domingo, 27 de junho de 2010

Todo Café Quente Geralmente Queima Uma Língua

Um dia frio é sempre bom. E é melhor ainda quando você faz aquele cafezinho mineiro com fumacinha saindo da xícara, sentado na frente do PC se divertindo à beça enquanto navega na web, sentindo o cheiro gostoso de um bolo que está quase assado ali no forno. Da janela aberta você contempla um céu azul amarelado de fim de tarde e ventos de inverno, enquanto uma boa música faz trilha sonora dessa cena de filme americano.

Servido o café, e com a água na boca, você toma o primeiro gole: -puta que pariu, tava quente demais, queimei a língua...!

Os próximos estágios desse ato são: -não tomar o restante do café, -perder a vontade de comer o bolo, -sentir por um bom tempo o calor na língua, -sentir umas bolinhas se formando, -sentir uma leve dormência na ponta da língua, -perder completamente a graça e não conseguir enxergar mais o céu nem ouvir a música que toca. Apenas fica com a língua pra fora tentando fazer com que ela tome um ar frio.

Café: o desejo pelo qual você despendeu todo o seu tempo para realizá-lo. Desde o cuidadoso preparo, regado a uma ansiedade por tomá-lo à idéia de algo para acompanhá-lo, o bolo.

O dia: o fator que contribuiu para aumentar sua vontade de um desejo por algo quente e saboroso, que somasse a toda essa fantasia cinematográfica.

A web: junto com a música, embalaram em um momento de completo esquecimento do que é a realidade, inserindo a mente num processo inebriante de visualizar apenas o degustar da bebida preta.

A temperatura do café: termômetro da realidade. É o fator capaz de te trazer de volta e mostrar que toda ação tem uma reação, e que tudo que é bom precisa ser dosado para não passar por uma falsa degustação, onde o sabor em si não é sentido, mas apenas a vontade de senti-lo. O que faz com que você tome de uma vez, esquecendo do processo de aquecimento que propiciou o resultado final da bebida.

A dor: capaz de apagar qualquer bela cena, tornar qualquer dia claro, escuro como o café. Fere, e deixa marcas que algumas vezes se apagam, mas que por um tempo, curto ou longo, trarão à memória o que uma atitude impensada e regada a um momento de distração pode fazer com você.

A lição: se você voltar a tomar qualquer coisa quente nas próximas 24horas, significa que sua língua não sofreu queimaduras suficientes.

Mas uma coisa é certa, no primeiro gole de qualquer bebida aquecida, com certeza a ardência voltará à tona, aquecendo essas bolinhas dormentes na ponta da língua, que perdem a sensibilidade aos sabores da vida, e quem sabe, dessa vez, você não aprende a soprar um pouco qualquer atitude que vá tomar, antes de sair satisfazendo suas vontades como uma criança mimada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário