sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Um amor do seu olhar



Eu lembro-me a primeira vez que te vi, você caminhava sem pretensões, mas parecia não saber por onde ia. Sinalizava o percurso, provavelmente por medo de perder-se e encontrar aquilo que estava no oposto do que procurava. Ou na intenção de em algum momento voltar ao ponto onde partiu.
A gente sempre está em algum ponto! Esperando...
Suas idas e vindas eram por vezes longas demais. Passava dias aguardando um sinal de onde você estaria, com quem ou fazendo o que. A cidade do seu ponto de vista aparentava um lugar muito além daquele em que vivia. Em certos dias era inidentificável saber o que realmente você estava mostrando. Se quisesse te alcançar – nesses momentos de vontade de te alcançar - não poderia, pois esses momentos vinham cercados de pistas que não me levariam facilmente a você.
Mas eu senti que você também me sentia.
Eu percebi que um dia eu ouvia a chuva e enquanto ela entoava uma canção, em algum lugar sob a mesma chuva, você desenhava as notas de composição. Eu fantasiei estar com a cabeça no seu colo enquanto você dedilhava algum instrumento que decifrasse o som que a chuva faz quando cai sobre um coração apaixonado.
 E o que é a paixão senão o desejo de lambuzar os lábios com o mesmo sabor com que o outro saboreia com seus próprios lábios. E mais do que a boca, é embriagar-se de um pouco de tudo que o outro deseja, busca e sonha.
E eu sonhei o seu sonho quando você mostrou um devaneio espacial, caçando estrelas com sua rede de limpar piscinas. Eu acrescentei que poderíamos voar pelo universo como corpos de luz que se fundem formando uma única atmosfera que irradia calor e aquece o que está em volta.
Eu ri comigo mesmo!
Nunca vou me esquecer de quando tentei aprisionar o seu sorriso escancarado. Eu desejei que sua gargalhada reverberasse pela casa vazia e espantasse os fantasmas da solidão que sempre me perseguiram. Ou que sua boca sorria quente ao pé do meu ouvido deitados naquela grama desenhada de sombras. As sombras sempre me acompanhavam, mas com você, seria apenas arte pra ser pendurada.
Houve um momento em que a paixão - não sei dizer ao certo o tempo - virou amor!
E eu senti que te amava quando me vi enciumado pelas vivências que nunca tivemos. Dos brindes a nós que não foram brindados, dos jantares nos pratos das etiquetas e regras e boas maneiras que não comemos, ou nos fim de tarde que nunca assistimos. Porque os sonhos não passavam de sonhos. Que talvez eu sequer te conhecesse algum dia.
Eu poderia perguntar quem você era, onde estava, se gostaria de me encontrar. Porém era evidente que um amor que se constrói no olhar jamais poderia retroceder à fala.
Eu entendi que seu percurso era incerto, mas seu caminho era pontuado por sinais que me levariam a você. Eu só precisaria esperar, pois o tempo transforma tudo em uma canção de espera ou em um soneto da saudade.
Apesar de que eu nunca te vi com meus próprios olhos, sei que nunca senti tanto amor por você me fazer ver o mundo a partir dos seu jeito de vê-lo. Um amor do olhar.
Alguns irão dizer que eu apenas amo suas fotografias, mas meu coração me diz que eu amo quem está por trás delas.
Eu amo ver você olhar o mundo e eu gostaria que em algum momento você também me olhasse.



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