Relacionamentos são como aquelas tão sonhadas férias. Você passa o ano inteiro trabalhando (na solteirice) se divertindo com os amigos, colegas e sendo você mesmo o dono do seu nariz, mas ainda sim insatisfeito porque não tem alguém ali pra te tirar parte dessa responsabilidade sobre seu eu.
Apesar de toda a chatice da rotina ou da árdua tarefa de descascar imensos abacaxis e entregar o suco pronto pro seu chefe tomar e ainda ouvir que está com pouco açúcar, entre um copo de cerveja para esquecer os problemas e um brinde com um bom espumante para celebrar a solteirice ao mundo e chorar a mesma no seu mundo, lá se vai mais uma semana, e o fim dela e o começo de uma nova.
Permitam-me usar essa pergunta na primeira pessoa do singular, mas eu realmente não entendo que medo é esse que faz com que as pessoas travem a boca, trancando os lábios, pensando alguns segundos a mais na resposta antes de anunciá-la quase sussurrando, que já faz um bom tempo que estão solteiras.
Besteira cultural essa coisa de achar que todo mundo tem obrigação de carregar alguém pra sua vida, como se a felicidade só habitasse um apartamento aconchegante e uma vida financeira estável se elas foram adquiridas com duplo esforço.
E maior besteira ainda essa “solterofobia coletiva” que assola o mundo desde tempos imemoriais tal qual uma doença epidêmica e incurável, como se ficar consigo mesmo fosse insuportável ao ponto do outro ser muito melhor que sua própria companhia.
E ainda mais gigante e preocupante é o orgulho que as pessoas em um relacionamento sentem ao abrir a boca num dilatação da mandíbula duas vezes maior que o normal, em vias de deslocar o próprio queixo e quase cuspindo letra por letra como dardos em direção a um alvo - sinalizando com marcador de texto - o quanto são felizes por ter alguém “que se preocupa com você”, que te ama de verdade bláh, bláh, bláh.
Não estou dizendo que todas as pessoas são assim, porque toda regra é claro tem exceções, mas poderia ser cômico - se não fosse trágico – o tom de deboche misturado com alfinetadas que educadamente dizem: “EU TENHO UM RELACIONAMENTO E ISSO SIGNIFICA QUE SOU DESEJADO, GOSTOSO E ALGUÉM ME AMA E VOCÊ É FEIO E ESTÁ LARGADO AO VENTO!”, ou seja, tenho alguém e sou feliz, você não tem e não o é. Mais ou menos uma hierarquização, se assim posso dizer.
As pessoas mudaram leis, mudaram dogmas religiosos. A todo momento desenvolvem-se novas tecnologias que melhoram e pioram a vida das pessoas, inventa-se a cura e criam novas doenças, muda o jeito de se vestir, aquilo que se ouve, come-se de modo a passar menos tempo no preparo para não perder tempo de trabalho. Ou seja, o homem está aí, fazendo gato e sapato do mundo e da sociedade, instituindo o que o ego de quem é mais ousado deseja que seja feito, e continuamos a nos deparar com os fantasmas dos relacionamentos, onde a forminha do casamento, forjada a ferro fundido a um bom tempo atrás, ainda é usada, mesmo que de alumínio ou de silicone, na mesma forma final dos nossos tatatatatatatataravós.
Ainda desejamos os cinco passos que levam ao objetivo familiar: conhecer, ficar, namorar, noivar, casar – ainda que os mais impacientes queimem a maioria deles -, e não nos perguntamos o porque de aceitar de mão beijada todo esse roteiro pré-escrito ao invés de fazermos nossa própria história.
E antes que alguém levante a mão pra defender o casamento, namoro e tal, não estou aqui levantando a bandeirinha contra ou a favor de nada, estou apenas me questionando sobre quantos anos mais levaremos pra entender que se tudo muda pra se adequar ao pensamento daquele tempo, acho que está mais do que no momento de fazermos o mesmo com os relacionamentos, já que no fundo, algumas pessoas se relacionam muito bem consigo mesmas, e nem por isso deixa de ser um relacionamento.
E as férias, ah, nem sempre os sonhos são realidade e às vezes o planejamento é sempre melhor que o resultado final.
E as férias, ah, nem sempre os sonhos são realidade e às vezes o planejamento é sempre melhor que o resultado final.
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