terça-feira, 23 de julho de 2013

IceScream



Acho que a vida é esse sorvete que a gente quer tomar com muito cuidado para não se lambuzar, porque é boa até certo ponto. Segurando a “casquinha” já meio mole meio crocante, enquanto o calor do dia se manifesta em sabores sólidos se liquefazendo, que escorrem pelos dedos grudando o guardanapo. Se pinga, a gente desvia o corpo, e se não pinga, a gente dança com a casquinha para lá e para cá, enquanto as gotículas se formam, causando aquele desespero materializado em sensação de “pele doce” desconfortável.
É o desejo interno do sabor do sorvete versus o medo de experimentar no externo a sensação que o mesmo causa. É tentar experienciar a vida com apenas um dos sentidos, ou ignorar as contradições que fazem parte da mesma, mergulhando no idealismo do sorvete que não derrete e pode ser delicadamente e demoradamente saboreado.
E o que é o sorvete senão a crença na possibilidade de tentar alterar a temperatura ou o estado do corpo? Refrescar-se por inteiro por meio do paladar! Lamber planos e desejos e, às vezes, ver sonhos derreterem sob um dia escaldante. Se fartar de colheradas de possibilidades com caldas de êxtase que alteram um pouco o sabor do dia, melhorando-o. É jogar confeitos que acrescentem cor à textura escura do sabor de chocolate meio amargo.
Mas a verdade é que o sorvete talvez seja uma das sobremesas refrescantes mais banalizadas, assim como a vida. Todo mundo que eu conheço ama ou odeia, dificilmente há um meio termo. Com ou sem casquinha, quem gosta, gosta, quem não gosta não se arrisca.
E pra ser sorvete, tem que ser sólido-cremoso. Ninguém gosta de sorvete derretido, pra ser líquido deve ser misturado com outros ingredientes e virar Milk Shake – que é a vida pra ser ingerida pelo canudo.
E como o sorvete, há quem reinvente os sabores e receitas, métodos de preparo e de servir, na tentativa de agregar valor e despertar desejo pela vida. Como também há tentativas de abolir a simplicidade da bola no copinho e pazinha com gosto de madeira, por louças com design e ingredientes caros.
A vida sólida vai sendo modelada em um boleador que a faz girar até encontrar seu ponto de início: um ciclo se fecha! E vai se acumulando em bolas sobrepostas de sabores bons e ruins, conhecidos e novos, pressionadas para não desmoronar.
Servida, deve ser degustada em determinado tempo, senão o que a sustenta deve no mínimo ser capaz de reter sua mudança de estado.

Mas ainda sobre sorvetes e vida, para ser bom mesmo, de verdade, vai lambendo sem medo e deixa escorrer! Porque quando acabar o sabor, é só lavar as mãos e experimentar uma combinação nova.

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