quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

E Foi Assim Que Eu Te Inventei



E foi assim, da maneira mais ridícula, clichê, banal e da qual sempre hostilizei qualquer outro ser humano que a praticasse, que aconteceu comigo: um amor à primeira vista!
Só de olhar eu soube que te amei, mas foi um amor só de olhar!
E foi o meu amor que eu inventei, instituí e quis que fosse, porque no meu coração eu mando. Comigo não tem essa de ser vítima das peripécias desse órgão que não se contenta em executar a única função da qual está estabelecido: bombear sangue. Nele eu reciclo os valores, os sentimentos, as carências, e uso como bem entendo. Às vezes economizando, às vezes gastando de maneira desregrada, mas amando, amando da forma que entendi que se ama.
Mas foi mesmo assim, foi bem assim que aconteceu, eu inventei esse amor por você da mesma maneira que inventei esse medo de me entregar. Sempre que posso faço dos meus sentimentos um jogo de tabuleiro: pulo algumas casas, volto outras, burlo as regras e roubo o quanto posso. Sim, eu roubo!
E minto! Minto que não consigo viver sem você, minto que posso viver sem você, minto que a vida é fácil, que sou forte e minto o contrário. É tudo mentira, até eu mesmo! Mas é mais fácil ser e não ser. É mais fácil a liberdade de ir e vir, porque eu quero ir quando quiser ir e voltar quando quiser voltar. Sem precisar só ir ou só vir.
Mas te amo banal, te amo de maneira completamente dispensável, e é na futilidade dos excessos que se configuram os sentimentos reais da mentira necessária. Mas quem senão eu mesmo, pode dizer que meu amor-mentira não vale a pena?
Quem pode dizer que estou errado, que estou sendo sacana, te usando, me usando, inventando argumentos para satisfazer meus insaciáveis desejos de você. De querer te engolir e te deixar ser devorado pelo meu suco gástrico amargo. Te deixar afogar um pouco no estômago para suprir meu desejo sádico de te ver sofrer um pouquinho. Não é maldade, mas é gostoso estar no seu controle.
Viu como eu invento meus desejos, meu amor-sofrimento. Eu invento como um artista que recria o mundo chato deixando-o divertido. Quero um amor-abstrato, pintado na fúria da discussão ciumenta, do cheiro do sexo safado, do beijo proibido na rua vazia de madrugada. Seja essa realidade blasé, eterna em sua concepção efêmera. Pense o que quiser sobre mim, mas não questione meus princípios, meus motivos, minha irrealidade peculiar em te desejar como um escravo desse querer bipolar.
Me ofenda com palavras duras, difíceis e discursos elaborados. Vou rir de você, da sua seriedade com uma coisa tão simples como nosso amor. Vai gritar que eu sou insano, sou infantil, sou irresponsável. Seu ódio vai me chamar de desgraçado, de vagabundo, de puto e me mandar pro inferno.
E que eu vá pro lugar que você me manda, mas que eu volte do inferno da paz para o inferno da sua companhia! Porque é o nosso amor-fogo, nosso amor-ódio, nosso amor-amor que movimenta essa doença chamada relacionamento.
Não me rotule de nada! Não me nomeie como amante, amigo, amado. Me diga que sou pra você, e apenas sou, não importando o que “ser” significa para nós.
Porque é para nós que toda essa história de altos e baixos se reescreve. Não é para ninguém que nos lê à distância, indignados com nossa forma de viver esse amor-bizarro. É nossa arte egoísta, pintada subliminar para que apenas nós dois entendamos.
E se você não ler tudo isso que eu inventei, é porque provavelmente você também já foi “desinventado”. Não se assuste, você não é irreal, mas é real somente para mim.
Então finja que estou certo para que eu não precise matá-lo mais vezes e renascê-lo no âmago da minha solidão, como um abajur aceso quando o escuro causa medo. 

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