sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Em Tempos de Crise Interior a Faca e o Queijo são só Detalhes

Texto publicado no Jornal Vale do Aço em 23/10/2009

http://www.jvaflash.com/jornal/Flash/20091023/carrega_pag12.htm

Problemas, decisões, escolhas, opções, ações, iniciativas, abdicações, aceitações...
Passamos e passaremos a vida divididos por escolhas e decisões. Somos condicionados a procurar sempre o melhor caminho, focando o lado bom e nos preparando para a vitória, ou seja, estamos tão focados nos lucros que esperamos que a vida nos proporcione, que na maior parte do tempo em que nos deparamos com fracassos ou prejuízos, não sabemos como lidar com eles e posteriormente entramos numa espécie de “crise interior”.
Essa falta de “maturidade” para resolver as problemáticas do dia-a-dia nos torna cada vez menos seguros com nós mesmos e com nossa capacidade de avaliar a situação à qual estamos passando – ou passaremos – impedindo-nos de pensar em maneiras menos complexas ou dolorosas de resolver tudo.
Nesses momentos de desespero, tendemos a piorar – e muito – nossa capacidade de ação. Em geral nós atrofiamos nosso tempo, agindo sempre impacientemente, sem pensar, de forma imediatista, avaliando apenas as conseqüências em curto prazo. Isso implica em uma soma dos problemas no futuro: o atual, que estamos resolvendo, e outro que surgirá após a má resolução do primeiro.
Durante esses períodos de crise e desespero sempre aparecem os “gourmets da vida” - um parente distante, um vizinho que nunca convivemos muito ou um amigo não tão íntimo. Esses gourmets são as pessoas que menos convivem conosco, e se acham capazes de resolver todos os problemas da humanidade, se apenas seguirmos suas “receitas”. Geralmente elas impõem suas opiniões e conselhos – convictos de sua experiência no problema -, e ainda com a ousadia de dizer que acham um absurdo que não tenhamos resolvido tal problema, que fazemos muito drama à toa, já que “estamos com a faca e o queijo na mão”!
Mas e aí...? Se fosse tão simples apenas ter uma faca e um queijo, qualquer pessoa passaria por uma crise fácil, fácil. E sabe por que não passamos? Porque é preciso avaliar o problema por ângulos diferentes, ou seja, precisamos primeiro descobrir o tipo do queijo e de faca com o qual estamos lidando, para então entender as possibilidades que ambos nos permitem.
Por exemplo, não adianta termos um pote de catupiry e uma faca de açougueiro – daquelas de desenho animado – que a faca não caberá no pote; se for cheddar fatiado em uma bandeja de isopor, não terá utilidade nenhuma se a faca for elétrica; e menos ainda se for uma peça de parmesão e uma faca de mesa.
Entendido o que são, é preciso ainda saber o que fazer com eles: cortar, passar, grelhar, assar, misturar, tostar, enfim, entender qual o próximo passo para que a decisão que tomamos não nos cause indigestão. Mesmo que o sabor do queijo que temos em mãos e o tipo da faca que usaremos não sejam familiares ou agradáveis ao paladar, é exatamente nesse momento que temos a chance de usar a criatividade e aprimorar nossos gostos e capacidade de ação em situações complexas.
Agora, se realmente não estivermos preparados para manipular nossos queijos sozinhos, o melhor a fazer é chamar amigos e conhecidos que também estejam segurando seus queijos e facas –sem saber o que fazer com eles – reunir na varanda do apartamento ou casa, numa noite quente dessas de primavera, cada um trazendo ainda uma boa garrafa de vinho, um violão, bom humor e disposição para passar a madrugada tocando e trocando os sabores dessas novas experiências de vida.

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