sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Esperando a Coragem Para Viver o Mundo ao Ar Livre

É como olhar de dentro de um ônibus enquanto chove: você passa a mão diversas vezes na janela para tentar desembaçar e ver o que acontece ao seu redor. Mesmo no rápido intervalo entre a condensação da água e o deslizar dos dedos que puxam as gotículas, não é suficiente nem a visão rápida o bastante para vencer o líquido incolor que desce do céu e escorre, distorcendo insistentemente tudo que está fora de voc.

E não há maior precipitação do que aquela provocada pela ansiedade de sua cegueira temporária. Mesmo entendendo que lá fora nada mudou, apenas está tudo molhado e um pouco obscuro – isso não é um problema, pois nuvens escuras e tempestades sempre lhe atingiram – o ato de arriscar um desbravar ou enfrentar cara a cara o temporal, sempre precede uma série de dúvidas que transitam entre o prazer que proporciona um banho de chuva e o medo de pegar um resfriado e perder uma parte dos dias acamado.

E essas escolhas às vezes, e quase sempre, vão pra além da decisão de sair de casa ou não. Englobam uma dedicação em observar a cor do céu e os movimentos das nuvens e então decidir se usar-se-á uma capa, um guarda-chuva ou ainda se o tempo está feio a ponto de a melhor decisão ser ficar em casa debaixo do edredom e deixar o mundo cair.

É complicado e audacioso querer cálculos certeiros sobre os resultados das escolhas, mas é certo que é preciso escolher sempre, com ou sem chuva. Porém se é pra se molhar e isso converter-se em gripe, por mais chato, cansativo e tedioso que seja ficar o dia todo à mercê de chás e analgésicos, podemos concluir que tudo não passará de um período de criação de anticorpos.

Não há gripe que dure para sempre, nem remédio que não faça o mínimo efeito. Mesmo que a coragem nem sempre seja uma companhia presente, em algum momento do dia enquanto olha pra parede escurecida pelo mau tempo, ouvindo ao longe uma TV chiando qualquer coisa, você será interrompido pelo vibrar do celular enquanto do outro lado da linha alguém te convence a cair no mundo ao ar livre sem se preocupar com a previsão do tempo para os próximos dias.

Por acaso alguém é feito de açúcar? E se for, por mais que água te derreta, ela não continuará límpida, insípida e incolor, mas carregará em sua fórmula a composição aquilo em que você se converteu- uma água doce. Assim que o sol sair você se seca, solidifica e torna-se um bom torrão para um café quente contra resfriado.

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