Eu lembro-me
a primeira vez que te vi, você caminhava sem pretensões, mas parecia não saber
por onde ia. Sinalizava o percurso, provavelmente por medo de perder-se e
encontrar aquilo que estava no oposto do que procurava. Ou na intenção de em
algum momento voltar ao ponto onde partiu.
A gente
sempre está em algum ponto! Esperando...
Suas idas e
vindas eram por vezes longas demais. Passava dias aguardando um sinal de onde
você estaria, com quem ou fazendo o que. A cidade do seu ponto de vista aparentava
um lugar muito além daquele em que vivia. Em certos dias era inidentificável
saber o que realmente você estava mostrando. Se quisesse te alcançar – nesses
momentos de vontade de te alcançar - não poderia, pois esses momentos vinham
cercados de pistas que não me levariam facilmente a você.
Mas eu senti
que você também me sentia.
Eu percebi
que um dia eu ouvia a chuva e enquanto ela entoava uma canção, em algum lugar
sob a mesma chuva, você desenhava as notas de composição. Eu fantasiei estar
com a cabeça no seu colo enquanto você dedilhava algum instrumento que
decifrasse o som que a chuva faz quando cai sobre um coração apaixonado.
E o que é a paixão senão o desejo de lambuzar
os lábios com o mesmo sabor com que o outro saboreia com seus próprios lábios. E
mais do que a boca, é embriagar-se de um pouco de tudo que o outro deseja,
busca e sonha.
E eu sonhei
o seu sonho quando você mostrou um devaneio espacial, caçando estrelas com sua
rede de limpar piscinas. Eu acrescentei que poderíamos voar pelo universo como
corpos de luz que se fundem formando uma única atmosfera que irradia calor e
aquece o que está em volta.
Eu ri comigo
mesmo!
Nunca vou me
esquecer de quando tentei aprisionar o seu sorriso escancarado. Eu desejei que
sua gargalhada reverberasse pela casa vazia e espantasse os fantasmas da
solidão que sempre me perseguiram. Ou que sua boca sorria quente ao pé do meu
ouvido deitados naquela grama desenhada de sombras. As sombras sempre me acompanhavam,
mas com você, seria apenas arte pra ser pendurada.
Houve um
momento em que a paixão - não sei dizer ao certo o tempo - virou amor!
E eu senti
que te amava quando me vi enciumado pelas vivências que nunca tivemos. Dos
brindes a nós que não foram brindados, dos jantares nos pratos das etiquetas e
regras e boas maneiras que não comemos, ou nos fim de tarde que nunca
assistimos. Porque os sonhos não passavam de sonhos. Que talvez eu sequer te
conhecesse algum dia.
Eu poderia
perguntar quem você era, onde estava, se gostaria de me encontrar. Porém era
evidente que um amor que se constrói no olhar jamais poderia retroceder à fala.
Eu entendi
que seu percurso era incerto, mas seu caminho era pontuado por sinais que me
levariam a você. Eu só precisaria esperar, pois o tempo transforma tudo em uma
canção de espera ou em um soneto da saudade.
Apesar de
que eu nunca te vi com meus próprios olhos, sei que nunca senti tanto amor por
você me fazer ver o mundo a partir dos seu jeito de vê-lo. Um amor do olhar.
Alguns irão
dizer que eu apenas amo suas fotografias, mas meu coração me diz que eu amo
quem está por trás delas.
Eu amo ver
você olhar o mundo e eu gostaria que em algum momento você também me olhasse.
Sumiram as palavras... Surgiram as lágrimas...
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