segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Depois das Rosas


Ele orou. Jurou que durante nove dias iria entregar suas preces a alguma força superior que fosse capaz de olhar para sua medíocre condição humana e oferecer misericórdia.
Ele orou com força de uma fé que nunca teve. Queria milagre que se toca com as mãos, desses que se sai correndo de casa em casa para que outras pessoas o toquem e também creiam. E tenham esperança de que um dia o milagre acontece. Um dia...
Cansou de chorar como imagem católica quando não consegue mais atender a tantos pedidos. Chorava sangue, água, algum perfume com aroma de cravo amarelo. Chorou até a última gota do que é possível chorar. Mas sempre tinha mais.
Acreditou que talvez suas lágrimas intermináveis fossem o milagre da vida em meio a tantas angústias. Continuar mesmo com os olhos marejados, inchados e a gola das camisas molhadas. Há muito vivia caminhando e chorando.
Mas sempre fora de acreditar num depois. Sempre há um depois, mesmo que o depois seja incerto como a morte. A morte de tudo que acreditamos, dos valores, ciência, história, religião. Mesmo depois da morte há um depois. Com as angústias não poderia ser diferente.
Talvez houvesse mais angústias depois das angústias ou talvez houvesse a morte delas.
Uma coisa sempre foi e sempre será: a angústia da incerteza do depois e com ela, a angústia da espera.
Depois de cada pequena coisa há sempre a fadiga ansiosa do inóspito e pouco palpável caminho do depois. São as durações de tempo incomensuráveis que projetam a esperança de um futuro incerto, baseados num presente interrompido pela falta de visibilidade nas possibilidades do instante, obstruído pela dor. E tudo isso empurrado por um passado, às vezes fantasmagórico, e que não deixa de assombrar.
Em suas orações pedia tantas coisas que dia após dia se perdia no que pedia e, às vezes já nem sabia como ou o que pedir. Paciência é sempre uma necessidade e talvez pedir paciência pra conseguir pedir uma coisa de cada vez já impulsionasse para um sentimento de esperança mais maduro e a visão de um depois menos ameaçador.
E durante os nove dias que oraria, pediu por um sinal de que o milagre aconteceria. Que ganhasse uma rosa como as rosas que carregavam aquele ser para quem orava. Porém se havia algo mais angustiante do que a espera de um milagre, seria a angústia dupla da espera do sinal de que o milagre estaria a caminho e em seguida a própria angústia do milagre.
Oito dias se passaram de suas orações pela aparição de rosas, e as rosas simplesmente não estavam em qualquer lugar que fosse.
Ninguém com o nome de Rosa, ou uma rua que passasse por ela. Nenhuma embalagem do que costumava comprar trazia qualquer flor que se assemelhasse àquela que tanto buscava. Ninguém lhe enviou sequer um botão. Nenhuma música contava sobre as rosas. Onde elas estavam?
Percebeu que seu mundo estava plantado de todas as flores que compõe um jardim, menos as flores que desabrocham o milagre da esperança do depois: as rosas.
Seu jardim florido, colorido com as mais intensas cores que as flores conseguem conceber, perfumado e permeado por pólen e seres que dele se alimentam, não possuía as únicas flores que dão sentido a todo o universo de plantas.
Mas se não havia rosas, é porque talvez jamais as tivesse plantado. Era esse o momento de acreditar no milagre: cultivar uma semente para regar com o cuidado que lhe é próprio e deixar que cresça e se encha de esperança.
O milagre está no amadurecimento das rosas. Depois, ficam os brotos que darão novas esperanças, alimentando o ciclo da beleza da vida que nunca morre quando morre uma única flor, mas perpetua no milagre do ciclo do que vem depois e depois e depois...

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