domingo, 9 de janeiro de 2011

Não é Atoa que a Maioria Prefira a Gema

Tenho duas realidades: uma mental, e uma física. Até aí tudo bem, todos nós temos. Mas minhas realidades não são paralelas, elas se chocam e se fundem em certos momentos, como num big bang de pensamentos e vivências.
A realidade física inside sobre a mental no que tange as frustrações daquilo que não é, enquanto que a mental em incisivas investidas contra a física tenta de forma cada vez mais bruta converter-se em realidade.
Esses pensamentos não são meus, eu não os tenho, eles são completamente involuntários e fazem parte de uma parte de mim que está além daquilo que eu compreendo ou domino. Um eu superior em uma esfera superior que ri desse eu inferior e ingênuo, quase num deboche que grita: “como sabes que a realidade física é física e a mental não o é?”.
Pronto, está dada a confusão! Eu poderia beliscar a mim mesmo para entender que a dor me faria reconhecer o estado de energia convertida em matéria, mas por outro lado, o que essa dor prova se minha alma também sente dor? Eu consigo sonhar e sentir dor em meus sonhos, eu consigo me desesperar ao cair num vácuo sem fim, enquanto minha mente tenta gritar aos ouvidos: “acorde, acorde é um sonho”.
Sonhos: eu não preciso estar dormindo para tê-los, pois eles são uma realidade que outrora julgava capaz de controlar e dominar - como projetar situações ideais para aquilo que na dita realidade física foi um fiasco – mas que hoje entendo, não passam de estados de energia que vem e vão sem que eu tenha autoria por seu nascimento e morte.
Tanto é que sem tempo determinado, desenha-se nessa realidade mental (ou física?) fúnebres tristezas que passam por felicidades eternas, numa eternidade quebrada pela próxima sessão de desenhos nessa lousa infantil daquelas de brinquedo onde escreve-se, apaga-se para escrever mais e assim por diante.
Essa realidade física e mental é como um ovo frito no café da manhã, a clara dura é a física, que aprisiona a mental, líquida, fluida, presa em uma forma determinada pela casca protetora, mas cujo rompimento será inevitável, desde que algum objeto externo e cortante provoque alguma fissura dolorosa ou alguma parte sensível e menos espessa dessa clara seja rompida pelo fluido denso da gema.
Furada a clara, espalha-se gema por toda o prato, porém respeitando as bordas do mesmo – altas, em um círculo sem fim, instransponível para além do desenho arredondado. Amarelo ouro, manchando e grudando de forma pegajosa como se viesse pra ficar depois de tanto tempo aprisionado. E um cheiro forte de algo que não possuía conservantes mas que não passou do prazo, apenas atinge os mais diversos sentidos: paladar, visão, olfato, tato.
O auditivo não é atingido, a sutileza do rompimento e conseqüente espalhar de idéias vem em contraponto ao alarde do submeter do ovo ao estado de fritura. Barulho, em óleo quente, sujo de outros alimentos, explosões de calor e queimaduras às vezes inevitáveis, para converter essa realidade da clara com a gema, juntas, líquidas, porém aprisionadas por uma terceira casca.
Essa porém, quebrada de forma brusca, abrupta, sacudida e empurrada contra a realidade da superfície da mais densa matéria. Uma trinca, e mais uma investida contra a proteção, dessa vez por dedos cuja força pressionam a fissura para lados opostos, tentando parti-la ao meio, mas sem deixar que a clara e a gema se espalhem ou misturem.
E talvez o destino do ovo seja esse, quebrar todas as cascas que vão se formando enquanto sua vida vai sofrendo essas ações externas. E talvez o prato seja o apelo final da energia convertida em matéria que diz: “não adianta, haverá sempre algo sólido que irá tentar conter toda essa fluidez”.
E mais uma vez, o que parecia ser o fim dos pensamentos amarelos, torna-se o início de mais um dispersar de idéias. Como que salvos por um garfo metálico, e sofrendo a dor da mastigação, lá se vão os pensamentos sistema digestivo abaixo, sendo cada aspecto absorvido pelo corpo. 

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