Dando continuidade ao capítulo anterior no
qual estamos dissertando sobre rótulos e definições, inicio esse capítulo
traçando uma crítica subjetiva em relação à fotografia.
Em geral acho a fotografia algo fascinante,
porém acredito que em alguns casos, alguém que se preocupe muito mais em
enquadrar uma experiência da qual está passando ou passará, não consegue se
aproximar das vivências de tal experiência, visto que há um querer em converter
o momento sentido em uma manifestação narrada por meio de recursos visuais, do
que se supõe ter sido a experiência em si.
Não que a mesma não seja interessante ou
valha a pena, porém não percorre os caminhos das vivências verdadeiras, pelo
simples fato de haver a necessidade em definir por foto, algo que não tem em si
mesmo qualquer definição capaz de exprimir o fato.
Saindo desse mundo mais íntimo da fotografia
mais técnica e entrando em algo mais amador, caímos no mundo contemporâneo onde
todos são fotógrafos nas redes sociais.
Há além dos já conhecidos álbuns em cada uma
delas, uma rede social específica para postagem de fotos. Em ambos os casos,
acredito que haja ainda mais forte do que a não-experimentação do que estão
tentando enquadrar, uma necessidade da opinião alheia sobre a pseudo-vivência,
para balizar se o que está na foto é realmente legal ou não.
E esse aspecto se intensifica na medida em
que no Facebook por exemplo, temos um botão para curtir a foto dos amigos, mas
não temos um botão para não curtir a foto, ou seja, ou eu concordo que o
enquadramento da não-experiência é definido por uma provável sensação de
"bacana" - visualmente sentido -, tal qual a própria não-experiência
de quem a fotografou e acredita ter vivenciado de fato.
Em um outro aspecto mais delicado entra a
questão do amor. É óbvio que todo mundo tenta manifestar opinião a respeito do
que é amar e ser amado, classificar o sentimento e expressar "eu te
amo" na mais intensa forma. Porém, como basear se o amor é mesmo amor,
quando não é possível definir o que é esse sentimento que está tão além de
quaisquer definições?
Não há um padrão, não há regras, nem leis
que regem uma esfera do que poderia se definir como amor. Há apenas um monte de
gente falando baboseiras das quais mais um monte de gente que tem preguiça de
pensar acata, e então citam que amar é isso e aquilo, é se sentir dessa ou
daquela maneira, é pensar dessa ou daquela forma.
Não estou dizendo que a partir de agora as
pessoas não digam mais "eu te amo", estou apenas tentando dizer que
há subjetividade no que cada um sente, e que querer traçar regrinhas de como o
amor se manifesta, é querer trazer para uma escala medíocre de entendimento
algo que jamais será compreendido de forma medíocre.
Então você pode passar a vida dizendo eu te
amo por esse ou aquele fator, dizer que o outro te causa isso e aquilo, e no
final das contas cair em si de que pode ser apenas um desejo forte ou uma série
de outros fatores que te levaram a tentar inclusive justificar pra você mesmo
dizendo que o que sentia era amor, por falta de entendimento dos sentimentos
que jamais serão explicados, tendo então que defini-los de qualquer maneira. É
o mesmo que querer hierarquizar o amor e dizer: eu amo mais fulano do que ele
me ama. Porra! É amor, não há como classificar quantitativamente um sentimento
desses.
O que não é o caso da Coca-cola. Você pode
gostar mais ou menos que outras pessoas, porque estamos falando de algo banal,
superficial - não no sentido literal -,
porém numa escala que envolve uma experimentação do líquido escuro
subjetivamente e totalmente sem regras impostas visto que quando da tentativa
de narrar para as pessoas que nunca o tomaram
- citando maneiras de melhor saboreá-la -, às vezes nos surpreendemos
com o fato de depois de provarem a bebida, não gostarem. Mesmo depois de todo
um enfatizar de sensações e sabores, ainda sim, não se deixaram levar pela
magia que em cada um é diferente, exatamente por isso, por ser subjetivo.
A Coca-cola está ligada a um juízo de valor:
gosto ou não gosto, enquanto que a fotografia pode ser entendida se analisada
com um olhar mais crítico e menos individualista, e o amor apenas sentido sem
interesse em rótulos do porque pode ser ou não considerado amor.
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