sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Metade da Cara

Texto publicado no Jornal Vale do Aço em 04-12-2009 no link:

http://www.jvaonline.com.br/novo_site/jornal/35/swf/cJrbq3-ASEXT.swf

“Metade” tem sido uma palavra de destaque no universo dos relacionamentos há muito tempo:
-Esse namoro só dá dando certo porque eu sou a metade racional dessa história, já que você
é a metade infantil.
-Você roubou metade do meu coração!
-Preciso encontrar minha metade da laranja!
-Estou dividido entre meus amigos e meu relacionamento.
Essa palavra também é abordada no campo da escrita; o texto “Metade” de Osvaldo Montenegro diz em alguns trechos: (...) “Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio...” (...) “Porque metade de mim é o que
ouço, mas a outra metade é o que calo...”.Na música “Metade” da Wanessa Camargo, diz o refrão: (...)“Metade de mim te ama e te adora, outra metade de mim precisa ir embora...”
Já no refrão da música “Metade”, da Ana Carolina, diz: (...)”Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio, onde será que você está agora?”
Se tomarmos as histórias sobre seres humanos divididos que procuram sua outra parte, ou seja, que estamos pela metade e precisamos da outra para ser completo, poderemos entender que os trechos acima falam do resultado da junção dessas duas partes – dois tornaram-se um -, porém apresentando as especificidades de cada uma das metades que, mesmo estando juntas, são perceptíveis, mas necessárias para o sucesso do relacionamento: uma metade é comunicativa, a outra calada, contida; uma metade vive a euforia do amor, a outra se vê mais distante, não tão envolvida; metade está sofrendo interiormente, calada, e a outra não consegue ver esse sofrimento. Sempre uma metade é diferente da outra e, algumas vezes o total oposto, ou seja, elas não são iguais em nenhum momento, exceto pelo fato de serem metades.
Segundo estudos científicos, se dividirmos um rosto em duas partes, e juntarmos dois lados esquerdos e dois lados direitos, veremos que se formam dois rostos com pouca ou nenhuma semelhança entre si, isto é, um lado é diferente do outro e é isso que dá harmonia à fisionomia.
Pensando nessa diferença física necessária e somando-a a expressão “cara-metade”, entenderemos que estamos há séculos procurando pela pessoa errada.
Entenda: se em um rosto – vulgo cara – um lado é diferente do outro, ou seja, cada metade é única, com características um pouco diferentes ou com essas diferenças mais acentuadas, o fato de procurarmos uma cara-metade que seja nossa alma gêmea - que segundo o dicionário significa igual - de forma mais teórica estamos prestes a construir uma relação que dificilmente dará certo. Sabendo que a necessidade da diferença entre os lados da nossa cara é que a torna um todo interessante, o correto então é procurar a nossa cara-metade sendo um pouco o oposto de nós mesmos.
A partir do entendimento dessa perspectiva da diferença enquanto fator fundamental para a plenitude de uma relação a dois, estaremos prontos para enveredar pelo mundo, na busca da metade perdida.
E não, os dois não precisam gostar do mesmo gênero de filme, dos mesmos estilos musicais, das mesmas cores da pintura da parede do quarto dos filhos, do mesmo partido político ou time de futebol para terem uma final feliz. É melhor que um prefira praia e outro a montanha, que um goste de teatro e o outro de show, um prefira pizza portuguesa e o outro nem goste tanto de pizza, pois assim terão sempre uma novidade para fazerem juntos, experimentando um pouco do mundinho um do outro, já que tornando-se um, ambos precisam compartilhar e participar de tudo que agora envolve cada parte.
E vamos procurar a metade torta e diferente mesmo, e esquecer essa coisa toda de “alma gêmea”. Vivam as diferenças e que possamos enxergar nelas uma oportunidade de experimentar o novo que sequer imaginamos

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