sábado, 31 de dezembro de 2011

2000 & 12



Vem, vem 2012, vem correndo bem rápido! Eu corro ao seu encontro, mas não preciso de um abraço, preciso de um choque, uma “trombada”, quero quebrar mais a cara para poder entender que preciso pisar com mais cuidado agora, do que foi no ano passado.
2012 venha ser original, nada de copiar 2011: sem chatices demais, sem feriados em finais de semana, sem aquele monte de desastres, e com menos oscilações no humor do clima.
Se é pra ser um ano, seja um ano, não tente ser alguns meses, ou menos meses do que o quantitativo da data exige, como o dois, zero, um, um, foi. Se quiséssemos viver em meses não comemoraríamos a passagem de ano, comemoraríamos a passagem dos meses, então venha sereno, sem medo de não ser aceito.
2012, traga o que tiver que trazer, mas assuma seu lugar nas lembranças de todos nós, seja rebelde, seja mocinho ou o bandido das épocas, mas assuma que foi em você que tudo aconteceu, que foi no seu reinado que a vida conseguiu se ajeitar depois e longos anos meio torta, meio suja e desarrumada.
Mas por favor, não vá embora como os outros foram, erga essa cabeça, estufa esse peito carregado de novas energias, de energias de um ciclo novo e saia assumindo que você foi o que você queria ser.
E que você possa me surpreender não sendo a única coisa que todos os outros foram: promessa de mudança.
Vem, vem 2012!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

uma verdade inconveniente III - quem tem pecado atire a primeira pérola



"Aquele dentre vós que está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela (...) E endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão àqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?   E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno." Evangelho de João.
Aos religiosos xiitas que adoram usar a Bíblia como advogado inquisidor sempre que buscam condenar alguém, não há o que interpretar do trecho transcrito acima, senão o que o mesmo possui em sua essência: tolerância, pois ninguém é perfeito, e mais ainda, ninguém é mais ou menos perfeito, nessa ou naquela falha a ponto de condenar ou levar a julgamento seu semelhante.
Qualquer pessoa que use de um ato grosseiro para esfregar na face dos outros seus valores, perde automaticamente qualquer valor que possua, pois como o próprio dicionário explica, são merecimentos, talentos e reputação de uma pessoa.
Sempre que alguém é intolerante antes de buscar entendimento, está fadado a perder essa reputação, visto que a atitude em si denota falta de postura valorosa. Valor não tem qualquer relação com ego. E ele se perde, vence o prazo de validade quando começo um justificacionismo em cima de uma visão deturpada e egóica.
Quem busca uma força maior, busca a força do amor incondicional. Incondicionalidade quer dizer que não há condição, não há estabelecimentos, não há regras, está para além de qualquer forma humana de restrições, ou seja, um amor projetado sobre uma energia pura, que não se prende a amarras e nem repousa sobre qualquer sintoma negativo.
Então, ao invés de sair pregando um Deus intolerante, que pede que apedrejemos, cuspamos, ou mesmo para virarmos a cara para aqueles que não são como nós, calemo-nos para que não fiquemos com uma imagem de tolo, cujos valores são utilizados quando melhor nós convém. Toda fé se perde diante de olhos inquisidores, pois são olhos que enxergam somente um outro ruim, deturpado por uma visão deturpada. Ou em outras palavras, não se pode servir a dois senhores, ou você serve a um Deus Único de Amor Incondicional, ou serve ao seu Ego que julga e condena.
Toda acusação preconceituosa ou intolerante, tem em sua raiz um quê de inveja. Da senhora que desdenha da moçoila com seu vestido curto, e a liberdade com que ela caminha, sem se preocupar ou se ater a essas opiniões, usufruindo daquilo que tem vontade (usar uma micro-peça), ao machista que não consegue amar sequer a si mesmo, e desdenha do casal gay que vive o amor que ele nunca terá, pois a única manifestação de amor que conhece, é o amor que espanca, que blasfema, que critica, que destrói.
Se queremos mudar uma pessoa, ajudemos naquilo que ela realmente precisa de ajuda e não naquilo que queremos que seja mudado, caso contrário, já estamos servindo ao Deus do Ego que pede para que amemos a condição na qual a pessoa se colocará, e não na que ela está.
E se você tem pecados, atire muitas pérolas, quantas puder. Mas atire para cima, para que caiam novamente em sua cabeça, onde cada achado precioso sirva não para apontar para quem quer que seja, mas para apontar para você mesmo.
Assim, quando menos esperar, terá juntado todas as contas e feito um belo e valioso colar, onde cada pérola simboliza a beleza de um ser que absorve a essência da própria vida, sem se perder na inveja pela beleza da vida dos outros.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

uma verdade inconveniente II - a casca dura de um ovo revela uma gema frágil



EGO: 1. Núcleo da personalidade do indivíduo. 2. Conceito que o indivíduo tem de si mesmo. 3. Consideração ou apreço exagerado que alguém tem por si mesmo. = egotismo
ESTEREÓTIPO: 1. Idéia, conceito ou modelo que se estabelece como padrão.
2. Preconceito. 3. Coisa que não é original e se limita a seguir modelos conhecidos. = lugar-comum. 4. Patologia. Comportamento ou discurso caracterizado pela repetição automática de um modelo anterior anônimo ou impessoal, e desprovido de originalidade e da adaptação à situação presente. = estereotipia.
Para aquelas pessoas do texto anterior cujos castelos de areia são erguidos como únicos detentores das verdadeiras técnicas construtivas, o ego possivelmente seja seu melhor amigo, visto que a partir do EGOísmo, ou desse apreço exagerado por si mesmo e pela maneira como entendem o mundo, faz com que gerem estereótipos dos quais carregam por toda a vida.
Uma garota com seus vinte e poucos anos, por exemplo, cujo vestido curto deixa à mostra suas belas pernas, pode ser mal interpretado por uma senhora mais velha, cuja visão se limita ao que ela vê em relação à garota. Quer dizer que para esta senhora, roupas neste comprimento específico simbolizem desrespeito ou no mais vulgar da palavra  ela é uma vagabunda.
Osama Bin Laden e os Estados Unidos são um outro bom exemplo dessa soma egoísmo + ego + estereótipo + preconceito + intolerância = guerra. O 11 de setembro é o resultado dessa soma, a partir do momento em que o líder da Al Qaeda prega para os companheiros do grupo fundamentalista que todo americano odeia o Oriente Médio. Da mesma maneira, a ação americana para matar Bin Laden resultou no estereótipo de que todo islâmico é homem-bomba prestes a explodir.
Podemos ainda pensar em diversos outros exemplos de intolerância estereotipada quanto a uma raça, cor, credo, cultura. Porém tudo isso não passa da mais terrível manifestação do ego. É alguém acreditar que detém todas as respostas certas para as perguntas da vida e que ninguém mais as possuiu.
Há uma frase que diz: "A sabedoria não vem automaticamente com a idade. Nada vem - exceto rugas. É verdade, alguns vinhos melhoram com o tempo, mas apenas se as uvas eram boas em primeiro lugar." [Abigail Van Buren].
Partindo dessa afirmativa podemos entender que a sabedoria só alcança aqueles que estão aptas para recebê-la. Logo, uma pessoa tolerante é aquele que desde pequena foi educada a compreender que nem a mais sólida muralha resiste às ações do tempo, mais tarde ela tombará, deixando as ruínas do que antes era uma barreira firme e instransponível.
Assim, quem soube administrar sua própria vida sendo grato por viver em um mundo onde cada pessoa, mesmo a que já nasce e morre, contribui de forma ímpar para que avancemos mais um metro na estrada da evolução rumo ao Divino.
É o chamado "efeito borboleta" que diz que o bater de asas de uma borboleta no Japão, provocará - pelo reverberar das ondas de ar provocadas pelo movimento do vôo - um tufão ao chegar aqui no ocidente. Nenhum homem é uma ilha isolada, mas somos todos um grande continente cujos ferimentos que causamos em um semelhante, estamos causando a nós mesmos.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

uma verdade inconveniente I - todos constroem castelos de areia mas nem por isso obrigam os outros a brincarem neles



PRECONCEITO: 1. Ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. 2. Opinião desfavorável que não é baseada em dados objetivos = INTOLERÂNCIA: 3. Estado de abusão, de cegueira moral. 4. Superstição. 5 Falta de tolerância. 6. Violência.
É engraçado como as pessoas têm uma mania infantil e imatura de viver, na qual desenham mundinhos próprios cheios de perfeição e regrinhas de boas maneiras, de moral e bons costumes e saem completamente da realidade do mundo palpável. Passam a vida se privando da própria vida, abdicando de ser quem são por uma infeliz escolha em agradar uma minoria, que sequer se importa com sua existência, tornando-se uma fonte inesgotável de amargura e angústia.
Imaginar alguém que viva dessa maneira pode ser inconcebível para quem compreende a grandeza da diversidade de crenças e culturas, valores, etc. e mais do que isso, aceita e acolhe de forma sábia essas diferenças, porém isso ainda ocorre e é ainda mais comum.
Uma pessoa realmente feliz é aquela que tem muito! Muito conhecimento que gera sabedoria, que gera discernimento e posteriormente entendimento. Pessoas assim lidam facilmente com todas as personalidades no dia a dia sem  vibrar em intensidades energéticas diferentes, visto que possui a incrível capacidade de se manter em equilíbrio nas situações de maior desconforto.
Uma vida equilibrada quer dizer, por exemplo, que a primeira vez que alguém estaciona de forma meio torta na vaga, ocupando uma parte da sua, você não vai sair por aí "cuspindo marimbondos", como se isso fosse o mais terrível ato de desrespeito, antes, irá procurar entender os motivos que podem ter ocasionado essa situação. Talvez alguém houvesse sofrido algum mal estar súbito, ou tem dificuldades em fazer uma baliza. A partir disso, traça-se uma série de possibilidades do que está ao seu alcance para que isso não ocorra mais: eu posso procurar pelo dono do veículo e ser solícito em ajudá-lo a estacionar quando puder e avisar de forma amigável o ocorrido. Mas ainda sim, sei que é mais fácil esbravejar o stress acumulado do que ser gentil... será?
Pessoas assim vivem felizes em seus castelos de areia, porém entendem que da mesma forma que elas ergueram alguns usando o conhecimento que possuíam, outras também ergueram da forma como conheciam, gerando um mundo de castelos de areia diversos, numa praia com espaço suficiente para todos eles.
O contrário dessas pessoas ocorre quando entende-se que sua técnica de construção de castelos de areia é a única possível e correta, impondo ao demais que abandonem a brincadeira e passem a participar da sua, com suas regras egoístas.
O egoísmo por sua vez gera a intolerância, que por sua vez leva ao preconceito, que nada mais é do que um egoísmo em assumir previamente falta de humildade em aceitar algo do qual não se tem conhecimento algum, ou seja, é um estado de burrice camuflada na qual as pessoas se colocam quando estão diante de um castelo igual ao delas, mas concebido com técnicas das quais não dominam.
A partir disso, com o ego inflado e o ódio escorrendo feito saliva, querem a todo custo derrubar esse castelo. O que elas não entenderam porém é que castelos de areia não são feitos para durar, seja qual for o método construtivo, e que enquanto derrubam o do vizinho  ao invés de reerguerem um novo -, vem a onda e derruba também o delas, deixando a praia lisa e pronta para uma nova geração de construtores de castelos de areia.

sábado, 22 de outubro de 2011

sessão de contos: No Ponto



Não se sabe quando começou, mas começou em algum momento, pois ele não nasceu assim. Sem maiores explicações ele contou sobre isso, de forma natural, como se tratasse o tempo como um aliado, ou se o mesmo fosse seu subordinado e não o contrário.
Escrevendo assim até parece se tratar de algo anormal ou maligno, ou completamente estranho. Mas o que Adan ouviu naquela noite depois de uma dose de francês, italiano e inglês com acompanhamento de coca-cola foi um pouco assustador do seu ponto de vista.
-“Não sei qual o horário do ônibus”. Não ligo pra isso, sento no ponto e espero que ele passe.
-“Como assim não sabe o horário?
-“Não gosto de saber os horários de volta, apenas os de ida, para que a ou as pessoas que marcaram um compromisso comigo não fiquem me esperando. Se tomo conhecimento dos horários de volta do ônibus, me prendo a eles e fico me policiando, matando momentos que deveriam ser ótimos em função de uma preocupação com horários.”
Silêncio (mental é claro). Adan não soube mais o que pensar e se calou em si mesmo. aliás ele não se calou por mais que 30 segundos; inacreditável alguém não se preocupar em saber horário de retorno pra casa em função do transporte público. Isso é muita pretensão quanto o tempo. Não entendia como alguém conseguiria ficar por tempo indeterminado, durante a noite, sozinho, esperando e apenas esperando.
Pode ser que fique por lá 1 minuto, ou até tenha que correr para alcançar o seu ônibus habitual, pode ser que precise esperar horas, talvez pedir informação sobre uma linha diferente que passe próximo à sua rua. São várias as possibilidades de se sair dali.
Em último caso, gastar um bom trocado com um táxi (geralmente fora de cogitação), esticar um pouco as pernas (impossível devido ao local onde mora), pedir carona.
Talvez sua jaqueta jeans não seja tão confortável com um frio mais intenso, talvez tenha que tira-la por um calor mais insuportável. Pode ser que precise se esquivar de “possíveis ameaças” de crime. Talvez sinta fome, sede, medo, ansiedade, etc.
Então porque ficar ali no ponto esperando e esperando?
No “paradoxo da espera no ponto de ônibus” quanto mais se espera, mais próximo o ônibus está, porque o tempo de espera é proporcional ao trajeto, logo, quanto mais próximo ele está, menos tempo se espera. E se já se esperou muito, significa que falta pouco pra ele chegar.”
Mas não é essa a questão, ele não está interessado em pular a parte do intervalo. Ele não se importa que haja um intervalo “nulo” entre um acontecimento e outro. Até porque nada é estático em momento algum da vida, tudo está em movimento o tempo inteiro, mesmo uma pedra está em movimento, no sentido dos ritmos da natureza das pedras.
Adan não consegue lidar com os intervalos. Não aprendeu a encarar o espaços que ocorrem entre uma atividade e outra, ele está sempre ligado em 220w e pratica ações constantes.
Jamais conseguiria não se programar, não calcular os horários e trajetos com precisão tal que, quando quiser voltar para casa, saberá o caminho e não terá interrupções ou surpresas desagradáveis que atrasem sua próxima atividade.
Adan não desperdiçaria o tempo. Não entende como alguém consegue gasta-lo indiscriminadamente. Ele o preserva como se fosse esgotável, economizando cada segundo.
Até porque o fim do tempo é indiscutível, pelo menos numa escala individual no qual se vive determinado período sem data determinada para essa vivência, ou seja, como gastar algo que acabará mais cedo ou mais tarde? Talvez por uma questão de controle de tudo, de não entender as múltiplas maneiras de se aproveitar os espaços vazios, as reticências da falta de uma resposta-ação.
Tudo está em movimento o tempo inteiro, até os intervalos se movem para a próxima cena. Apenas espero que Adan espere um pouco mais de vez em quando.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sessão de contos: Vício em Virgula



Ele adora começar os textos pelos títulos. Não se sabe ao certo, mas os títulos são resumos ou grifos direcionadores do desenrolar do que será escrito. Se pudesse nem escreveria textos nem nada, apenas títulos. Adora imaginar que tudo que ele pensa poderia ser explicado por títulos, como se fossem esses nomes de esmalte, tipo Tule, Bianco Puríssimo, Rebu, Toque de Ira .
Isso não é rótulo, são títulos. Os esmaltes são tão bem explicados por títulos. É quase palpável se você fechar os olhos e pedir que alguém diga o nome de um esmalte que você não conheça e você tentar imaginar a cor. É isso. Não que ele entenda de esmaltes, mas é gostoso ler os nomes. Mas isso não acontece com tudo que tem nome.
Tem também mania de vírgula! É quase um vício – viciados geralmente não assumem que são viciados. É só um risco entre as letras, mas é um vício colocar essa tal vírgula. Adan imagina que a vírgula é a respiração do texto e que ela acompanha sua própria respiração (vírgula) e prepara a ele mesmo para as próximas palavras que virão. Vírgula é vida, ela vem assim que você entende ou pré-entende uma frase, e então te descansa para a próxima leva de letras somadas que formam sílabas e que juntas viram palavras, que próximas soam textos.
Imagina colocar uma vírgula em certos momentos do seu dia, se o ponto final não fosse uma opção também, é claro. Senão juntaria três e deixaria a continuação para um outro dia. Mas a vírgula seria ideal para aquele parágrafo do dia onde não há respiro.
Adan não gosta que escreva meia página. Ele gosta de títulos auto-explicativos, mas se é para escrever, que seja uma página cheia, ou pelo menos mais que isso. Assunto sempre tem, mesmo que ele mude ou direcione para uma infinidade de outros assuntos; por isso ele relê cada parágrafo, mesmo com preguiça, e vai mudando o que é preciso. Ele se preocupa com o português correto, mas odeia todas as regras e não suporta ouvir “coordenada aditiva sindética”.
Essas regras gramaticais servem para que você entenda que jamais falará corretamente, pois ser correto depende de entender bem as regras e tentar torna-las uma prática. Não deseja praticar nada que se refira a “transitivo direto ou indireto”. Mas gosta da grafia correta.
É uma regra justificar. E se tornou um vício também: escreve-se um parágrafo, justifica-o; escreve outro, justifica também este. Está se forçando a tentar deixar alinhado a direita ou à esquerda. Centralizado nunca! Nem mesmo os títulos dos textos, que aliás nem escreve, apenas como nome do documento ao salva-lo. Então esse justificacionismo das frases, cria uma borda imaginária que a impressora não transporá. Porém ficarão espaços, pois nem toda frase justificada se alinha em ambas as laterais, a não ser que você force a justificação. Mas se forçar perde a força. Ficaria uma palavra no início umas duas no meio e outra no fim parecendo que alguém não as queria e amarrou uma corda e puxou-as com força tentando tira-las para fora do texto.
Nem todos os dias ele quer justificar, mas como tomou isso como regra, ele justifica para padronizar a escrita, sabe-se lá porque, visto que ele não escreve nada padronizado. Adan se pergunta agora porque justifica seus textos por obrigação, se não é por obrigação que os escreve.
Vai saber! Melhor não tentar entender porque estaria justificando pra si mesmo os motivos que o levam a justificá-los. E se justificar para si mesmo, estará mais uma vez levando-se a seguir suas próprias regras, que não foram feitas para serem seguidas. Elas foram feitas para... ah, Adan quase justificou sobre o porque de suas regras não serem leis. Melhor parar por aqui (vírgula) e colocar um ponto final, salvar e tentar finalizar esses desenhos em reticências desde ontem.
Não gostei desse fim, voltei a escrever porque queria finalizar com uma vírgula e não com ponto, então, 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Entre a Vida e a Morte



Foi então que um carro parou. Não há uma lembrança precisa da hora em que isso acontecera, mas a memória aponta uma vaga hipótese de algo entre 23:00 ou 00:00hs. Nesse horário o frio estava intenso e a brisa perdido a briga para um vento mal educado que chega abrindo caminho, trombando em tudo. Era um cruzamento! Uma rua morro acima, a outra na perpendicular reta. Uma penumbra meio enevoada, cuja iluminação pública inutilmente tentava romper com uma esmaecida projeção.
Folhas embalavam uma melodia noturna, vez ou outra requebrando com maior intensidade.  Em meio a tudo isso lá estava ele, Adan, parado na esquina sem saber porque, sua casa era do mesmo lado que se encontrava, não precisaria atravessar. Mas parado estava, parado permaneceu. O silencia gritava forte, impunha uma série de pensamentos que talvez pudessem explicar o real significado do movimento que nunca acontecera.
Jeans, pólo, all star claro, jaqueta de nylon. Os bolsos, vazios como sempre, a mente, cheia como sempre. Na rua inabitada apenas uma certeza: liberdade em solidão, a cidade só para ele. “A noite fala de uma forma muito peculiar, é fácil entender quando ela quer avisar ou sinalizar algo bom ou ruim. O cheiro de perigo que o ar dispersa, o sabor de sexo proibido que a escuridão procura camuflar nas quinas da cidade, a curiosidade que o desconhecido  desperta no que pode estar atrás da próxima reentrância de prédios mais generosamente afastados da calçada.
Adan conversa com a noite sempre que pode. Caminhadas noturnas para espairecer e fazer os pensamentos fluírem sempre. A noite é traiçoeira, mas também é amiga quando se sabe lidar com ela. Ela é representação do que cada um é: uma escuridão com certos períodos de claridade, mas ainda não totalmente revelada pela luz pois mesmo a terra recebendo a luz do sol, apenas a metade está visível.
Ao longe, na rua que sobe, um carro desce meio apressado. Um farol azul oscila em conformidade com os níveis diferentes do calçamento. São grandes olhos azuis de um brilho quase hipnótico.
Quando percebe o carro atravessa o cruzamento e para bem em frente a ele. A névoa calma fica meio enlouquecida, pairando de um lado pra outro sem saber pra onde ir. Adan continua imóvel, estático, com um pequeno formigamento na nuca. Devagar um vidro se abre, ainda sem ver nada ele arrisca inclinar-se um pouco meio curioso meio assustado com sua falta de medo. Uma iluminação laranja desenha alguns botões no painel do carro, enquanto um lounge toca no player. A música não é identificada, mas é convidativa, chama a dançar sem muito o que pensar sobre os próprios movimentos do corpo. Os ouvidos parecem agradecer a generosidade sonora. A mente entregou-se ao embalo e por um momento efêmero tudo estava ausente ou não mais existia. Era o movimento das notas num compasso e ritmo harmoniosos.
A harmonia necessária a um ser: várias notas diferentes, cada uma em um lugar, sendo apresentadas a seu tempo e que só fazem sentido em conjunto.
-Quer uma carona?
-Carona, para onde você tá indo?
-Para a vida. Disse com sorriso na voz.
-Vida? Perguntou com ar de desconfiança. –Nunca ouvi falar nesse lugar.
-Eu sei (risos), foi por isso que fiz o convite, entre no carro. Vamos sair e andar para a vida, largando tudo pra trás, sem medo de ser feliz. Completou com uma voz de proposta irrecusável.
Adan abriu a porta, sentou-se no banco da frente, olhou para o condutor e disse: -O convite à vida é tentador, porém receio ter que recusar, não confio em quem não conheço e em lugares que nunca vi no Google Maps!
Foi assim, com essa frase que ele calmamente saiu do carro, subiu as escadas do prédio e morreu naquela cama de lençóis vermelhos.
O alarme do celular soou, era hora de acordar e trabalhar, ainda era sexta e a rotina uma verdade inconveniente.

sábado, 8 de outubro de 2011

Tocando Lágrimas em "Dór" Maior



Era como se de repente ele olhasse em volta cego e surdo, submerso em um entorpecimento interno de dúvidas, incertezas e angústias recalcadas, feito concreto de fundação, no qual a penumbra do ambiente contribuía para que a falta de clareza e nitidez das pessoas e objetos, e do próprio ambiente em si, simbolizasse o ambiente interno no qual sua vida estava presa.
Como um copo de cerveja em vias de acabar, cujo resto da bebida que sobrou está quente, naquele momento em que o garçom ainda não percebeu que a garrafa está vazia; você olha sem se decidir se bebe ou espera pela próxima para resfriar essa. E com o copo rodando entre os dedos, vez ou outra colocado sobre a mesa velha de madeira, cujos mesmos dedos também circulam a borda do copo quando sobre ela, perdido nesses gestos livres de qualquer função, senão delinear livremente um estado de dúvida banal frente a algo interno.
Tem um olhar nisso tudo que nada vê, senão para dentro de si mesmo, tentando buscar algum sinal que o coloque nos eixos novamente, no foco, ou pelo menos traga uma quantidade satisfatória de ânimo, visto que em sua última mudança, resolveu tirar tudo o que restava, e para além do tapete, usando um pano umedecido, limpou cada canto, sem deixar sequer uma poeira de esperança, abrindo um grande espaço vazio e sem programa definido.
É esse espaço isolado, trancado dentro de um sorriso encenado de opiniões a respeito de acontecimentos do mundo, que permite mesmo em público, que ele grite como se estivesse em um ataque de histeria incontrolável, enquanto paralelamente se recompõe para si mesmo tentando se enganar com algo do tipo: "mantenha a calma, volte ao mundo real e retome a discussão sobre...".
Ele sabe realmente o que acontecesse depois disso! Sabe que os olhos vêem mais do que conseguimos de fato enxergar tal qual os ouvidos ouvem uma voz que cada um tem a sua.
E nesse momento seus olhos se voltam para seu mundinho egoísta e inatingível por outros. Voltam-se para tentar captar esse agudo às vezes grave, quando uma força maior e alheia a ele, faz com que as notas oscilem de forma a causar um fio de dor.
É a música do sofrimento abafado que a alma agora toca para a platéia dos olhos e ouvidos que outrora se encontravam perdidos em sons e cores do mundo físico. Uma melodia em notas de "dór maior", "ré calque", mi, "fa lta",
"sol idão", "lá grimas", si, embalando uma letra que ele já sabe de cor, num refrão que diz "felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tranqüila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor". [Tom Jobim e Vinicius de Morais]
Volta e meia esse refrão é ouvido, por vezes sentido de uma maneira mais ou menos intensa. Em momentos como esse, de imersão em uma névoa de questões atemporais, ouve-se a canção completa, marcada pela intro "tristeza não tem fim, felicidade sim...", seguida dos versos "a felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar, voa tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar".
Misturando a canção com o cansaço das mesmices insolúveis, como que batidas no liquidificador, tem-se um momento de delírio de trazer o grito do espaço isolado para o espaço habitado, como que saindo do estômago feito uma bola espessa de ar e líquido estomacal prestes a jorrar pela boca, deixando um gosto amargo e a sensação de ânsia.
De repente a música é interrompida, a mistura é empurrada aparelho digestivo abaixo, e têm-se um despertar, como se voltasse de uma hipnose após o estalar dos dedos. Com a audição aguçada, chamando os olhos a abrir-se para fora novamente e sentir o mundo com novo ânimo em algumas dedilhadas de notas de confiança em si menor, depois de lembrada a frase que inspirava uma canção de entendimento, formando o prelúdio "para cada coisa há um tempo e para cada tempo há uma coisa", ouviu-se a conclusão de alguém que dizia "...devagar e com respeito".  

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Hoje o Pequeno Príncipe tentou ser Deus



De repente o pequeno príncipe voltou num cometa Harley para seu pequenino planeta solitário, sem a rosa com a qual compartilha e cuida, mas da qual arrancou por querer ficar consigo mesmo e só. Ele agora cuida apenas do próprio coração nada nobre. O pequeno príncipe tem um coração tão humano, mas tão humano que se deu conta de que agiu por ele não pela própria razão. E inconformado com sua medíocre maneira de agir, resistiu ao choro e o ignorou. Pensou sobre si mesmo e no momento em que não se deu conta de que estava a transformar-se num mero mortal que disse “eu te amo”, que apaixonou e acreditou e quis casar e se entregar a uma vida a dois. A dois, soa quase como a “dor”, mas não parou pra pensar e voou para fora, para o mundo dos terráqueos com seus conflitos existenciais. Decepção é a palavra que ele carregará para sempre em seu sobrenome.
Antes, pouco tempo antes, começou com uma dor da garganta para a cabeça, acumulando nos olhos até materializar-se em lágrimas densas e pesadas face abaixo. Não caem uma a uma, mas empurram-se sem a menor educação, influenciadas pela lei da gravidade que as joga contra o queixo e o peito.
A boca abre para deixar sair um grito, mas ao invés de libertá-lo, acaba engolindo mais dor; a dor da dúvida, do peso das escolhas, da incerteza nessa aposta de 50% em tudo.
Antes, pouco tempo antes, decidiu assumir um papel divino: usando todo seu poder celestial, resolver apagar da face da terra e da face do próprio mundo e da própria esfera cerebral e da órbita do coração, uma existência humana.
Mas como todo bom Deus iniciante, faz-se primeiro as tarefas pequenas e depois passa às grandes, quando já aprendeu a controlar os próprios poderes. E usando o que havia em mãos, apagou do celular quaisquer vestígios dessa existência.
Subiu o elevador da eternidade, determinado, e apagou as lembranças na memória do computador-extensão da própria memória. Usando toda a força acumulada, e sua divina capacidade, apagou fotos e fatos, apagou palavras e músicas, e tudo o que denotasse que algum dia houve uma vida além da própria, ocupando o mesmo lugar nos espaços do seu espaço.
Antes, pouco tempo antes, os passos eram acelerados e duros. O mundo ao redor parecia ignorar a presença ali transitando freneticamente sobre as listras brancas e sob a luz verde nos intervalos dos motores. Sentia que poderia cair a qualquer minuto, mas sabia que isso não aconteceria porque não se entregaria tão fácil para o mundo dos mortais. As pessoas ao redor pareciam não ter rosto, ou talvez as lágrimas comprimidas entre as pálpebras fazendo as vezes de barragem, estivessem desfocando  as feições. Pobres humanos em suas rotinas de uma vida pré-estabelecida, do nascimento até a morte, que em vão andam pós horário comercial.
Antes, pouco tempo antes, um ar gelado percorria a praça movimentada enquanto uma conversa tomava rumos sem sentido e meio desesperada em não sucumbir aos próprios argumentos. Fala-se sem entender bem o porque, sem colocar muita fé nas próprias palavras, mas sabendo que é preciso dizer, sem essa compreensão. Mas falar tudo não é o suficiente, nem tudo foi falado, e nunca terá como o falar, pois há sempre a fala como uma forma de segurar o tempo que resta antes do fim. Aquelas palavras rudes, trocadas num justificacionismo inquisidor dos atos alheios soavam ao longe enquanto faziam as vezes de mãos que seguravam desesperadamente as pernas antes de tentarem quaisquer movimentos de locomoção para fora dali.
Antes, pouco antes, o medo já era responsável pela maior parte dos pensamentos. Até então havia força acumulada de tempestades passadas das quais sobrevivera, mesmo que em copo d’água. As horas voando, tudo ao redor desabando em efeito dominó com final já conhecido. O último final de um não-começo; porque as pessoas, às vezes têm disso: alcançar o fim antes mesmo do início. E talvez seja até bom, principalmente para enganar-se a si mesmo, pois se existe o fim antes do início, quer dizer que não vamos sofrer, e tentaremos em vão esconder que o meio já era uma realidade quando o fim do início chegou. 
Antes, pouco tempo antes, ele jamais pensaria em passar por isso, mas já que passou, não abriria mão do que viveu fora do seu planeta. Mas entre viver fora dele com lembranças boas e ruins, prefere ficar quietinho dando voltas no próprio mundo, revivendo as lembranças boas do que nunca aconteceu.

domingo, 2 de outubro de 2011

Aprendendo a Aprender




E aí você aprende: aprende que pode cortar a língua quando for lamber a tampinha metálica do iogurte. Aprende que para aprender a ascender a trempe do fogão você terá que ser ágil – puxando a mão no nanosegundo entre o trepidar da chama do isqueiro e o momento em que o fogo sobe junto com o gás que sai -, para não queimar dedos e pelos.
Aprende a enfrentar uma gripe sozinho e conseqüentemente não depender dos mimos e dengos que lhe ofertam quando está acamado.
Você aprende a sentir medo, ou só sente o medo na proporção em que consegue agüentar enquanto estiver sozinho. Nossa mente tem dessas coisas, de ficar dosando tudo o que se sente, mesmo que pareça demais.
Aprende a cozinhar uma coisa ou outra e o básico. Mas aprende principalmente a driblar a própria fome, trocando uma refeição completa por um macarrão instantâneo e ainda deixando a panela, o talher e o prato na pia pra lavar depois. Barganha com as tarefas domésticas.
Logo a gente aprende que todo espaço externo não preenche o vazio interno que consome horas de martírio sobre as escolhas que em vão – quanto ao objetivo almejado - não levaram a um caminho muito longo.
Aprende que todo preenchimento interno é demais para o vazio. É muito vazio pra pouco vazio, ou pouco vazio pra muito vazio. Você aprende a sentir demais, ou menos, a querer demais ou menos, a tentar mais, ou menos. E nada, absolutamente nada nem tudo será capaz de suprir isso.
Você aprende que algumas pessoas estão dispostas a te ajudar, mas que principalmente e fundamentalmente é preciso entender que nesse caso o que vale é a intenção, e que uma ajuda não necessariamente muda os rumos da coisa, porém muda sua maneira de enxergar e distinguir quem está ao seu redor.
Dizem que é a vida que ensina, mas sei que você aprende no susto, no melhor sentido “toma que o filho é teu”, a pular no escuro e “puta que pariu”, sentir o mesmo que se sente quando num sonho estamos vivenciando uma queda no além. O frio na barriga, o calor nas mãos, o suor e muita adrenalina batida com medo, num drink de sensações.
Você aprende a pensar sobre porque arrumar sua cama todos os dias de manhã, sabendo que a desarrumará ao anoitecer, num processo repetitivo e para vida toda. E mais do que isso, aprende que no único dia em que você a deixa desarrumada para forçar uma mudança de hábito, aparece uma visita que você há muito esperava, e que te faz sentir vergonha do estado do seu quarto.
Aprende ainda que quando conhecemos verdadeiramente uma pessoa, ela provavelmente olhará para nosso estado de bagunça e tentará entender porque chegamos nesse ponto, ou em qual momento caiu a primeira meia no chão e lá ficou, abrindo caminho para as milhares de tralhas que espalharíamos quarto afora.
Você aprende que amar não é tudo, mas que tudo é amor. Respeito é amor, lealdade é amor, paciência, compaixão, paixão, caridade, afeto, carinho, sinceridade, e mais tantas outras palavras que denotam o que amar realmente significa, e que dizer “eu te amo” torna-se tão superficial quando não há prática de algumas delas. É a teoria aprendida, mas a prática não vivenciada.
Você aprende a aprender. A aprender que quanto mais se aprende, mais ainda há o que aprender. Aprender requer antes de tudo discernimento, pois num deslize ortográfico onde dobra-se a letra “e”, e junto com um pequeno desvio de caráter você deixará de aprender  e acabará por apreender sua própria vida.
No fundo, todo conhecimento aprendido deve ser passado adiante, para que não aprendamos a apreender de forma egoísta em função de um vazio que não se entende, já que a idéia de encarcerar coisas e pessoas é mais facilmente praticada do que a de libertá-las como um conhecimento que o vento dispersa aos lugares mais distantes e sempre volta quando este completa sua volta no planeta.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Oposto do Post



Agora é sempre assim: os caracteres e o caráter, ou, diga-me o que escreves que te direi quem és. No mundo das palavras postadas, você está em constante sentir, pelo menos na teoria das pessoas que te lêem, porque na teoria de quem escreve, nas associações livres de idéias, cada linha tem sua função, nem sempre tão profunda como seu significado explícito. Sinta-se à vontade para postar, poste à vontade quando sentir.
Nos posts estão as novas regras ortográficas, ou melhor dizendo, regras “abreviográficas”, que, tal qual “o que você está pensando nesse momento”, em certos deles, transbordam do vidro para a vida, exercendo uma virtualização da realidade. Quer dizer que você pode ser “vc”, mas pleno em paz interior de que as pessoas sempre tentarão entender aquilo que é escrito.
O legal de “ser um post” é que você aprende a diferenciar quem realmente se importa com sua saúde mental e quem se importa em saber dos próximos capítulos, pois a vida passa a ser uma novela narrada – para aqueles que preferem interpretar tudo que você escreve como sendo realmente lá do fundo da alma.
Mas é claro que quem publica sabe que está indo a público por inteiro, naquele espaço de poucos caracteres. E esse é exatamente o sentido da postagem, informar à rede de carinhas fotografadas ao seu redor que “começou a chover em BH”, “acabei de comer uma massa com vinho branco seco”, e “não estou mais em um relacionamento sério”. Posto isso, ou postado isso no mural da sua vida, seus relacionamentos curtem, e comentam, e marcam e cutucam sua postagem e você, e marcam você e cutucam sua vida. E te chamam no MSN ou ligam para perguntar se está tudo bem, se você realmente vai praquela festa no sábado ou se já estamos sabendo que o fulano de tal sofreu um acidente de carro.
Postar é o verbo contemporâneo. Eu posto, tu postas, ele posta, nós postamos. Eu leio, tu lês eles lêem. Postar e postar, prostrar e postar! Postar o corpo, prostrar a mente e o contrário também acontece. Postar com o corpo em movimento, mas prostra-se nas relações com o mundo externo. Postar com o corpo prostrado, mas com o movimento dos pensamentos.
Sentimentos também se prostram, principalmente se saem do poço da alma para o post do mural e lá se eternizam como bytes de espaço na memória do servidor da empresa que se dispôs a expor suas parafernálias em palavras. Logo, entende-se que o que você sente e pensa é tão valioso para o mundo quanto para você mesmo, senão não haveria tanto espaço para empilhar o que você tira do seu espaço.
A escrita pode ser tudo, como pode também ser o nada. Pode ser essa tal exposição de idéias sem uma relação profunda com o que você pensa como pode ser o gozo de alívio. Ali é onde o bom pode ser bom e o ruim, ruim, como o bom pode ser ruim e o ruim muito bom, dependendo da proposta de quem posta.
Um texto é a gargalhada quando quem aprecia a escrita quer rir para o mundo. Como também é um choro quando seu autor não está bem. As letras são as lágrimas e as palavras os murmúrios. O backspace é o lenço umedecido que quando pressionado limpam as gotículas, uma a uma, para que novas sejam derramadas nessa eterna escrita da alma.
Sem limite de caracteres, o corpo posta o que a alma sente e posta também o que a mente pensa.
Publicar é gritar para o mundo sem querer uma resposta, como também é sussurrar alguns segredos sem que se espere juízo de valor. Nem sempre uma lamúria necessita de uma palavra de conforto, pois o conforto está em tirar de si toda aquela angústia e jogar no mural. Publicar é “lol” bem alto para que a alegria não fique aprisionada em você, pois ela é livre pra circular por aí como uma corrente que rebate no mural do seu amigo e retorna como um “like”.
Então não se importe com um post, nem tente ser um poste, pois nos caracteres da vida, os limites somos nós que colocamos. E deixe que te comentem, porque uma vida sem comentários é uma publicação não lida. E se ninguém leu, é porque sua rede social anda muito privada. Se é pra ser privada, não da pra ser social. Poste isso!

domingo, 21 de agosto de 2011

sessão de contos: Nada de Adan no Domingo



Domingo era sempre aquela depressão em último grau. Domingo simbolizava o estado de entorpecente angústia na qual Adan sempre submergia seus pensamentos.
Domingo é o dia em que o dia demora uma semana para passar, e ainda sim consegue ser mais entediante que o horário eleitoral gratuito. Domingo é o dia onde o sol ou sai animado demais e irrita com um calor insuportável ou dorme e ronca deixando uma paz celestial em tons de cinza-vida.
Domingo é aquele dia em que a cama é mais confortável, os lençóis brincam de cabo de guerra com você e seus travesseiros insistem em abraçar seu rosto, quase tapando sua respiração, tamanha maciez.
Adan porém gostaria de pular domingos, ele os odeia. Quem sabe renomeá-lo pudesse ajudar? Quem sabe o domingo deixasse essa idéia de fim de tudo e o nome sugerisse uma sensação de início. Mesmo sendo o início da semana, domingo sempre traz essa sensação de que acabou, que não dá mais pra voltar, ou de que a semana mais uma vez voou, deixando o ócio como resultado.
Se debatendo em pensamentos, Adan quer solucionar esse enigma da angústia do domingo.
Porém aconteceu de novo, mesmo que nos mais atípicos domingos isso ocorra em menor escala, esse aconteceu. Ele sucumbiu ao estado do qual odeia estar.
Adan cedeu às chantagens sentimentais de sua mente insana e se entregou à angústia.
-“Ela é louca”. Pensa consigo sobre a angústia. “Vem sempre que estou bem e destrói toda felicidade, a mínima, até a última gota”.
Nem mesmo o escuro, o silêncio ou as músicas a espantam. Qualquer tentativa de expulsá-la faz com que na próxima vez que vier buscar o que é dela, volte ainda com maior força e levando maior quantidade de bons sentimentos.
São os impostos que se paga por ser humano, por ser “racional”, por ser dotado de massa cinzenta em quantidade suficiente para produzir sofrimentos.
Quisera ser um animal, qualquer um deles! Qualquer um não! Não gostaria de ser bicho de estimação, nem bicho de zôo. Enjaulado ele já está, seja pelo que sente ou pelo que é. Esse jardim do Éden não passa de uma ilusão criada para aprisionar nossa própria inferioridade conosco, fazendo-nos acreditar que há um mundo melhor, ou que esta prisão chamada terra pode ser melhor e só depende de esforço.
Mas como Adan poderia saber se um esforço conjunto para torná-la melhor faria de fato com que ela fosse melhor, visto que se estamos todos dotados de um vazio eterno, o problema não é esse jardim mal cuidado e sim nossa capacidade de não nos entender nessa “selva perfeita”.
Então, na criação desse jardim, Deus descansou no sétimo dia... e já não tinha mais paciência para configurar esse dia com a mesma dedicação que configurou os demais. Não mexeu muito no clima, nas reações do corpo frente a essa data estranha. Não trabalhou bem as cores intermediárias, nem perdeu muito tempo dando significados iniciais ao que era pra representar o início.
Domingo pode ser que venha de Dominó, ou seja, esse efeito onde os dias da semana vão caindo uns sobre os outros, derrubando o que está depois, até desembocar toda a força no primeiro (que na verdade em estado de espírito representa o último) dia da semana, tornando sua energia catastrófica para um espírito já fragilizado como o de Adan.
Domingo também pode ter originado de Domínio, ou seja, dessa angústia traiçoeira e forte que chega arrebatando tudo que há dentro do espírito, sem se preocupar com os estragos.
Talvez Domingo tenha mesmo originado de Do Mínimo, ou das menores quantidades de alegria, de amor, de carinho, de ânimo, de força de vontade. Do mínimo de esforço Divino para que o Domínio da angústia sobre esse efeito Dominó fosse pelo menos redistribuído nos demais dias da semana para que esse tal Sun Day não se tornasse toda semana um Insanity Day.
São 20:16 Adan, acalme seus sentimentos, pois já não há Sun nesse Day e logo, logo, um New Day irá começar, espera-se, sem nenhum Sun.

domingo, 17 de julho de 2011

sessão de contos: A Linguagem



No fundo da mente a surdez total. Adan estava sentado, observando o mundo que não retribuía esse olhar. A luzes se desfocavam como borrões neônicos na penumbra daquela noite. Ao redor, cabeças embaladas por movimentos de lábios e de ondas sonoras vindas de algumas caixas de som ali espalhadas. O vento que sempre soprava mais forte naquele elevado, agora incidia com uma força um pouco menos tranqüila, vindo de todos os lados, envolvente.
Xadrezes, listras, verde-cerveja, branco-cigarro, azuis anêmicos e muita informação empilhada ou pendurada/riscada aqui e acolá. Na boca, o gosto da mistura de tudo isso: um leve sabor do tabaco recém ingerido, deflagrando um odor nem bom nem ruim, mas potencializado por um sabor um pouco diferente, sentido pela língua dançando atrás dos dentes seduzida pelo malte.
Os hormônios vão deixando a timidez de lado e pouco a pouco saem de seus refúgios, trazendo consigo uma sensação de bem-estar. Não está frio, também não está quente, mas todos no recinto usam casacos pois, todos sentem o vento levemente irritado. Tudo bem! Todos têm o direito de ter um dia ruim, com o vento não é diferente.
A boca quer desenhar as palavras. Pinta-las calmamente uma a uma, pictoricamente, feito uma artista que quer expressar seu próprio mundo, mas consciente de que provavelmente ascenderá opiniões diversas a seu respeito. Tanto faz! No estado de imersão em que se encontra, qualquer crítica não será ouvida, e também não está falando para uma multidão senão de uma única companhia com uma efervecência interna.
Lá embaixo os carros riscam a rua que sobe determinada sentido contorno. Suas luzes a certa altura amarelas, a certa altura vermelhas, transitam como corpos celestes perdidos num espaço infinito, assolado por buracos negros. Astronautas da noite vão de um lado a outro com suas roupas de proteção e seus apetrechos.
Sobre a mesa de madeira carimbada a brasa com uma logo, garrafas, celulares e respingos de água condensada e precipitada em forma de gotículas tímidas e frias.
Alto! Na estatura, no lugar onde se encontra, no nível alcoólico, no índice que mede a necessidade de um beijo carnal. Alto. Não apenas seus próprios desejos, mas desejos compartilhados de forma camuflada sobre necessidades contidas em vivências insatisfatórias.
“Alto lá!” Pensa recompondo-se. “Melhor controlar todo esse alarde iniciado aí dentro, pois hoje é dia de semana e não há muito que fazer para satisfazer esses altos índices.”
“-Você é muito cheio de regras”, ecoa uma voz no fundo da cabeça, vindo de fora dela.
A defesa é iminente e a susto inevitável: -“Seria isso um sinal da vida?” Pensava. Deixa pra lá, o assunto é outro e ele está meio perdido faz um bom tempo.
-“Não sei se quero dançar no meio da semana”, responde Adan para si mesmo, completando –“sei que agora quero dançar no ritmo da respiração ansiosa, dos lábios meio nervosos por desejo e por não saberem muito bem como devem se encontrar”.
Se devem se encontrar ou não, mas precisam humanamente de um encontro inocente.
Apenas uma forma de respirar na falta de ar, está para além de qualquer obscenidade, antes, um encontro de idéias molhadas, concêntricas, por meio de uma linguagem de superfície. Nada além, nada a mais.
É ali, uma saída na saída, em sussurros e risos meio sem jeito, brincadeiras com fundo de verdade, verdades com fundo de brincadeiras, onde o idioma proibido é falado com olhar desconfiado que, numa dança descompassada os corpos se tocam levemente, com respeito. As cabeças se inclinam cuidadosamente, pouco depois de os olhos se negarem à ilusão de qualquer imagem do mundo. Ouve-se a voz do ser humano que existe em cada um.
-“Abra o portão!” ordenou Adan com voz leve e sorridente. –“Amanhã o dia será longo, mas a noite será curta para desfrutar em sonhos as lembranças de ser tão bem compreendido”.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

sessão de contos: Para Ele Um Outro Tudo



Ele acordou numa quarta-feira 16/05 sem querer muito abrir os olhos. Era sempre assim: ao ser despertado por aquele infernal toque irritante que os celulares possuem, mesmo sendo configurável com sua música preferida, ela perde logo esse posto quando vira um hino de anunciação de mais um dia qualquer. Então ele sempre opta por um dos bips que já vem no aparelho.
Adan sempre fora assim, meio esquisito. Não é que era meio esquisito, mas sempre acordava não querendo acordar, porém pouco tempo depois, sentia uma vontade de viver inexplicável que se exauria ao longo do dia, na medida em que as horas o importunavam com afazeres pré-programados.
Mas nesse dia especificamente – ou melhor, nos três últimos dias – Adan se levantou saudoso quanto à recuperação de sua esperança, cujos longos anos em coma na UTI dos sentimentos, voltou milagrosamente a abrir os olhos. Ela ainda não fala, e se alimenta com ajuda de aparelhos, porém já é um grande sinal de mudança. Sem contar que Adan se sentia angustiado há muito por ter que decidir sobre a eutanásia de sua vontade de viver, vulgo esperança.
Até a metade do dia nada fez de suas funções laborais. Estava mais entusiasmado em fazer qualquer outra coisa que não dependesse de sua obrigação em cumprir o que mandava sua rotina.
Adan era assim, um lutador indefinido, hora esperançoso, hora abatido pela falta de esperança. Mas sabia de uma coisa e tinha isso como sua maior certeza, até mais que a existência de Deus: que tudo aquilo não era para ele, que para ele era um outro tudo. Sentia-se feliz por entender a linguagem da vida. Mesmo que nem sempre concordasse com ela, mas a entendia bem.
Porém tal entendimento tinha um preço: a solidão. Sim, ele era solitário mesmo em grupo. E a solidão lhe causava enormes dores de cabeça, pois passava horas e horas e horas a fio sonhando e imaginando e querendo e indagando e mortificando a própria alma com insultos a si mesmo e a suas atitudes e pensamentos aflitivos, que só o jogavam para mais longe de seu não-eu, sem contudo empurra-lo para o eu verdadeiro.
A solidão era um preço para sua doença chamada inconformismo. Na verdade Adan sempre amou estar consigo mesmo. Ser solitário era uma opção tanto quanto ser naturista ou nômade, mas ele não era nenhum dos dois últimos. Imaginem um solitário naturista e nômade? Que mal tem em ser um pouco egoísta, pensava! Mas ele era mais que um pouco, ele era egoísta a ponto de querer um mundo só pra ele. Um mundo que tentava desesperadamente construir e que sucumbia às ações da vida que nunca lhe deixara satisfazer seus egóicos desejos ao tempo dele.
Todos nós temos um pouco disso aqui dentro. E temos também um pouco de Adan vez ou outra, em maior ou menor proporção. Depende do estado de espírito, quando se tem um.
Adan crê que existam pessoas sem espíritos, assim como existem espíritos sem corpos, o contrário também é possível. É possível porque tem gente que não se pode sentir. Tem gente que aparenta uma ausência de alma, de aura. Como se apenas a casca de carne e ossos perambulasse sem um recheio energético.
Ainda é quarta 15/06 e Adan não fez sequer um esforço em trabalhar. Está ditando esse texto que escrevo, dizendo que parou na parte do corpo sem alma, se autoindagando se isso é mesmo o que ele crê, ou se foi um flash que passou pela mente. Desistiu e mudou o assunto.
Disse que ainda há esperança em seu peito, mas que era para eu ligar o aquecedor que a baixa temperatura da frente fria que veio de algum lugar frio, está congelando seu coração.
Era para eu apagar a palavra coração e escrever alma. Adan não gosta que cite coração, pois é um órgão de carne que não sente nada. Ele também odeia aquela representação em desenho que nada se assemelha com a forma original que há no peito dentro do corpo humano.
Agora a pouco ele contou que rasgou o papel sobre a eutanásia e rejeitou a morte de sua esperança. Contou pra ela, mas ela, como esperado não se moveu, apenas fechou os olhos como quem quer voltar a dormir. Ele entendeu e saiu da sala na ponta dos pés. Deixou para trás aquela máquina que mede os batimentos cardíacos, registrando os abalos sísmicos do coração, subindo e descendo numa linha desenhada pelos sons do piii, piii, piii.... quase um despertador cansativo de celular. 

sessão de contos: Do Nada, O Nada



De súbito, foi tomado por um tremor. Sim, seu corpo tremia por dentro. Sentia aterrorizado os efeitos de quem atinge um estado perceptivo da realidade ,onde tudo é desprovido de sentido e não existe um querer. Até para escrever ele relutava. Não queria absolutamente nada, nem morrer, nem comprar, nem sair de casa, nem ficar deitado digitando, nem nada.
Era um abismo sem buraco. Não sabia ao certo como reagir, pois não havia querer em reagir frente a esse momento de perda total da vitalidade. Havia muito o que fazer, muito, porém nada o motivava.
Ele não era, não seria, e nem nunca, jamais foi. Apenas estava ali, todos os dias, vez ou outra revezando sentimentos extremos, com picos de rara alegria e picos de aflitiva angustia.  Nem mesmo o limbo era mais limbo, a partir do momento em que emaranhava-se nesse estado onde acontece um nada direcionado ao nada.
Parecia se desintegrar no colchão coberto por um lençol vermelho vivo, manchado de gotas vermelho sangue. Não se lembrava como isso acontecera, porém todas as vezes que estendia o lençol sobre a cama, fitava as tal manchas e sentia-se arder em ódio por aquilo. Sorte que as almofadas e travesseiros podiam-nas tapar.
Até se distraía com as outras imperfeições no seu refúgio do mundo mau lá fora. Imaginava-se em outro lugar. Ele não combinava em nada com esse lugar esquisito. Não foi isso que ele almejou no ventre de sua mãe. Não foi pra isso que ela o colocou no mundo.  É o seu lugar agora, mas não é o seu lugar pra sempre, então porque permanecer ali por mais tempo? Pensava sem resposta.
A água gelada sempre o ajudava a retomar os sentidos ilusórios de sempre. Tomou uma boa golada, ela desceu ríspida e embolou na metade da garganta. O ar que entrou esfriou-se com a temperatura da água estancada e, mesmo impedido e fazendo muita força, desceu e encheu os pulmões de um sabor branco-neve, do qual provavelmente tirou-lhe o fôlego.
Seu estômago foi seguido por eles, sendo atingido bruscamente por aquela porção de água fria, que ao bater nas laterais pareciam socos no estômago.
Voltou a se lembrar das manchas. Queria jogar os lençóis fora pois havia os comprado a pouco tempo e não fazia sentido que eles estivessem assim. Se distraiu novamente com seu mal-estar. Pensava se ainda era capaz de querer alguma coisa. Desejava desejar, esse era o ponto principal. Já conseguia exercer força sobre si mesmo como forma de sair dessa tentativa de assassinato de sua alma.
Tinha uma fé pálida estampada, porém firme-inconformada, escondida sob uma ótica desconhecida. Sentia-se o único no mundo por isso. Não por sua forma diferente de encarar Deus, mas por possuir um nada eterno, formado por um desejo de fé de mudança de certeza de impaciência de raiva de não poder gritar para que tudo se resolvesse em seu tempo, mas certo de que resolveriam.
Gritos! Ele sempre os tinha pronto, feito champanhe chacoalhada em virada de ano. Explodiriam a qualquer momento, fazendo ou não barulho, com bolhas e bolhas de raiva, de ódio, de cólera, de inconformismo, jorrando taça abaixo, derramando e grudando o piso. Gritava para o lençol vermelho manchado, perguntando-lhe como se permitira sujar dessa maneira. Gritava para si mesmo pedindo que tivesse um coma mental, fazendo com que parasse de pensar tanto e se tornasse uma pessoa clichê.
Gritava porque gritar mascarava um pouco do nada que existia dentro e que agora, de súbito, causou todo esse transbordar de sentimentos. Como uma correnteza de desespero do qual não há nada a fazer senão se deixar levar por ela, gritando por favor não o deixem afogar, ele submergiu. Respire, respire, respire que o nada ainda não acabou. Respire que do nada vem uma força, a mesma força que sempre vem tapar seus olhos para que não tenhas medo desse monstro que mora dentro do seu armário dentro do peito. Ele não vem todas as noites, mas ele está sempre à espreita esperando seu despertar de consciência. É ele, que como o lençol manchado, mancha sua alma de um translúcido vazio, que desintegra a realidade, transformando-a num pó fino, que quando levada pelo vento, dispersa-se até não poder jamais ser recolhido e recomposto em sonhos e anseios.
Respire!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

E Por Falar Em Pormenores

Existem momentos em que é preciso fechar os olhos. É preciso deixar que o ar apenas flua naturalmente, contornando quinas de paredes e retornando às juntas e músculos, enquanto olfato e paladar mapeiam o espaço ao redor.
Existem momentos em que apenas ar não basta. É preciso que suas propriedades sejam manipuladas e somadas a outras circunstâncias experimentadas de um querer insaciável, suficiente em sua composição, insuficiente em quantidade.
Existem momentos em que todo deslocamento é longo demais. É preciso engessar as próprias pernas e nem levantar da cama, ouvindo ao longe o barulho do despertador marcando cada segundo, e o movimento lento dos ponteiros dos minutos e horas, marcando o compasso dos movimentos mentais.
Existem momentos em que as pessoas são apenas pessoas. É preciso não olhar para elas e não tentar entendê-las, nem dedicar qualquer esforço em prol de uma aproximação, mas antes de tudo, lutar por si mesmo, tentando acalmar o leão que ruge aí dentro.
Existem momentos onde escovar os dentes é uma tarefa árdua. É preciso grande esforço para executá-la, levando a mente a outros mundos, manipulando sonhos enquanto as mãos se esforçam para não incidir a escova contra a gengiva sensível.
Existem momentos perdidos. É preciso vontade de choro, vontade de morte, vontade de drama, apenas para que você se entenda no sentido de acolher suas imperfeitas vontades delirantes do absurdo.
Existem momentos que não existiram. É preciso coragem para torná-los realidade, pelo menos dentro de você, substituindo aquele bom intervalo de tempo por um intervalo de tempo talvez até menor, mas ainda sim bem melhor.
Existem momentos capazes de mudar uma vida inteira. É preciso entender que não dobram-se os joelhos a um momento, não obstante, dobram-se os joelhos para si mesmo, afim de se entregar à dor nas pernas pela caminhada morro à cima.
Existem momentos onde palavrões não exalam todo o ódio contido. É preciso gritar a dor da traição, o choro do desgosto, a dança do orgulho ferido.
Existem momentos em que treme-se o corpo inteiro. É preciso deixar que tremule, que sue frio, que as mãos gélidas alcancem o nada, para poder perceber a falta que faz ser mais coerente nas escolhas erradas.
Existem momentos onde ser feliz é mais uma coisa chata e sem sentido. É preciso abraçar a tristeza, pois ela que nos ajuda a movimentar rumo ao objetivo de sua não-existência, tentando entender que às vezes é melhor pedalar numa bicicleta ergométrica que em uma bicicleta comum.
Existem momentos onde o calendário pendurado na parede apenas te informa os dias que passam indo e vindo. É preciso deixar que passem, é preciso que passemos despercebidos pela vida, tal qual os dias, visto que em certos momentos, precisamos realmente não existir.
Existem momentos onde é necessário ser um assassino mental. É preciso matar aqueles pensamentos de matar alguém, pois temos que entender que é graças àquilo que nos fizeram que pudemos evoluir para jamais nos tornarmos o que aquela pessoa é.
Existem momentos onde toda música é barulho e todo barulho, um ruído insuportável. É preciso que haja qualquer coisa que não seja nem barulho e nem silêncio, talvez uma voz que fale algo que faça o mínimo de sentido quando não enxergamos sentido em nada, talvez algo que não seja sonoro.
Existem momentos que se desdobram em outros momentos, e que de tão ramificados e entremeados uns aos outros, confundem a mente e causam uma perda do corpo no tempo. É preciso que se perca no labirinto das lembranças ou nos becos e ruelas do pensamento, pois temos que entender que é somente na angústia da solidão que encontramos a alegria da própria companhia.

domingo, 10 de abril de 2011

A Barbárie Sem Barbie

Corte: Residência de um soberano. Gente, que rodeia habitualmente o soberano.
Povoação, em que este reside. O Governo de um paí­s, em relação aos de outros paí­ses: a corte de Madrid dirigiu uma reclamação à Itália. Pessoas, que rodeiam habitualmente outra, lisonjeando-a e procurando agradar-lhe. Edifício, onde está o parlamento.

Estava postergando falar sobre esse assunto há bastante tempo, mas sinto que mais do que nunca é preciso dissertar sobre este evento em que decoradores acham-se arquitetos e arquitetos atuam como decoradores – sem, em hipótese alguma menosprezar quaisquer das duas profissões, porém não queiram por favor dizer que ali é onde a arquitetura acontece, porque móveis dispostos não resumem essa profissão, apenas soma-se às milhares de outras atribuições dessa profissão.
É preciso ressaltar antes de tudo, que a Casa “Corte” é ao que parece, um evento meio Casas Bahia de Luxo, ou seja, por ser o maior das Américas e o segundo maior do mundo, sobrevive muito mais dos números expressivos e do marketing em si, do que da originalidade de seus produtos.
Quase como uma loja de móveis itinerante que em datas determinadas acontece em diversos lugares, e cujos produtos pouco divergem de região para região, esse evento é almejado por muitos arquitetos – o que seria cômico se não fosse trágico -, onde, junto com outros profissionais, delimitam seus “cômodos”, e se divertem como se estivessem de posso de um dos mais famosos produtos da Mattel: a desejada boneca Barbie.
Então, de posse desse personagem antenado com as tendências mercadológicas de consumo, recriam seu mundinho de fantasia cor de rosa – aqui, nos tons pastéis e terrosos -, acentuando para as crianças pobres que, se algum dia comprarem – se tornarem - a boneca, jamais terão seus acessórios. E o castelinho temático decorado então, muito menos.
E como um brinquedo desse cacife precisa de todo o aparato para ostentar sua vida modernosa, a Barbie em suas últimas edições controla sua casa por meio do iPad N, aplica formol nos pimentões para que fiquem eternamente lindos na bancada da cozinha, dirige um Fiat 500 estacionado em sua garagem com TVs de LED que transmitem coisas relacionadas a carros, das quais ela não entende bulhufas. Mas o mais legal é quando ela vai ao banheiro, pois sentadinha no vazo assistindo TV, conversa com o Ken deitado na cama, olhando pra “TeVer” em seu mais íntimo momento, já que o rasgo na parede e as divisórias de vidro te convidam a esse tipo de interação.
Não menosprezo em hipótese alguma o trabalho que deve ser escolher um Buda bem diferente para que não o encontremos em mais de um ambiente, como por exemplo encontramos os sofás pretos de couro, ou as poltronas diferentes do restante da sala. E também não estou falando daquele espelhão com moldura bordada, dourada, escorado na parede, nem dos livros de moda, arquitetura, viagens e vinhos que todas as pessoas do mundo sem exceção - seja na sala, no quarto ou no escritório - lêem.
A Barbie é americana, e para não perder suas raízes em qualquer parte das Américas que seu mundinho itinerante percorrer, faz questão de que nunca falte um quadro da Broadway, de NY, um croqui das Campbe’ll Soup, ou consagradas miniaturas dos pontos turísticos de suas últimas viagens ao país de origem.
Ao final elege-se a Rainha do Travertino Romano Bruto, o Rei da Lareira com Projeções de Fogo, e então reinam durante o evento, ostentados por súditos da mídia impressa, e seguidos por sua Corte nesse império do consumo do design para as pseudo-Barbies de carne e osso.
Elas, com seus espaços “vitrinizados”, nomeados com as várias atividades que a boneca exerce em sua vida múltipla, ressaltando sua realeza e nobreza, vêem converter o aglomerado de parcerias com os patrocinadores - materializados em “móveis e papéis de parede”-, em um catálogo de fotografias sem vida, vendido para que você possa também montar sua casinha de bonecas no estilo compre-você-mesmo.
Vai edição, vem edição e eu continuo pensando: “fazer arquitetura não é, definitivamente, fazer mostra de mobiliário”.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Perda de Massa Cinzenta, Uma Realidade Contemporânea

Anorexia Cerebral: é o comportamento persistente de uma pessoa em manter sua massa cinzenta abaixo dos níveis esperados para sua idade ou meio social em que vive, juntamente a uma percepção distorcida quanto ao seu próprio eu, que leva o indivíduo a enxergar-se como inteligente.
A pesar das pessoas ao redor notarem que o anorexico possui um   Q.I. questionável, que está muito fora de uma realidade cerebral aceitável, este nega sua falta de conhecimentos ou cultura e insiste na perda de neurônios.
A pessoa que desenvolve essa doença costuma utilizar meios muito difundidos para acelerar seu processo de “emburrecimento”: além de submeter-se a exercícios físicos intensos, despende grandes preocupações com a beleza e está em constante “pose para foto”. Possui um gosto musical duvidoso, acompanha as piores séries de TV, ama filmes dublados – preferencialmente os que possuam muito mais derrapadas que falas -, e vivem sob uma forte influência de festas de temporada.

Como é o paciente: o indivíduo anorexico é caracterizado fundamentalmente por suas escolhas. São elas que definem os níveis de emagrecimento do cérebro e empobrecimento de sua capacidade de raciocínio, que pode levar inclusive a uma mudança de círculo social, visto que este não conseguirá sequer manter um diálogo sensato com os demais. Dessa maneira, encontram-se aglomerados em grupos de 5 a 8, apertados em um carro qualquer, com um som ligado no máximo volume, o que faz com que fiquem impedidos de conversar e não precisem se preocupar em entender o que está além do volante e da lata de cerveja. Porém o número de indivíduos cresce conforme o local para onde vão.
Em geral os anoréxicos cerebrais não consideram seu comportamento distorcido, e se recusam a freqüentar ambientes ou enveredar-se por situações que exijam o mínimo de entendimento.
Como não se consideram “burros”, são capazes de falar desembaraçadamente, e convictamente para amigos, familiares e colegas de trabalho. Na maior parte do tempo em que entra algum assunto complexo e capaz de gerar horas de discussão sem conclusão, se o indivíduo estiver a fim de se mostrar caso note uma insuficiência em sua aparência no que tange chamar a atenção, ele provavelmente discutirá de forma mais incisiva que os demais, desembolando uma asneira atrás da outra, direcionando sua fala, até sair completamente do tema e desembocar em algo bobo e sem sentido.

A doença: não há uma idade média onde surjam sintomas de perda de identidade ou personalidade. Muitas vezes esse distúrbio começa por um uso excessivo de programas de domingo da TV aberta, rádios populares, etc. Talvez seja mais fácil entender a doença se você notar que a pessoa não possui algum livro, não sabe sequer o que quer dizer Usina Nuclear de Fukushima – de assuntos atuais -, desenvolve piadinhas idiotas ao invés de desenvolver o raciocínio em assuntos bacanas, não entende nada de política, religião, geografia, ou o mínimo entendimento de um pouco de cada coisa, pelo menos para saber discutir contra.

Tratamento: indicado apenas quando o indivíduo toma consciência de si mesmo e consegue entender o nível de magreza em que seu cérebro se encontra. A partir daí, precisará contar com a força de vontade para não freqüentar certos lugares, conversar com certas pessoas e ouvir certos tipos de música.
Por enquanto não há uma técnica especialmente eficaz. Forçar a alimentação cultural não deve ser feito de forma rotineira. Só quando o nível de desnutrição é ameaçador.
Talvez seja bom algumas doses de anti-depressivos em intervalos irregulares, como presenteá-lo com um bom CD, livro, ingresso para algum show, ou mesmo um café com poucas pessoas para trivialidades.

Como evitar a doença: pratique a frase "Para alcançar conhecimento, adicione coisas todo dia. Para alcançar sabedoria, elimine coisas todo o dia." Lao Tse