E foi assim,
da maneira mais ridícula, clichê, banal e da qual sempre hostilizei qualquer
outro ser humano que a praticasse, que aconteceu comigo: um amor à primeira
vista!
Só de olhar
eu soube que te amei, mas foi um amor só de olhar!
E foi o meu
amor que eu inventei, instituí e quis que fosse, porque no meu coração eu
mando. Comigo não tem essa de ser vítima das peripécias desse órgão que não se
contenta em executar a única função da qual está estabelecido: bombear sangue.
Nele eu reciclo os valores, os sentimentos, as carências, e uso como bem
entendo. Às vezes economizando, às vezes gastando de maneira desregrada, mas
amando, amando da forma que entendi que se ama.
Mas foi
mesmo assim, foi bem assim que aconteceu, eu inventei esse amor por você da mesma
maneira que inventei esse medo de me entregar. Sempre que posso faço dos meus
sentimentos um jogo de tabuleiro: pulo algumas casas, volto outras, burlo as
regras e roubo o quanto posso. Sim, eu roubo!
E minto!
Minto que não consigo viver sem você, minto que posso viver sem você, minto que
a vida é fácil, que sou forte e minto o contrário. É tudo mentira, até eu
mesmo! Mas é mais fácil ser e não ser. É mais fácil a liberdade de ir e vir,
porque eu quero ir quando quiser ir e voltar quando quiser voltar. Sem precisar
só ir ou só vir.
Mas te amo
banal, te amo de maneira completamente dispensável, e é na futilidade dos
excessos que se configuram os sentimentos reais da mentira necessária. Mas quem
senão eu mesmo, pode dizer que meu amor-mentira não vale a pena?
Quem pode
dizer que estou errado, que estou sendo sacana, te usando, me usando,
inventando argumentos para satisfazer meus insaciáveis desejos de você. De
querer te engolir e te deixar ser devorado pelo meu suco gástrico amargo. Te
deixar afogar um pouco no estômago para suprir meu desejo sádico de te ver
sofrer um pouquinho. Não é maldade, mas é gostoso estar no seu controle.
Viu como eu
invento meus desejos, meu amor-sofrimento. Eu invento como um artista que
recria o mundo chato deixando-o divertido. Quero um amor-abstrato, pintado na
fúria da discussão ciumenta, do cheiro do sexo safado, do beijo proibido na rua
vazia de madrugada. Seja essa realidade blasé, eterna em sua concepção efêmera.
Pense o que quiser sobre mim, mas não questione meus princípios, meus motivos,
minha irrealidade peculiar em te desejar como um escravo desse querer bipolar.
Me ofenda
com palavras duras, difíceis e discursos elaborados. Vou rir de você, da sua
seriedade com uma coisa tão simples como nosso amor. Vai gritar que eu sou
insano, sou infantil, sou irresponsável. Seu ódio vai me chamar de desgraçado,
de vagabundo, de puto e me mandar pro inferno.
E que eu vá
pro lugar que você me manda, mas que eu volte do inferno da paz para o inferno
da sua companhia! Porque é o nosso amor-fogo, nosso amor-ódio, nosso amor-amor
que movimenta essa doença chamada relacionamento.
Não me
rotule de nada! Não me nomeie como amante, amigo, amado. Me diga que sou pra
você, e apenas sou, não importando o que “ser” significa para nós.
Porque é para
nós que toda essa história de altos e baixos se reescreve. Não é para ninguém
que nos lê à distância, indignados com nossa forma de viver esse amor-bizarro.
É nossa arte egoísta, pintada subliminar para que apenas nós dois entendamos.
E se você
não ler tudo isso que eu inventei, é porque provavelmente você também já foi
“desinventado”. Não se assuste, você não é irreal, mas é real somente para mim.
Então finja
que estou certo para que eu não precise matá-lo mais vezes e renascê-lo no
âmago da minha solidão, como um abajur aceso quando o escuro causa medo.
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