domingo, 21 de agosto de 2011

sessão de contos: Nada de Adan no Domingo



Domingo era sempre aquela depressão em último grau. Domingo simbolizava o estado de entorpecente angústia na qual Adan sempre submergia seus pensamentos.
Domingo é o dia em que o dia demora uma semana para passar, e ainda sim consegue ser mais entediante que o horário eleitoral gratuito. Domingo é o dia onde o sol ou sai animado demais e irrita com um calor insuportável ou dorme e ronca deixando uma paz celestial em tons de cinza-vida.
Domingo é aquele dia em que a cama é mais confortável, os lençóis brincam de cabo de guerra com você e seus travesseiros insistem em abraçar seu rosto, quase tapando sua respiração, tamanha maciez.
Adan porém gostaria de pular domingos, ele os odeia. Quem sabe renomeá-lo pudesse ajudar? Quem sabe o domingo deixasse essa idéia de fim de tudo e o nome sugerisse uma sensação de início. Mesmo sendo o início da semana, domingo sempre traz essa sensação de que acabou, que não dá mais pra voltar, ou de que a semana mais uma vez voou, deixando o ócio como resultado.
Se debatendo em pensamentos, Adan quer solucionar esse enigma da angústia do domingo.
Porém aconteceu de novo, mesmo que nos mais atípicos domingos isso ocorra em menor escala, esse aconteceu. Ele sucumbiu ao estado do qual odeia estar.
Adan cedeu às chantagens sentimentais de sua mente insana e se entregou à angústia.
-“Ela é louca”. Pensa consigo sobre a angústia. “Vem sempre que estou bem e destrói toda felicidade, a mínima, até a última gota”.
Nem mesmo o escuro, o silêncio ou as músicas a espantam. Qualquer tentativa de expulsá-la faz com que na próxima vez que vier buscar o que é dela, volte ainda com maior força e levando maior quantidade de bons sentimentos.
São os impostos que se paga por ser humano, por ser “racional”, por ser dotado de massa cinzenta em quantidade suficiente para produzir sofrimentos.
Quisera ser um animal, qualquer um deles! Qualquer um não! Não gostaria de ser bicho de estimação, nem bicho de zôo. Enjaulado ele já está, seja pelo que sente ou pelo que é. Esse jardim do Éden não passa de uma ilusão criada para aprisionar nossa própria inferioridade conosco, fazendo-nos acreditar que há um mundo melhor, ou que esta prisão chamada terra pode ser melhor e só depende de esforço.
Mas como Adan poderia saber se um esforço conjunto para torná-la melhor faria de fato com que ela fosse melhor, visto que se estamos todos dotados de um vazio eterno, o problema não é esse jardim mal cuidado e sim nossa capacidade de não nos entender nessa “selva perfeita”.
Então, na criação desse jardim, Deus descansou no sétimo dia... e já não tinha mais paciência para configurar esse dia com a mesma dedicação que configurou os demais. Não mexeu muito no clima, nas reações do corpo frente a essa data estranha. Não trabalhou bem as cores intermediárias, nem perdeu muito tempo dando significados iniciais ao que era pra representar o início.
Domingo pode ser que venha de Dominó, ou seja, esse efeito onde os dias da semana vão caindo uns sobre os outros, derrubando o que está depois, até desembocar toda a força no primeiro (que na verdade em estado de espírito representa o último) dia da semana, tornando sua energia catastrófica para um espírito já fragilizado como o de Adan.
Domingo também pode ter originado de Domínio, ou seja, dessa angústia traiçoeira e forte que chega arrebatando tudo que há dentro do espírito, sem se preocupar com os estragos.
Talvez Domingo tenha mesmo originado de Do Mínimo, ou das menores quantidades de alegria, de amor, de carinho, de ânimo, de força de vontade. Do mínimo de esforço Divino para que o Domínio da angústia sobre esse efeito Dominó fosse pelo menos redistribuído nos demais dias da semana para que esse tal Sun Day não se tornasse toda semana um Insanity Day.
São 20:16 Adan, acalme seus sentimentos, pois já não há Sun nesse Day e logo, logo, um New Day irá começar, espera-se, sem nenhum Sun.