domingo, 25 de abril de 2010

Perdendo Dentes

Quem somos afinal? Ou melhor dizendo, quem estamos agora? Talvez seja a segunda pergunta – apesar de uma entonação esquisita -, a correta a se fazer, quando queremos uma explicação para nosso estado de constante mudança.

É claro que enquanto seres humanos, estamos eternamente condicionados a uma personalidade “frágil”, que requer reajustes. Ou, uma personalidade que se condiciona conforme nos inserimos nos fragmentos sociais – culturas, crenças, pensamentos – que juntos formam a totalidade do mundo.

Quando perguntamos quem somos, estamos talvez questionando aquilo que mais ou menos se define como uma constituição humana básica, ou seja, algo que permeie entre as origens do universo e porquês da nossa existência, qual a missão aqui, etc., etc., etc. E, sabendo que são perguntas sem resposta até o presente momento – e acredito, demorará mais uns bons bilhões de anos para que as respondam, se é que conseguirão -, não há porque ficar tentando colocar a culpa ou justificativas nessa ausência de explicação sobre aquilo que nos tornamos.

Por isso acredito que perguntar quem estamos, seja um passo para entender um pouco do nosso estado atual de personalidade, gostos, desejos, anseios, subjetividades, etc. Porém é preciso entender antes de tudo, que esse “estamos” significa algo efêmero, que passará após um período de tempo indefinido, ou seja, nem sempre conformará uma personalidade eterna. Está mais para um estado atual que assumimos frente àquilo que nos inserimos. Mas pode ser que venha a constituir uma subjetividade permanente como um DNA da personalidade, se essa mudança é claro, estiver de encontro com algo que já vem enraizado no subconsciente.

Engraçado é que essas mudanças ocorrem de forma mais intensa quando deixamos o “ninho familiar” e assumimos nosso próprio ninho - seja morando sozinho, em república, com outros parentes -, tendendo a deixar de lado as convivências com o ambiente/pessoas/costumes, que rodeavam seu doce lar.

E muda uma série de coisas: sua forma de pensar, de agir, seus gostos musicais, de vestuário, amizades, amores, quase como numa troca de dentes – os de leite pelos permanentes.

E como toda criança que perde seus dentes, os que saem deixam um “espaço vazio” que apesar de inicialmente parecer algo que enfeia um pouco a imagem do todo, como o próprio apelido diz “janelinha”, significa que, além de abrir um espaço para algo novo, melhor e mais resistente ao tempo, permite antes de tudo ver todos os outros dentes, através da falta daqueles.

Sem falar que depois que o novo se instala, vem aí uma nova fisionomia, um novo sorriso. Mesmo que esse novo seja meio torto e precise de um aparelho pra colocar no lugar, ainda sim é melhor que o outro, só custará um pouco de tempo e investimentos.

Muitas pessoas acharão que você está chato, não é o mesmo, não consegue estabelecer relações com os antigos amigos e mais um monte de coisas. Mas o fato é que você sabe que não é mais o mesmo. Que agora você “está” uma boca cheia de dentes permanentes, brancos e limpos, e que anseia por algo mais que uma chupeta velha e mastigada que só atrapalhava sua dentição perfeita.

É claro, que não é porque seu sorriso agora é “Colgate” que você deixará de partilhar das coisas que sempre gostou: chicletes, balas, doces, e guloseimas variadas.

É só que desta vez, você saberá o momento de parar, escovar os dentes e ir dormir, pois, aprendeu que doce em excesso causa cáries.

E nada melhor do que “uma boca saudável”! E você, quem está agora?

domingo, 18 de abril de 2010

Sou uma Não-Expectativa

É engraçado como as pessoas criam expectativas sobre como a gente deveria ser. Vivemos como personagens do imaginário alheio. Não apenas um personagem, mas um personagem para cada pessoa, pois todas que nos cercam criam papéis para que atuemos neles, e claro algumas criam personagens mais fortes, outros apenas desenham falas que gostariam de ouvir. O contrário também ocorre: criamos papéis para que as pessoas ao redor possam atuar neles.

É cansativo você tentar atender as expectativas alheias, ou melhor dizendo, você viver por você mesmo e nunca atender as expectativas alheias. Porque por mais que você viva sua subjetividade, chega um momento que fica exaustivo as pessoas dizendo de forma incisiva a maneira como gostariam que agisse, que falasse, que se portasse diante de determinadas situações.

Mas ninguém entende ou quer entender que se agimos como agimos, é porque estamos apenas exteriorizando a realidade da subjetividade, ou mais facilmente dizendo, estamos apenas sendo nós mesmos. Qualquer outra forma de ação esperada ou pré-determinada por outro seria viver num papel que não é a realidade própria.

Fico me perguntando quão frustradas as pessoas ficam por não atingirmos o patamar de “credibilidade” segundo as definições que melhor cabem a quem as impõe. É fato afirmar que essa frustração geralmente vem acompanhada de um “puxão de orelha”, dizendo o que deveríamos ter feito ou falado em determinada situação. E é fato também que se tentarmos estabelecer qualquer réplica em defesa da subjetividade, estamos forçando uma discussão e gerando uma nova não-expectativa por não concordar com a crítica a nós direcionada.

O que realmente as pessoas que “se importam” conosco esperam de nós? Ou de que forma é medido esse “amor” por nós, visto que o eu verdadeiro é algo que volta e meia incomoda?

Ás vezes imagino que como robôs que respondem à função do botão pressionado, seja uma boa maneira de viver daqui pra frente. Pelo menos todos seriam satisfeitos pois tudo estaria pré-determinado e programado para acontecer segundo a situação que se apresenta e já pensada antes mesmo de acontecer.

Mas tenho certeza que mesmo como robôs, ainda sim, nós nunca corresponderíamos às expectativas alheias e seríamos avaliados, dizendo que nossos sistemas estão cheio de defeitos no software e não executamos as funções desejadas. Porque afinal, somos aquilo que somos, e não aquilo que programam para sermos.

Como diz um trecho da música On My shoulders – The Do: “Quanto tempo eu vou sentar e esperar como um soldado, quando você sabe que eu nunca fui familiarizado com as ordens”?

Desculpe, sou uma não-expectativa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nem sempre, mas às vezes...

Ás vezes a gente simplesmente não tem como agir. Tenta, pensa, planeja, mas não há o que fazer. É como ganhar um presente que você não gostou e aquela pessoa não mencionou a loja onde o comprou e claro, você jamais conseguirá trocá-lo.

Ás vezes a gente acorda com saudade do beijo na boca. Não de qualquer beijo na boca, mas daquele beijo na boca que na hora você apenas se deixou levar, mas dias depois se vê sentado na cama, recostado na cabeceira, olhando para a parede e pensando no quanto foi marcante.

Ás vezes a gente chora com aquela música que você já ouviu milhões de vezes, mas que a partir de um momento especial, passou a ser especial e agora, toca mais em você do que no mp3.

Ás vezes a gente passa a noite implorando ao cérebro que não apague da memória aquele cheirinho da nuca de alguém numa manhã depois de uma noite de “conchinha”, no frio do início do outono.

Ás vezes a gente quer parar o tempo. Simplesmente congelar o mundo para poder colocar a vida no lugar outra vez – se é que ela já esteve nele algum dia, mas a gente se engana afirmando que no passado tudo era diferente.

Ás vezes a gente quer sentir a água corrente gelada nos pés. E a brisa que sopra de uma maneira diferente e faz o ar penetrar mais frio nos pulmões;

Ás vezes a gente sente falta do amanhã que nunca vem. Daqueles planos que ainda são apenas planos, mas que esperamos ser realidade “quando Deus der bom tempo”.

Ás vezes a vontade mesmo é gritar, forte, alto, esperando que aquela dor “filha da puta” agarrada lá no fundo da alma saia de uma vez, como quando assoamos o nariz e sai aquela meleca enorme.

Ás vezes da vontade de não viver mais. Cansa né?

Ás vezes a gente acorda triste porque não tem poderes mágicos. Porque lâmpadas com gênios não existem e máquinas do tempo ainda não foram inventadas.

Ás vezes a gente senta a tarde olhando para algum lugar sem ver nada. Porque estamos olhando para dentro de nossa própria mente, tentando enxergar um caminho para um objetivo.

Ás vezes a gente dá uma pirada e diz para todo mundo que vai recomeçar a vida. Mudar! Faz um milhão de promessas de mudança de vida e no meio da semana já não está dando mais conta dessa palhaçada toda.

Ás vezes a gente se sente perdido. Sabe de vários caminhos, mas não sabe qual deles percorrer, pois todos levam a lugares diferentes e o que leva realmente onde você quer ir você sabe que pode ser algum deles ou nenhum.

Ás vezes a gente quer uma borracha e um lápis. Daí a gente apagaria tudo aquilo que foi mal escrito segundo nossas verdades e reescreveria da nossa maneira. Rabiscando, tentando desenhar, colorindo.

Ás vezes a gente sente vontade de ir. Imaginar que existe uma linha reta a ser percorrida e sair como se não tivesse passado ou futuro, mas apenas um infinito que não define temporalidade.

Ás vezes a gente não quer seguir nada. Quer ficar parado quietinho, shiiiiii! Fale baixo.

Ás vezes a gente dorme com os olhos inchados de tanto chorar. Uma noite você chora por um motivo, outra noite chora sem motivos – mentira, todas as noites tem motivos, mas nem sempre você admite para você mesmo, muito menos para os outros.

Ás vezes a gente não quer. A gente não quer e pronto. Não precisa de motivos, nem justificativas. A gente simplesmente não quer. E nesses momentos em que não queremos, seja o que for, ainda sim, queremos algo, que o mundo se afaste até que tudo se ajeite dentro de nós, para que possamos querer - como algumas vezes a gente quer - o abraço apertado de retorno ao mundo real.