Não houve muito tempo pra pensar:
- “Eu decidi que serei feliz agora não importando de que forma”.
Gritava para si mesmo misturando lágrimas de um choro desses de babar com
espasmos de sorrisos desconexos.
Quem conhece pelo menos uma partícula sentimental de Adan jamais
conceberia a ideia de que ele finalmente estivesse se dispondo ao mundo de
possibilidades que um fim poderia trazer.
Era dezembro do meio pro fim e próximo de seu aniversário. Era tudo
tão incerto, tão efêmero, e a felicidade daqueles dias vinha em doses diárias
de sonhos cada vez maiores e isentos de matéria palpável. Mas que se dane,
viver é experimentar o sabor de terra que cada tombo proporciona. É com a
lembrança desse gosto horrível na boca que os próximos passos serão dados com
maior cautela, e também indicará que é preciso mudar de rumo. Às vezes quando a
terra não é suficientemente ruim para saborear, tende-se a dar com a cara em
algum asfalto, ou paralelepípedo, ou alguma pedra no caminho que além do
tropeço, acerta um dos lábios.
A hora era a de recomeço diante do fim do ano, do fim do mundo, do fim
de um amor e principalmente do fim dos seus 25 anos. Adan estava decidido a
fechar de maneira adulta cada um desses ciclos, e iniciar novos e maiores, onde
a volta pudesse ser completada após um percurso demorado e cheio de grandes
imprevistos. Nada de bom em ser racional e previsível, o bom mesmo está na
surpresa que o amanhã sempre traz.
- “Chega de ciclos iniciados com ansiedade adolescente, que apenas me deixam
mais tonto e me derrubam como se estivesse rodopiando numa brincadeira de girar
até não aguentar”.
Ali ele entendeu sua própria necessidade de voar e de enfim abrir
essas asas que há muito estavam paradas, atrofiando. Um retorno aos primórdios
da sua formação de personalidade e construção de valores o empurrava a retirar
a máscara que o emprestaram para interpretar uma vida e um papel que nunca
foram dele. Chega de uma autodepreciação imposta e absorvida como se a
felicidade estivesse em ser outro. É o fim para o recomeço!
Recomeçar requer força de vontade, força bruta, forçar a alma a mudar
de casa. Recomeçar requer abandonar certas palavras – amigos, hábitos, gostos,
certezas – e abraçar novas – incerteza, dúvida, medo, esperança. É reciclar
algumas palavras descartadas e relocar palavras por ordem de prioridade.
Recomeçar é estender a própria mão a si mesmo e dizer “apenas vem”.
Não importa se esse “ir” está assim tão distante.
Vá Adan, voe sem olhar para trás. Conquiste o mundo que sempre foi seu
nos mais tórridos sonhos naquele pequeno quarto. Abra de novo as asas da
imaginação e explore esse mundo com um céu que foi feito para voar alto. Tão alto
quanto se possa transformar o mais alto prédio em uma formiga pequenininha. E
volte quando sentir que já foi longe demais. Há sempre o ninho que acolhe seu
medo de terras distantes.
E não se preocupe em saber o caminho de volta, há sempre ventos que
sopram para os quatro cantos da terra sussurrando a direção da felicidade.