possibilite a visibilidade do que há ao redor. Sabemos apenas que estamos inseridos nesse cubo, mas não sabemos suas proporções.

Nesse cubo, estamos solitários, apenas munidos de nossos próprios questionamentos acerca de tudo: do cubo, de nós mesmos, do porque estarmos nesse cubo, etc., etc.

Você consegue ver-se no meio da “escuridão cúbica”, não como em um espelho, apenas consegue ver aquilo que seus olhos vêem habitualmente, ou seja, partes do seu próprio corpo.

Toda vez que fecha os olhos, sua mente visualiza uma luz branca e forte, ela tem um brilho oscilante que parecer vir em sua direção. Você abre os olhos e ela some, deixando-o outra vez no vazio negro do cubo.

O que fazer?

Você não sabe o porquê de muita coisa, a maioria delas estão sem respostas, o que te leva a ficar ali parado pensando em como reagir diante do nada, pois não vê sentido em fazer qualquer coisa num lugar onde não encontrou significado para sua existência nesse lugar.

Confuso? Talvez... É um cubo, ou seja, tem um fim, qualquer dos quatro lados indicarão um fim palpável, incerto numa localização temporal ou métrica, ou seja, você não sabe quando irá encontrar o fim, mas é certo que ele exista. Logo, essa informação já te tira um pouco de vazio e aquela luz começa a piscar ao longe, agora fora da mente.

Sabendo que o cubo é formado por seis lados, você consegue entender que está apoiando-se em algo, você tem um chão, algo firme por onde caminhar. Mesmo sabendo que esse chão pode apresentar fendas, buracos, falhas – o que por hora não passam de hipóteses -, você ainda sim sabe que é um chão, e que indiscutivelmente conduzirá a quatro dos seis lados do cubo. Isso desvenda mais um mistério: você tem um fim e um caminho que te conduzirá a ele.

Ainda não se sabe o porquê de andar, mas sabe que melhor do que ficar parado especulando possibilidades, seria viver e experienciar o desconhecido para achar fundamento nas idéias malucas que você sempre desenha na mente. Isso aumenta um pouco mais o ponto de luz, não ilumina o caminho de forma que tudo fique nítido, mas abre uma possibilidade de esperança naquilo que você acha que pode ser uma verdade nesse vazio todo.

Você ainda se vê diante do maior porquê de todos: o que é que estou fazendo aqui? Mas, sua pergunta não foi e talvez jamais seja respondida, então só lhe restam duas opções: ou transitar pela escuridão cúbica em busca de respostas e/ou em busca de apenas viver as experiências que esse espaço/tempo pode te proporcionar, ou pode simplesmente ficar parado.

Porém, se você escolhe desbravar o negro denso que está ao redor, é possível que o pequeno ponto de luz ao longe, vá aos poucos, tornando-se maior. Não podemos dizer que ele ficará grande o suficiente para tornar nítido todo o espaço, mas sabe-se que quanto mais você caminha, mais ele cresce, então, melhor seguir sem parar para que a visibilidade aumente.

Acredito que esse cubo de proporções desconhecidas se adéqüe a uma das duas escolhas acima e assume proporções imagináveis. Por exemplo, alguém que escolha ficar parado, o cubo provavelmente toma as proporções apenas do lugar onde a pessoa se encontra, visto que ela não se estende para o vazio, é como se estivesse presa numa caixa escura, da qual jamais se imagina sair. Aquele porém que sai andando pela imensidão, este não consegue tocar as paredes do cubo com facilidade, e nem sequer consegue medir suas proporções, pois quanto mais caminha, mais tem para caminhar. E se já caminhou muito, significa que o fim pode estar próximo. Mas como é impossível ter a noção exata de localização de quaisquer das paredes que cercam esse cubo, então o fim é sempre uma hipótese de alguém que sente medo do desconhecido, mas não se deixa paralisar por ele. Esse mesmo alguém, movido por uma vontade de descobrir o desconhecido, apenas vive, ao invés de ficar parado por não saber o sentido de viver.

Estamos dentro do cubo, eis a vida!

domingo, 7 de março de 2010

As Hienas Sempre Voltam

É comum que todo mundo que esteja em um relacionamento se sinta inseguro, amedrontado, com milhares de perguntas que envolvam o passado antes de você chegar, o presente ao qual se faz parte e o futuro que não se tem certeza sobre nenhum dos dois – se será um novo passado que se repete, ou o presente que se firmará.

São questões que vamos construindo em nossas mentes, hora com situações que nos favoreçam, hora com fatos que nos causam dor de cabeça, quase como num teste de auto-defesa, onde precisamos desesperadamente criar anticorpos para situações que nunca existiram – e talvez nem existam -, mas que se um dia acontecerem, acreditamos estar preparados para todas as formas de reação frente ao fato.

Essa necessidade de estar sempre “armado” ou “preparado” para a guerra é que faz com que nos identifiquemos com um documentário do Animal Planet, no capítulo intitulado “A caça dos Leões”.

Pense que entrar em um relacionamento significa antes de mais nada, ir à caça da presa ideal para o nosso apetite, para saciar nossa fome de companhia, de carinho, de sexo, de amor, etc.

O leão no meio de uma grande manada de guinus, escolhe aquele que mais o apetece, e a partir dessa escolha passa a rodear a presa, primeiro à distância, e depois, aos poucos vai se aproximando até dar o “ataque” final. Aquele momento em que, no caso de nós humanos, intitula-se como o momento em que a pessoa é capturada e aceita a proposta de namorar.

Durante todo o tempto em que o leão se mantém na degustação da presa, ele é tomado por um medo de ameaça. É esse medo de um inimigo à altura, leões que já vislumbraram essa presa em noutro momento, essa necessidade de defender aquele território demarcando-o, que faz o leão rugir, levantar, preparar-se para a batalha.

E por dias a fio ele fica ali, deitado, ao lado da presa, alerta para que nada aconteça a ela. O rei da savana africana é cercado de súditos que querem derrubá-lo do trono, ou pelo menos deliciar-se com a refeição real.

E mesmo que ele mostre as garras, ande ao redor da presa tentando cercá-la por todos os lados, evitando da maneira como pode essa aproximação alheia, chega o momento em que ele cansa, em que ele precisa deitar e dormir. Suas forças se foram, e toda a voracidade com que estava ha um tempo atrás converteu-se em uma fadiga latente.

Ele se entrega ao cansaço, deixa a posição de rei, de fortaleza para a proteção da sua presa, e dorme. E é no momento do sono que as hienas chegam.

Com sua característica gargalhada de desdém, sua aparência bizarra, odor de bicho traiçoeiro, que vive para roubar aquilo que outros animais se esforçaram para conseguir, elas são incapazes de caçar, não conseguem nada por si mesmas e só sobrevivem dos restos da caça de outros animais.

Às vezes, com um pouco de sorte, enquanto o leão dorme e as hienas se aproximam, aproximam-se vindo dos céus, os abutres. E enquanto abutres e hienas se enfrentam na disputa pela presa ali próxima, o leão, usando da pouca força que ainda lhe resta, consegue lentamente, arrastar dali aquilo que tanto lutou para conseguir. Mas sabe, que onde quer que vá, terá sempre que ser astuto, pois mais cedo ou mais tarde as hienas sempre voltam.