Você chegou sem convite, e se convidou a ficar. Era noite fresca de
verão de sábado e junto com a brisa tranquila vinha seu perfume de “fiori
bianchi” em fim de tarde.
E tão italiana! Falando com voz maior que a estatura. Mas era voz que
falava com vontade de palavra, com força em cada letra, tentando joga-las no
mundo, gritar cada sentimento que explodia e vinha de um coração empoeirado,
mas bem vivo.
Mais vivo ainda eram seus olhos graúdos, de um preto em tom espontâneo
e com brilho clichê de quem vê um jardim orvalhado, com gosto de manhã,
ensolarado.
E você com seu vestido branco florido que implorava por um rodopio que
o inflasse em braços abertos, numa dança ritmada pelo embalo daquela brisa
noturna tão familiar e do barulho que o amor faz quando tenta entrar sem muito
estardalhaço, mas vez ou outra derrubando algumas caixas fechadas no coração
ainda bagunçado da última mudança.
Eu com minha calça de linho preto e camisa amarelo-desgastado, boina cinza
e pés descalços, um tanto cansados de andar na rotina, mas com cheiro de vinho
em barril de carvalho, fermentando litros de sentimentos tintos, em um vermelho
suado com gosto de lágrima recente.
Você com a cabeça pendendo pro lado, olhos fechados e sorriso rasgando
os lábios “rossos” com desejo de um beijo de príncipe que desce do cavalo e
estende a capa para que a “bella ragazza” não molhe os pés na poça. Girando,
solta.
Eu com minha rispidez corriqueira, atento a cada movimento seu. Meio
espantado com sua maneira de brindar “la vita” mesmo depois de tantos arranhões
do tamanho dos joelhos, ainda com força para “ballare” com medo da queda, mas
sem se ater a ela.
“Insolito” era a palavra que definia aquele encontro de dois mundos: o
do amor em fase de maturação e o do “amore in fermentazione“.
Sofía que significando Sábia, também poderia ser Sofria ou Sorria, era
uma “miscela” liquidificada com um gosto no final da garganta de inocente
tentativa de redesenhar o mundo em traços e contornos sutis e bem desenhados.
Adan que nada significava, trazia em seu DNA inglês o que todos chamam
de frieza e ele define como “medida”. Saber dosar a maneira como se apresenta
sentimentalmente aos outros, já que nem todos estão preparados para sentimentos
externos.
Mas foi de súbito que tudo aconteceu, como de súbito se morre, mas
também se vive. Ela entrou para ficar, para sempre, mesmo que um dia distante,
se houver distância, já que não há lei do amanhã. Sofía entrou meio desastrada,
esbarrando nas quinas pontiagudas de um coração desconfiado, mas solta, livre,
com medo, sem medo, doce, amarga, “imbarazzata”, mas pisando firme como quem
deixa passos a serem seguidos.
-“Ciao”, calminha. Seca suas lágrimas, pequena. As coisas boas não são
eternas, muito menos as ruins. Dizia Adan com convicção e sobrancelha erguida,
ao que ela respondia:
-“Eu sou assim, você sabe! Tem coisa que não se explica”.
-“Cazzo”! Eu também sou o que sou.
-Então deita
aqui do meu lado, encosta a cabeça no meu colo macio e fecha esses olhos
castanhos. Vou acariciar seus cabelos lisos com as pontas dos meus dedos e
cantarolar algumas canções da “nostalgia”.
- Cante seus
segredos, cante suas dores, seus amores, seus passos, suas perguntas. Cante
para que meus ouvidos encontrem a nota que falta para que eu cante também para
você. Vim aqui para te encontrar, ninguém disse que seria fácil, nem que seria
tão difícil, mas vamos.
-Você não
sabe o quão amável você é! Queria dizer que preciso de você, e dizer que
escolhi você para leva-lo pela única estrada que conheço e quero que me leve
pela sua.
-Ei, psiu!
Fala baixo pequena. Deixa que o amor sabe o caminho. Ele nos trouxe, e agora
nos levará adiante, porque o amor não se classifica, ele é amor não importando
entre quem, mas a maneira com que ele acontece. Então continue soprando no meu
ouvido, quero dormir ouvindo “la dolce voce della vita”.
-Dorme com
Deus.
"Se eu pudesse, pegava seu lindo, caridoso e doce coração e guardava bem quentinho dentro do meu. Assim talvez eu pudesse lhe proteger da crueldade do mundo. Pois a minha religião é o amor, o bem e a caridade. E é a favor disso que vou lutar, enquanto você corajosamente canta o Blues da Piedade deitado em meu colo (pois é preciso muita coragem e amor no coração para clamar por piedade pra essa gente careta e covarde).
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