sábado, 17 de março de 2012

A Cidade-Fruta e o Sentimento-Fresco



Era, uma vez! Sim, era; ou não, não era, foi, a algum tempo atrás, um tempo tão distante que talvez as gerações mais antigas da sua família não guardem relatos de gerações anteriores a eles que viveram nesse lugar. No tempo de Roma. Sim, Roma, a cidade do sentimento verdadeiro, hoje conhecido como amor.
Pois é, ainda é uma história meio empoeirada e poucos relatos e documentos comprovam que a Roma que conhecemos foi apenas um desvio ortográfico e deveria mesmo se chamar Romã. Chegaram a essa conclusão depois de entender que o borrão de tinta sobre o “a” na verdade era o “til” que dava a entonação da palavra. E com a tão alardeada história da Roma que conhecemos, todos se esqueceram rapidamente da Roma verdadeira.
 A Roma perdida na memória era uma cidade ao contrário das cidades que conhecemos hoje, pode-se afirmar com convicção, que Roma era de trás pra frente.
Tente imaginar uma cidade cujo centro, o coração desse organismo, pulsando livre, sem muros, sem armas apontadas para fora do corpo. Nada de exércitos preparados para a guerra. Imagine que apenas existia o sentimento na forma mais pura, mais inocente, mais sincera.
Assim era Roma, totalmente diferente da Roma de hoje, que, além de estar ao contrário, perdeu toda a essência de lugar do outro.
A cidade perdida na memória se configurava e se desenvolvia na medida das experiências dos seus habitantes. Eram as pessoas que diariamente se entregavam à Roma em busca de erguer pilares que sustentassem os sonhos mais íntimos, capazes de transformar qualquer rotina chata em um dia-a-dia surpreendente. Mas o sonho, que hoje é individual e exige esforços conjuntos para a satisfação de um, quando em Roma, era feito por dois, para dois, compartilhado e vivido para satisfação mútua.
“Todos os caminhos conduzem a Roma”, porém as pessoas se perdem na solidão do medo e na mudez que impede a conversa sincera para que se chegue àquele lugar - ainda hoje. Sim, Roma existe, ao longe, quase perdida como uma Atlântida, mas dá para se chegar lá. Nunca conheci quem voltou para contar como é, porque é sempre assim com Roma, quem vai nunca volta, voltar é sempre um retrocesso quando o assunto é a Roma verdadeira.
E “quem tem boca vaia Roma”, deturpa sua verdadeira essência, pregando uma história inversa ao que o lugar realmente foi. E a mesma boca que vaia, é a que faz esse marketing enganoso de que Roma é isso ou aquilo, Roma é dessa ou daquela maneira.
Não se discute Roma, não se discute a história que ergueu a cidade e revolucionou a maneira de se relacionar com os outros. O lugar não está relatado em manuscritos, e não se sabe se houve algum dia uma forma de comunicação em linguagem oral, já que não encontraram quaisquer vestígios de um idioma próprio, desenhos ou maneiras racionais de documentar a existência de Roma a não ser por uma vaga lembrança de que a cidade era possível.
Imagine então que sem confirmação científica Roma parece distante, parece ficção, e fazer as pessoas acreditarem novamente na existência da cidade é quase uma tarefa de um deus, tipo Afrodite, quando por meio de um anjo com arco e flecha, solicitou que fosse construída uma fonte inesgotável bem no coração da cidade. Uma fonte que jorrasse em Roma para sempre.
Mas infelizmente o uso indiscriminado do precioso líquido, fez com que mesmo uma criação divina fosse transformada em ruínas, e o tempo, cobrindo de areia e história até não ser mais possível chegar nela para saciar a sede.
E hoje, vai mesmo a Roma que não tem boca seca, quem é mudo, quem tem apenas a linguagem dos sinais, dos gestos, das atitudes reais contra a palavra-mentira. Quem deseja saciar-se do que Roma tem a oferecer, e não do Pão e Circo que a Roma atual oferece para distrair seus habitantes sedentos pelo sofrimento alheio em prol do divertimento pessoal.
Mas acredite quando eu digo que Roma existe, assim como Deus existe, não da forma que conhecemos, mas de uma forma que ainda não experimentamos.
...Assim é Roma, o contrário do que lemos!

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