sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Geyses Anônimas

Texto publicado no Jornal Vale do Aço no dia 13/11/2009 no link:

http://www.jvaonline.com.br/novo_site/jornal/17swf/DoP2C3-ASEXT.swf

Meios de comunicação de todo o país vem discutindo a alguns dias o caso da estudante Geyse, expulsa da UNIBAN após ser “vaiada" pelos alunos por usar um vestido curto e decotado para ir às aulas.
Como acontece em todos os tipos de assuntos estampados pela mídia, uma parcela das pessoas ficou contra a estudante, outra parcela a favor. Argumentos surgiram e surgirão de ambos os lados e não temos a intenção de acusar ou defender a estudante em questão, mas, desejamos opinar sobre o caso que coloca em cheque a “democracia” na qual juramos que vivemos e principalmente o falso liberalismo do povo brasileiro.
Observando ambos os lados – acusadores e defensores -, nos damos conta de que essa estória de indignação nacional diante de um fato acontece na maioria das vezes quando este ganha 15 minutos de fama. O caso da aluna da UNIBAN é apenas mais um em meio a tantos outros que ocorrem diariamente no país, debaixo dos nossos narizes e pior, quando somos participantes ativos, ou seja, quando nós somos os que “vaiam”.
O que aconteceu com a estudante Geyse foi uma forma de preconceito gerado a partir de um estereótipo criado pela sociedade para “rotular” aquelas pessoas que devem ser encaradas como uma “verruga” – causadora de estranhamento e motivo de vergonha – que precisa ser retirada de qualquer forma e o mais rápido pois, está contaminando o “mundo perfeito”. Os estudantes – que segundo algum quesito, se encaixam nos padrões de seres humanos normais – se sentiram ameaçados com a presença daquela mulher de roupas “inapropriadas” e, rapidamente se sentiram na obrigação de retirá-la do ambiente de aprendizagem - também conhecido como ambiente de educação – e de forma “liberal”, agrediram moralmente a jovem.
Num país cujo cartão postal é o carnaval, ou seja, onde todo tipo de promiscuidade é vista como normal, onde mulheres desfilam nuas, celebridades são flagradas em festas usando vestidos curtos e sem lingerie, onde programas de TV de finais de semana durante todo o dia exibem mulheres melancias, etc. realmente é de admirar o porquê da indignação dos estudantes e daqueles que os apóiam.
Existem assuntos muito mais sérios que deveriam ser encarados com maior indignação do que o caso da estudante da UNIBAN: governo cheio de corrupção, pessoas ainda sem infra-estrutura básica de água, luz e esgoto, crimes hediondos a todo instante, etc.
Se pararmos para pensar, sempre estamos nos esbarrando com essas questões de julgamentos baseados em nossas próprias convicções. Escolhemos aqueles que queremos que sejam “excluídos” da sociedade porque nos achamos superiores e no direito de fazê-lo e, nos ausentando da culpa, influenciamos as pessoas ao máximo a enxergar da forma que queremos.
O caso da estudante chama a atenção para os rumos que estamos deixando que a sociedade tome, ou seja, um mundo que caminha com seres humanos cada vez mais individualistas e menos tolerantes, de pessoas que dizem buscar a paz, mas essa está cada vez mais distante.
Há quem diga que Geyse é a “Maria Madalena” contemporânea, apedrejada com palavras pela multidão indignada com seu comportamento. Resta-nos escolher de qual lado ficaremos: daqueles que “não tem pecados” e atiram pedras o tempo inteiro, ou de Jesus. E quando falamos em escolher o lado d’Ele, em hipótese alguma estamos falando de religiosidade, estamos apenas exemplificando que sempre que estivermos diante de uma situação como essa, temos que ser sensatos o suficiente para olharmos nossas próprias vidas.
E somente dessa maneira, seremos capazes de compreender as diferenças, ao invés de “apontar” para as milhares de Geyses-mulheres, Geyses-idosos, Geyses-crianças, Geyses-negros, Geyses-gays, enfim, todos aqueles que sofrem diariamente com algum tipo de agressão moral e física por preconceito dos outros “estudantes” da uniVIDA.

Um comentário:

  1. Estudante da UniVida...hehe...ADOREI.

    Ivan, a hipocrisia "é mato" num país onde os grandes cachorros do governo, como Collor e Sarney, cirandam na dança da palhaçada popular. Também chamada de eleição.

    Como um dia brotou um pensamento da minha "ignorante" cabecinha, rs: "O problema da sociedade é a própria sociedade".

    Amo seus textos, cada vez escrevendo melhor... e as cores do blog mudadas? gostei também...

    Um super abraço.
    (texto novo no meu blog, espia lá dpois) :)

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