domingo, 13 de setembro de 2009

Hikikomoris do Corpo Contemporâneo

Hikikomori_ é um termo de origem japonesa que designa um comportamento de extremo isolamento doméstico. Os hikikomori são pessoas geralmente jovens entre 18 a 34 anos que se retiram completamente da sociedade, evitando contato com outras pessoas. Em geral, moram sozinhos ou com os pais e se dedicam a internet, mangás, animes e video-games como forma de preencher o tempo e viver num mundo isolado fantasiando a realidade. Os individuos tem seu desenvolvimento social paralisado afetando o processo natural de amadurecimento.
Podemos chamar-nos de “Hikikomori do Corpo Contemporâneo”, pois estamos lutando para conter nossos eus subjetivos diante desse mundo de “eus pré-estabelecidos”, so que ao invés de nos trancarmos dentro de nossas casas, estamos trancando nossas essências dentro de um corpo moldado nas fôrmas do capitalismo.
Nos habituamos a consultar os espelhos quando estamos em dúvida em relação a nós mesmos enquanto aspirantes a fazer parte da sociedade contemporânea, e a jamais consultar nossas idéias ou inquietações quando algo vai contra nossas preferências.
E cada vez que ignoramos uma necessidade de reforma íntima diante dessas indagações sobre qualquer coisa, é mais uma pressão que fazemos sobre nosso verdadeiro eu, com o intuito de colocá-lo escondido e lá no fundo, com medo de ser rejeitado pela minoria - que dita como ser no mundo atual -, mas fortes o suficiente consigo mesmas à ponto de convencer a maioria sobre tais ideais de comportamento.
E chega a ser engraçado como uma grande quantidade de cabeças não pensam, ou seja, somos muito mais fortes sozinhos do que em grandes grupos. Podemos nos comparar facilmente a um bando de guinus na savana africana sendo perseguidos por uma única leoa; somos “15.000” contra um, mas ainda sim, não somos capazes de nenhuma reação a não ser esperar para ver qual será devorado.
Não menos agressivo e cruel, seremos um a um – agora com maior facilidade e mais rapidez – devorados pela leoa dos ideais de felicidade baseados no consumo e na imagem; pouco a pouco nos entregaremos como presas frágeis e doentes – cansadas de tentar fazer parte do topo de cadeia alimentar – ao invés de assumirmos nossa posição de guinus, porém tomando partido de nossa força e capacidade de ação, das potencialidades e subjetividades, entendendo que nossas fragilidades não são erradas, mas sim parte necessária para aprendermos com nós mesmos, novas estratégias de defesa.
Tal qual os hikikomori se encontram nesta situação devido ao alto grau de perfeição exigido das pessoas em tarefas diárias psicológicos de baixa auto-estima e em alguns casos extremos tendências sociopáticas graves, e há casos extremos onde filhos chegam aos 40 anos ainda dependentes dos pais e sem experiência profissional, temos que livrar nossos eus desse estado de exigência de perfeição absoluta.
Nos dando o direito de errar, de assumir nossos medos e imperfeições, nossas impotências diante de quaisquer situações, estaremos explodindo as paredes de aço que seguram esse verdadeiro "eu" que sofre, que ri, que chora, que se encanta, mas sobretudo, esse "eu" que é capaz de se aceitar em suas subjetividades e aprender com elas.

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