Ai, tempo!
Você que
passa, mas é eterno.
Que vem no
ritmo das nuvens carregadas do cinza-angústia com lágrimas que derramarão na
próxima tempestade.
Que abrirá
um sorriso amarelo que despontará numa gargalhada de um laranja abafado e
ansioso.
Que às vezes
sopra com raiva, puxando os cabelos com força tentando sacudir essa cabeça
dura.
Que está em
todo lugar, mas está mesmo entupindo meus relógios analógicos e digitais, e com
sua arrogância altera meu relógio biológico, causando insônias.
Que testa
minha paciência. Sabendo que eu não a tenho, e por isso você me testa cada vez
mais e me deixa cada vez menos em vias de alcançar o que quero.
Que deixa
essas feridas abertas doendo pra caramba, enquanto segue seu curso como se não
tivesse o poder de acelerar essa cicatrização.
Que me faz matutar
sobre cada situação que não teve um fim, e nas que foram finalizadas, tentando
redesenhar um final que não termine.
Que me enche
de dúvidas, das mais inquietantes às mais estúpidas, e isso é o suficiente para
um martírio diário.
Que se
renova a cada estação enquanto eu permaneço inerte à sua mudança, ainda sem
entender se a minha deveria acontecer no seu ritmo.
Que cai
despretensioso com a chuva fina de fim de tarde nos prados e campinas,
orvalhando a grama e as plantas que crescem aparentemente alheias a ti.
Que cai
pesado e cheio de angústias, mudando o tempo, tornando-se fechado, hostil e
destruindo a esperança de um tempo melhor do que esse da chuva tempestuosa.
Que está em
todo lugar, em todas as dimensões e nas mais variadas formas de vida, porém
para cada um você se apresenta de uma maneira, ou cada um o vê da maneira que
entende.
Que promete
a cura de todas as lembranças ruins, e todos os sentimentos decadentes, mas
essa promessa não consola nem momentaneamente, antes, causa desespero por não
entender o ritmo da vida.
Que brinca
com a nossa noção de tempo, passando rápido demais quando é bom demais, e
devagar demais quando é chato demais.
Que eterniza
a si mesmo em memórias desgastadas por uma arqueologia da saudade, que insistem
em escavar cada canto da área das lembranças, descobrindo em meio à poeira,
toda uma história de um tempo que não volta mais.
Que me deixa
quando eu quero muito ir junto com você. E que, teimoso, me leva quando eu
quero muito ficar.
Que discorda
de mim em quase tudo. Que não respeita minha opinião e tem sempre a última
palavra: calma!
Que me faz
perder tempo pensando no tempo.
Ai, tempo!
Ai, tempo!
Ai de mim
que mesmo te tendo, não te entendo. Talvez não estivesse atento, mas ainda
desejo um momento de menos tormento!