E chega uma hora que você cansa e o cansaço te amadurece. Você passa a
ser mais seletivo com tudo na vida e percebe que não tem que despender grades
esforços para conseguir aquilo que deseja. Você percebe que toda energia que
gasta eventualmente resolvendo problemas, na verdade deveria estar sendo gasta
prevenindo os mesmos, pois toda dor de cabeça começa quando você passa a
esperar demais que as coisas se resolvam de alguma forma. Porém só há uma forma
das coisas se resolverem: não tendo coisas a resolver.
E o cansaço é bom por isso, porque você passa a selecionar melhor quem ficará ao seu redor
e exclui gente que da “pitaco” demais em sua vida. Você cansa das pessoas que
estão sempre nas beiradas do seu caminho apontando como ele deveria ser percorrido.
Você exclui
gente negativa e que só vê o lado ruim de tudo, ou que acha que tudo que você
tem é mais que suficiente pra você, e que ainda falam “você já tem tudo, não
precisa de mais nada”.
E quão nada
difícil é eliminar gente que acha que o crescimento é insuficiente para todos,
e para tal quer que somente haja crescimento em si mesmo. São pessoas tão
inseguras e tão vazias de si, que para não ser engolido, você precisa se
afastar.
E como é bom quando você passa a rir de todo
esse bando de santos do pau oco que se acham os donos da palavra
Divina. E o melhor é que você ri e Deus ri junto, pois não há piada mais cômica
do que a máscara religiosa.
E como é bom eliminar sonhos intransponíveis, que consomem
horas de martírio sobre como alcançá-los. E consomem horas de sono em
intermináveis insônias causadas por cobranças temporais sobre como chegar lá.
Você aprende com o cansaço que não precisa ir pra lá, porque
o lá estará sempre depois, mas aqui, está sempre agora. E viver o presente é
realmente como um presente: nem sempre é tão emocionante, nem sempre supera as
expectativas, às vezes decepciona, pois você ganha o que não queria.
E que alegria é tirar de você o fardo de ser isso ou ser
aquilo, porque esperam comportamentos configurados com um desejo alheio. É de
uma satisfação sem tamanho poder olhar para frente, para sua frente no espelho,
mirar nos próprios olhos e dizer de boca cheia: “você é incrível”.
Cansar faz você se amar.
E quanto maior o cansaço, menor a vontade de depender de
coisas e pessoas que dão trabalho demais, que são cheias demais de
“não-me-toque”, que exigem pisar sempre sobre ovos. É bom ligar o foda-se e
fazer aquilo que você quer, sem precisar ficar balizando se o outro está
satisfeito com suas escolhas. Sabe gente calculista demais, que pensa demais no
que dizer, em como dizer, tira da sua vida, procure gente simples, maleável,
que fala o que pensa e deixa tudo claro.
Cansar faz você namorar consigo mesmo. Faz você se levar para passear,
para ler novos livros, ouvir músicas inusitadas e conhecer gente comum como a
gente, que cansou e aprendeu o que agora você está aprendendo.
Cansar faz você precisar de apenas uma mão, a sua mão, para contar nos
dedos dela as pessoas que realmente valem a pena deixarem habitar seu coração
apaixonado. Porque amor próprio quando se aprende, não se esquece.
Não há como não amar a sinceridade, e o amor próprio só nasce quando
você é sincero sobre você mesmo.
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