domingo, 31 de março de 2013

Tudo Isso Pra Que?




Das mais arcaicas formas de medição do amor.

Dos mais renomados laboratórios de pesquisas científicas sentimentais.

Nas mais enfurecidas discussões de casal, onde o cerne da questão é a quantidade.

Nos copos de cerveja mais ou menos amarga, molhando a garganta que seca na tentativa de dizer alcoolizado sobre o que se sente.

Das mais equivocadas poesias aos mais bordados e melosos poemas que configuram respiros, suspiros e batimentos cardíacos para ritmar o que se sentem quando se diz que se ama.

Dos milhares de luares que inspiraram serenatas, às vezes derramando o melhor agradecimento sobre o que o outro oferecia, às vezes derramando baldes d’água.

Nas mais chuvosas noites na beira das lareiras, em poltronas e livros que discutem o próprio ser ou não ser.

Nos milhares de bem-me-quer malmequer que acabaram com a beleza de tantas flores nefastamente arrancadas de seus jardins, apenas para descarta-las num jogo de respostas sem resposta.

Das músicas que, estridentes, espantaram as borboletas adormecidas no estômago e as mantiveram voando sem rumo por horas lá dentro.

Dos anos que acrescentam dúvidas e daqueles que as esclarecem, trazendo conforto ou incômodo quando se pensa naquele alguém.

Da caderneta que se anotava o número, ao número que é anotado mentalmente quando se fala apenas um nome.

Do presente esquecido, da data especial que não volta e da viagem que foi um fiasco.

Nas ressacas depois de um término, e nas taças e brindes de um retorno.

Das promessas que nunca se cumpriram e por isso se chamam promessas, para serem almejadas como uma possibilidade inalcançável, já que o gozo está no idealismo que gira em torno da possibilidade da realização e não na realização em si.

Dos e-mails, sms, posts, inbox, ligações, recados, post it.

Das pessoas que se envolvem sem o menor controle e se descontrolam ainda mais quando percebem que estão incontroláveis.

De tudo que foi e que será no que se foi. E que talvez um dia volte, mas será numa outra forma de ser, pois nada quando se repete, repete-se exatamente da mesma forma, e é nisso que está o amor: no novo que ele sempre revela.

Porque o amor, ah o amor!

Tudo isso pra gente entender – e não entende – de uma vez por todas que ele é incomensurável.