domingo, 28 de novembro de 2010

Limbo

Já reparou que as pessoas tendem sempre a fazer perguntas repetidas do tipo: “Você é feliz?” ou “Você está feliz?” ou ainda, “Sobre sua vida do jeito que está agora, você é feliz?”

Perguntinha chocha, afinal, é preciso realmente ter uma resposta negativa ou positiva o tempo inteiro? Eu tenho que sentir frio quando não estou sentido calor, ou será que eu posso simplesmente estar na temperatura ambiente?

Sinto que feliz e infeliz esteja relacionado a isso. Nem sempre você está infeliz ou feliz, às vezes você está ausente desses sentimentos. Ou talvez eles estejam misturados de tal forma que uma terceira opção ainda não tenha sido classificada.

Em minha autoridade humana e visando concorrer a um “Prêmio Nobel de Auto-Ajuda “, vou chamar isso que ainda não defini se é uma mistura de feliz e infeliz ou uma ausência dos dois como “limbo”, ou seja , um estado vago do pensamento, no caso desse texto, de sentimento.

Então, fazendo uma retrospectiva de suas vivências diárias você perceberá uma constante presença de limbo muito mais forte do que felicidade ou infelicidade.

Imagine-se levantando de manhã e mexendo no seu computador. Logo que você acorda, nem sempre você acorda com um sorriso estampado no rosto e pensando: Sou a pessoa mais feliz do mundo! Como também não acorda todo dia pensando: Quanta desgraça pra uma só vida, não é possível, joguei pedra na cruz.

Tente reparar que você se sentará na frente do computador, começará a abrir e-mails, visualizar páginas, mas antes de ter reações de compaixão, tristeza, alegria, etc., você não se lembra do que estava sentindo enquanto esperava o PC ligar. Ou mesmo enquanto você escovava os dentes, o fato de escová-los não provocava nenhuma reação de felicidade ou infelicidade.

Você pode pensar sobre isso enquanto está comendo; nem todos os dias os alimentos são escandalosamente bons, nem terrivelmente ruins, há dias em que você simplesmente come sem que seu cérebro tenha alguma reação abrupta de prazer ou desprazer. Limbo é isso, é essa ausência dos dois extremos que classificam alguém como feliz ou infeliz.

Não há obrigação em responder sempre se você é portador de felicidade ou infelicidade, você é livre pra deixar que um vácuo que não é preenchido por nenhum dos dois se instale – às vezes involuntariamente – dentro de você

Quando você está lendo um livro, distraído, submerso em suas páginas, é natural que algumas delas causem reações diversas, mas existem páginas que não causam absolutamente nada, você as está lendo, seus olhos correm linha por linha pelas páginas branco-encardidas e, distraído, não esboça reação nessas partes da história, apenas lê.

Não há como querer se apossar de um dos lados da moeda e esperar que seja sempre cara ou coroa, porque existem além delas, as notas que apesar de não deixarem margem pra escolha de um lado, possuem um valor ainda maior que os dois lados da moeda juntos.

Entender o limbo é entender que não há necessidade/obrigação de se definir em um extremo sempre que alguém quiser essa definição seja por curiosidade ou o que for, e nem pra que você quebre a cabeça colocando numa balança dourada de um lado tudo o que é bom, do outro tudo o que é ruim, e esquecer que existe toda uma parafernália que não é classificada nem lá nem cá e fica acumulada como um entulho. É mais ou menos aquelas coisas que você guarda mas não sabe pra que serve, e nunca se desfaz porque apesar de não achar função, acredita que um dia poderá classificar para alguma utilidade.

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