quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mega-Sena x Amizade

Amizade_Afeição recíproca entre dois entes. Boas relações.
Tal como fizeram com o amor, os seres humanos mais uma vez conseguiram – após milênios de árduo esforço – destruir e banalizar o real sentido da amizade.
Palavrinha idiota hoje em dia. Designa qualquer afeto momentâneo, simples ou necessidade de suprir um sentimento de carência: amigos tapa-buracos, amigos-metade do todo, amigos-virtuais, amigos-isso, amigos-aquilo.
O mundo não está de cabeça para baixo, nós estamos! Estamos submersos em nossos mundinhos imperfeitos, numa busca incessante pela perfeição e felicidade plena, a todo e qualquer custo. Custe dinheiro, custe meu próprio tempo e o tempo alheio, custe destruir o que está a minha volta. Enfim, pessoas que querem o que elas acreditam serem os melhores verbos: ser, ter, poder, fazer.
Gente que se quer “Caixinha de Perfeição”. Eu sou, eu posso, eu faço, eu tenho.
Pobres mortais de carne e osso! Mortais que sangram, que sofrem, que como o resto dos mortais desse mundo, se entediam, se aborrecem, vão a festas ruins, conhecem pessoas chatas, mas que jamais admitem o lado enfadonho da vida porquê são o máximo em tempo integral!
A vida para eles é um bilhete premiado da Mega-Sena. Já ganharam diante dos outros! Mas ainda continuam marcando infinitos números em infinitas cartelas, só que em segredo. Talvez o jogo esteja mais para jogo do bicho do que loteria da caixa, já que apostam suas fichas nos “amigos-bichos” para tentar ganhar o GRANDE PRÊMIO.
E então começam a correr contra o próprio tempo. Vivem uma disputa consigo mesmos, divididos por suas duplas-personalidades: de um lado o “eu-humano” contido, reprimido, trancado dentro de uma alma em crise, e do outro o “super-eu” escancarado, gritando, alardeado.
E jogam, e perdem em segredo, e continuam jogando e continuam perdendo. E enquanto apostam em um bicho de cada vez e esses não são sorteados e o prêmio não é alcançado, descartam-no e apostam em outro. E passam a vida num “bingo”.
-GANHEI!!! Talvez um dia finalmente exclamem. - É hora de pegar o prêmio, desfrutar da vitória, ser enfim feliz após tanto tempo de batalha. EU SOU, EU POSSO, EU TENHO. Mais do que isso, cheguei aqui sozinho, com minhas próprias mãos!
Bom, o êxtase dura pouco tempo. O suficiente para que a pessoa se posicione o mais alto possível em relação aos outros. Quando você acha que ela já está bem alta, ainda há como subir mais um pouco... A vista panorâmica é linda, o outros parecem formigas lá do alto. A pessoa ri de orelha a orelha, e comemorando. Só que está tão alta que ninguém a vê. Ninguém nota que ela está ali em cima, vitoriosa.
Porquê não existe vitória prazerosa se não for compartilhada. Mas compartilhar com quem? Ela rasgou e jogou na lixeira todas as cartelas enumeradas que não serviram para que fosse “the winner”. A felicidade não é como uma conta bancária milionária que você adquire em um momento da vida e começa a gastá-la. Ela é absorvida a longo do caminho. Durante o percurso até o “banco”, fundamentada nas relações que fazemos pelo caminho, nas pequenas coisas que encontramos, e não no momento do saque no caixa eletrônico.
Os dígitos que outrora eram sua ponte para a felicidade, agora são apenas borrões de caneta em papéis mal-cheirosos despejados em algum aterro sanitário, revirados por alguém que vive do lixo.
Os bichos das cartelas, estão rabiscados, alguns até feridos pela força com que pressionou a caneta no momento em que se viu derrotada em mais um dia de bingo.
Já dizia Elis Rejane Busanello sobre o câncer: “(..)hoje, depois de encarar a doença, cheguei à conclusão de que o câncer mata muita coisa realmente, entre elas: preguiça, vergonha, solidão, futilidades, intolerância(...). “Até quando precisaremos dele para percebermos as belezas que existem em nós e à nossa volta? (...)

Hei, acordem! Quanto tempo mais viveremos sendo consumidos pelos piores tipos de câncer do século XXI: egoísmo, individualismo, ganância, materialismo... quantos mais precisarão perder uma vida inteira alimentando essas falsas felicidades, para ao final descobrir que elas realmente eram doenças assassinas.
Sempre há tempo de iniciar o tratamento, esses tipos de câncer têm cura...

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