terça-feira, 16 de junho de 2009

Quando o que Não é Bom faz Falta

Ruim_mau. Que não presta. De sentimentos perversos. Danado. Funesto.
Outro dia estava pensando sobre como a gente reclama da vida! Constantemente insatisfeitos, se não há do que reclamar a gente inventa. Se chove, a gente acha ruim porquê tem que trabalhar debaixo daquele temporal; se faz sol a gente reclama do calor.
Reclama do cabelo, reclama do som do vizinho, reclama da demora do e-mail em anexar um arquivo.
Se é leite com achocolatado, ou ta muito fraco, ou muito forte, ou tem nata, ou não tem, ou está muito quente ou está muito frio, não está na minha xícara favorita.
O pior é quando as reclamações se somam: O leite está frio, com pouco chocolate, muita nata e nesse copo horrível que você sabe que eu odeio.
Enfim, a gente reclama até de quem reclama com a gente sobre alguma coisa: - Nossa “fulano” só reclama!
O fato é que a vida sem aqueles probleminhas do dia-a-dia, não tem sentido algum. Exato.
Existem problemas que fazem com que nos encontremos, ou seja, coisas que nos tornam o mais autêntico possível e posteriormente o espaço em que estamos.
Minha habitação atual, por exemplo, é um apartamento que quase não entra sol porquê dos lados direito e esquerdo ele é colado nas laterais dos outros prédios, nos fundos ele faz divisa com outro apartamento, ou seja, sobra apenas a varanda, meu quarto e uma das salas com iluminação natural. Quando me mudei eu reclamava o tempo todo da falta de sol, de circulação de ar, etc.
Antes de morar nesse “ap” eu morava em um outro que sofria a ação do sol em todos os lados; eu reclamava do calor, da luminosidade intensa, da visibilidade que os vizinhos tinham, etc.
Agora, passado um tempo, quando estou hospedado na casa de outras pessoas, eu sinto falta dessa deficiência luminosa. A penumbra constante que existe nele faz com que eu me sinta realmente em casa. Que eu o reconheça como “meu lugar no mundo”.
O mesmo acontece em relação a cada ambiente. Sempre que eu fecho a torneira da cozinha, ela despeja um pouco de água e para. Esse defeito é parte dela e faz com que eu me lembre que eu estou em “minha cozinha”, e a ausência dele quando eu estou em outra me lembra que aquele lugar não me pertence tão intimamente.
Até a geladeira, que antes de trocar eu tinha que empurrar a porta na parte de baixo com os pés para vedar por completo fazia falta quando eu fechava outras geladeiras, porquê eu sempre acabava chutando-as. O pior era a dor no pé, porquê a antiga geladeira “respondia” ao meu empurrão, amortecendo-o e terminando de fechar-se, enquanto as outras não se moviam, ou seja, eu acabava batendo o pé numa porta dura e “perfeita”!
O que quero dizer é que precisamos aprender a enxergar nas falhas, interrupções e trincas da vida uma possibilidade de subjetividade que faz com que nos tornemos corpos únicos, adaptáveis e mutáveis em relação a nós mesmos e em conformidade com o espaço em que vivemos.
Só então será possível ver com bons olhos que a mesa de centro que no início desenhava um hematoma em minha canela toda noite quando saía para ir ao banheiro, e que agora eu sei exatamente onde fica e que é fundamental para eu me localizar no escuro, mesmo quando eu chego meio bêbado, ainda é melhor do que a parede do quarto da casa do meu amigo que eu “encontrei” sem querer, tentando achar a saída para o corredor...

Um comentário:

  1. Ja virou um hábito do ser Humano reclamar... Isso que diferencias as pessoas. O interessante é que quanto mais voce reclama mais coisas voce tem para reclamar. Tudo tem seus dois lados, o mundo é uma perfeita simetria, basta começar a exergar os dois lados, e escolher aquele que mais se assemelha aos seus ideais e princípios.

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