terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relapsos em Catarses

Todo aquele excesso oleoso confuso, de tudo aquilo não solucionado e toda a poeira escura das torturas mentais, alojada entre a derme e a epiderme, e crescendo por entre as células mortas, produzem um muco que, ao sair da pele causa uma sensação pegajosa.

Quer-se um banho de solidão e profundo retorno a si mesmo. Sem objetivo aparente. Um retorno para um reencontro com aquilo que se perdeu durante a camuflagem e a fantasia que vestimos na realidade subjetiva.

Não procura-se nada, não quer ser procurado, apenas ficar ali no cantinho, entre a greta que sobra no quase encontro do sofá com a parede.

Tentar reescrever um novo dicionário excluindo palavras e expressões, abreviações e siglas que entopem as veias mentais, provocando espasmos e catarses cada vez mais freqüentes e relapsos de desejos que saem da borda da pictórica vida exposta para ser contemplada e analisada por aqueles que fazem cara de blasé enquanto você faz de paisagem.

Quer-se assumir um novo eu, com outra pele, outros cabelos, outras anatomias, enquanto que o velho eu, não se adequando ao processo evolutivo, cair-se-á por sobre suas próprias deformações sentimentais.

Toda a casca física, hora cheia de ossos e vértebras, hora cheia da necessidade de esvaziar-se, contorcendo sobre suas próprias inconformidades – hora genéticas, hora mentais -, conforma-se segundo os fúteis anseios ou a realidade dada, dobrando-se passiva sobre seus joelhos e aceitando deixar-se empurrar sobre as superfícies variadas, como uma esponja absorve a sujeira líquida de toda a louça do jantar.

E pelo ralo, escorrem água “límpida” e própria ao consumo depois de longos processos de purificação por meio de soluções pesadas e mistura química junto com os restos do que foi um momento de prazer, porém, agora convertido em algo fétido cujo único destino será – ao que não permaneceu sólido – o emaranhado hidráulico subterrâneo.

Talvez também se escorresse pelos encanamentos se pensarmos nos 70% de água e 30% de materiais tóxicos ou o próprio desejo de fusão. Descendo até ser despejado em um pequeno esgoto a céu aberto, que diminui à medida em que essa mistura vai penetrando a terra.

Ao final, é somente um retorno ao lugar de onde veio, nas mesmas condições pútridas do estado sólido em que seria colocado lá e sem aquele sentimento de procura ou de ser procurado, apenas o de retorno, retorno a si mesmo.

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