Definir: 1. Dar a significação,
o sentido, a definição de. 2. Explicar; revelar. 3. Determinar, fixar. 4.
Decidir. 5. Decretar. 6. Ser definido; depreender-se.
"Quando você tenta definir [a Vida], consegue apenas a banalidade
do niilismo formal, no qual o universo é visto como uma história contada por um
idiota, cheia de sons e fúria, mas sem nenhum significado." Gustavo
Cappelli.
Para entender a necessidade dos rótulos com datas de validade,
sabores, números e imagens de design convidativo que nós humanos recebemos,
temos antes que compreender nosso próprio desejo de auto-entendimento tal qual
queremos significados concretos sobre o universo ao nosso redor. Quando falo do
desejo, falo desse querer etéreo sem, contudo predispor uma ação real ou uma
vontade latente e verdadeira em alcançar uma aspiração, tornando-se, portanto
uma prática comum, sedimentada por já nascer em uma sociedade cujas definições
são de fundamental importância.
E é provavelmente nesse círculo vicioso da educação para a vida, que
se encontre a raiz dessa preponderante ambição em nomear o que se vê, sente,
vive. Quando uma criança desde pequena começa a fazer perguntas, logo nos
deparamos com um hábito em responder a tudo, dentro do universo dela, às vezes
passando por situações de constrangimento em se ver diante do eterno, "mas
porque?".
O que fazemos na maior parte das vezes é ditar para ela o que é o seu
mundo ao redor, formatando-o em palavras soltas e vazias em si mesmas, e que,
no entanto não dizem nada senão sons e vibrações ao ouvido. Imagine aquela
criança peralta que insiste em querer colocar o dedo na tomada, e os pais
insistem em impedi-la dizendo: "-Não pode colocar o dedo aí, que dá
choque". Choque pela definição do dicionário é a passagem da corrente
elétrica pelo nosso corpo; porém, muito mais do que o significado da palavra,
levar um choque envolve um misto de sensações que poderia tentar descrever como
adrenalina, susto, ansiedade, desespero, dentre outras; uma criança no entanto jamais entenderá - ou mesmo nós adultos - o
que é realmente levar um choque até que tenhamos passado pela experiência, sem
contudo, preocupar-se em tentar defini-la depois.
É a partir das interações individuais e das subjetividades em
experienciar o mundo é que conseguimos colecionar momentos que, de tão
emocionantes tornam única a experiência do choque. E não adianta querer dizer
que levar um choque é ruim, porque conheço pessoas que acham essa experiência
algo interessante.
O problema das definições é querer acreditar que tudo que não foi
catalogado de uma maneira ou de outra, deve ser considerado estranho, bizarro,
inexistente, ou simplesmente precisa ser encarado como algo negativo. E levando
em consideração o mundo em que vivemos onde a maior parte das pessoas caminha
em direção ao fluxo, precisamos entender de forma clara que não é porque a
maior parte da população acha que o choque é algo ruim, que ele é ruim e ponto.
Toda experiência é subjetiva, em todos os aspectos; é impossível que
eu experimente o mundo de forma alheia. Por mais que observar uma fotografia
seja observar a vida pelos olhos de um fotógrafo, ainda sim, quando olho para a
fotografia e sou tomado de sensações, não há como eu igualar o meu olhar ao
dele ou ao dos demais que a observam também. Desde a materialização da fotografia
até sua exposição para observação, há, além de questões temporais, a diferença
entre estar no lugar e enquadrar a foto, e observar a foto depois de revelada.
Querer definir todas as vivências é querer limitar o mundo de forma
verbal. Experiências profundas não podem ser definidas, porque se forem
explicadas por meio de palavras, não foram vivenciadas em sua totalidade, mas
somente de uma maneira que possibilitaria um entendimento no âmbito da
linguagem; e não é somente a fala que expressa tudo o que vivemos não é mesmo?
Não obstante, jamais pratiquemos a máxima mínima que diz: "A voz
do povo é a voz de Deus". Se assim fosse, o mundo seria por interpretação,
regido por um Deus confuso, pois eu sou um povo que não gosto de levar choque,
fulano é um povo que gosta da corrente elétrica passando pelo corpo, beltrano é
o povo que nem energia elétrica para possibilitar vivenciar essa experiência
tem; logo, a voz do povo pode ser a voz da subjetividade.
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