Ele orou.
Jurou que durante nove dias iria entregar suas preces a alguma força superior
que fosse capaz de olhar para sua medíocre condição humana e oferecer
misericórdia.
Ele orou com
força de uma fé que nunca teve. Queria milagre que se toca com as mãos, desses
que se sai correndo de casa em casa para que outras pessoas o toquem e também
creiam. E tenham esperança de que um dia o milagre acontece. Um dia...
Cansou de
chorar como imagem católica quando não consegue mais atender a tantos pedidos.
Chorava sangue, água, algum perfume com aroma de cravo amarelo. Chorou até a
última gota do que é possível chorar. Mas sempre tinha mais.
Acreditou
que talvez suas lágrimas intermináveis fossem o milagre da vida em meio a
tantas angústias. Continuar mesmo com os olhos marejados, inchados e a gola das
camisas molhadas. Há muito vivia caminhando e chorando.
Mas sempre
fora de acreditar num depois. Sempre há um depois, mesmo que o depois seja
incerto como a morte. A morte de tudo que acreditamos, dos valores, ciência,
história, religião. Mesmo depois da morte há um depois. Com as angústias não
poderia ser diferente.
Talvez houvesse
mais angústias depois das angústias ou talvez houvesse a morte delas.
Uma coisa
sempre foi e sempre será: a angústia da incerteza do depois e com ela, a
angústia da espera.
Depois de
cada pequena coisa há sempre a fadiga ansiosa do inóspito e pouco palpável
caminho do depois. São as durações de tempo incomensuráveis que projetam a
esperança de um futuro incerto, baseados num presente interrompido pela falta
de visibilidade nas possibilidades do instante, obstruído pela dor. E tudo isso
empurrado por um passado, às vezes fantasmagórico, e que não deixa de
assombrar.
Em suas
orações pedia tantas coisas que dia após dia se perdia no que pedia e, às vezes
já nem sabia como ou o que pedir. Paciência é sempre uma necessidade e talvez
pedir paciência pra conseguir pedir uma coisa de cada vez já impulsionasse para
um sentimento de esperança mais maduro e a visão de um depois menos ameaçador.
E durante os
nove dias que oraria, pediu por um sinal de que o milagre aconteceria. Que
ganhasse uma rosa como as rosas que carregavam aquele ser para quem orava.
Porém se havia algo mais angustiante do que a espera de um milagre, seria a
angústia dupla da espera do sinal de que o milagre estaria a caminho e em
seguida a própria angústia do milagre.
Oito dias se
passaram de suas orações pela aparição de rosas, e as rosas simplesmente não
estavam em qualquer lugar que fosse.
Ninguém com
o nome de Rosa, ou uma rua que passasse por ela. Nenhuma embalagem do que
costumava comprar trazia qualquer flor que se assemelhasse àquela que tanto
buscava. Ninguém lhe enviou sequer um botão. Nenhuma música contava sobre as
rosas. Onde elas estavam?
Percebeu que
seu mundo estava plantado de todas as flores que compõe um jardim, menos as
flores que desabrocham o milagre da esperança do depois: as rosas.
Seu jardim
florido, colorido com as mais intensas cores que as flores conseguem conceber,
perfumado e permeado por pólen e seres que dele se alimentam, não possuía as
únicas flores que dão sentido a todo o universo de plantas.
Mas se não
havia rosas, é porque talvez jamais as tivesse plantado. Era esse o momento de
acreditar no milagre: cultivar uma semente para regar com o cuidado que lhe é
próprio e deixar que cresça e se encha de esperança.
O milagre
está no amadurecimento das rosas. Depois, ficam os brotos que darão novas
esperanças, alimentando o ciclo da beleza da vida que nunca morre quando morre
uma única flor, mas perpetua no milagre do ciclo do que vem depois e depois e
depois...
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