sábado, 22 de dezembro de 2012

Voando em Ciclos



Não houve muito tempo pra pensar:
- “Eu decidi que serei feliz agora não importando de que forma”. Gritava para si mesmo misturando lágrimas de um choro desses de babar com espasmos de sorrisos desconexos.
Quem conhece pelo menos uma partícula sentimental de Adan jamais conceberia a ideia de que ele finalmente estivesse se dispondo ao mundo de possibilidades que um fim poderia trazer.
Era dezembro do meio pro fim e próximo de seu aniversário. Era tudo tão incerto, tão efêmero, e a felicidade daqueles dias vinha em doses diárias de sonhos cada vez maiores e isentos de matéria palpável. Mas que se dane, viver é experimentar o sabor de terra que cada tombo proporciona. É com a lembrança desse gosto horrível na boca que os próximos passos serão dados com maior cautela, e também indicará que é preciso mudar de rumo. Às vezes quando a terra não é suficientemente ruim para saborear, tende-se a dar com a cara em algum asfalto, ou paralelepípedo, ou alguma pedra no caminho que além do tropeço, acerta um dos lábios.
A hora era a de recomeço diante do fim do ano, do fim do mundo, do fim de um amor e principalmente do fim dos seus 25 anos. Adan estava decidido a fechar de maneira adulta cada um desses ciclos, e iniciar novos e maiores, onde a volta pudesse ser completada após um percurso demorado e cheio de grandes imprevistos. Nada de bom em ser racional e previsível, o bom mesmo está na surpresa que o amanhã sempre traz.
- “Chega de ciclos iniciados com ansiedade adolescente, que apenas me deixam mais tonto e me derrubam como se estivesse rodopiando numa brincadeira de girar até não aguentar”.
Ali ele entendeu sua própria necessidade de voar e de enfim abrir essas asas que há muito estavam paradas, atrofiando. Um retorno aos primórdios da sua formação de personalidade e construção de valores o empurrava a retirar a máscara que o emprestaram para interpretar uma vida e um papel que nunca foram dele. Chega de uma autodepreciação imposta e absorvida como se a felicidade estivesse em ser outro. É o fim para o recomeço!
Recomeçar requer força de vontade, força bruta, forçar a alma a mudar de casa. Recomeçar requer abandonar certas palavras – amigos, hábitos, gostos, certezas – e abraçar novas – incerteza, dúvida, medo, esperança. É reciclar algumas palavras descartadas e relocar palavras por ordem de prioridade.
Recomeçar é estender a própria mão a si mesmo e dizer “apenas vem”. Não importa se esse “ir” está assim tão distante.
Vá Adan, voe sem olhar para trás. Conquiste o mundo que sempre foi seu nos mais tórridos sonhos naquele pequeno quarto. Abra de novo as asas da imaginação e explore esse mundo com um céu que foi feito para voar alto. Tão alto quanto se possa transformar o mais alto prédio em uma formiga pequenininha. E volte quando sentir que já foi longe demais. Há sempre o ninho que acolhe seu medo de terras distantes.
E não se preocupe em saber o caminho de volta, há sempre ventos que sopram para os quatro cantos da terra sussurrando a direção da felicidade.