domingo, 5 de julho de 2009

O Fantástico Mundo de Bob na Caverna do Dragão

vilão_plebeu, por opos. a nobre. Homem desprezível, avarento, sórdido.
vítima_Pessoa ou animal que os Antigos ofereciam em sacrifício aos deuses. Pessoa que morre ou que sofre pela tirania ou injustiça de alguém. Pessoa que é sacrificada aos interesses de outrem.

Bem/mau, assassinos/assassinados, polícia/ladrão, yin/yang, arma/corpo, céu/inferno, certo/errado.
Vivemos em um mundo de dualidades. Dividimos a terra em norte/sul, desenvolvidos/subdesenvolvidos, civilizados/não-civilizados, ricos/pobres, brancos/negros, etc., por uma mesquinha necessidade de rotular tudo o que existe, classificando principalmente as pessoas com vistas a interesses subjetivos.
Estamos tão habituados a dividir tudo, que nem sequer percebemos o quanto estamos divididos em nossas próprias escolhas. Por exemplo, se você ama alguém e esse alguém te decepciona, subitamente você passa a odiar a pessoa. Aos poucos o amor volta a tomar o lugar do ódio e em determinado espaço de tempo você já está entorpecido novamente, mergulhando de cabeça na relação (quaisquer que sejam elas). O que estou tentando dizer é que amor e ódio não são como a “matéria”, ou seja, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Apesar de serem o contrário, amor e ódio caminham juntos.
O que a maioria das pessoas acredita é que, tal qual a matéria, se você ama e de alguma forma alguém despertar seu ódio, o amor sairá e posteriormente o ódio ocupará o lugar dele. Acredito que você pode amar e odiar uma pessoa ao mesmo tempo e não necessariamente ter que escolher entre um ou outro.
Durante os percursos pela vida (uns seguindo trilhas já deixadas por outros, alguns transitando por estradas pavimentadas, outros abrindo novas), chama atenção o fato de as pessoas, em todos os tipos de relação entre elas, sempre se encontrarem obrigadas a fazer uma escolha: vilão ou vítima.
De um lado, os atormentados, os sofridos, os injustiçados. Do outro, os assassinos, o monstros, os maus.
E é claro que a maioria dos mortais (talvez 99,99%) pegue o roteiro da peça e prefira assumir o papel da vítima. Normalmente são pessoas que precisam alcançar o ápice da felicidade sem muito esforço e sem gastar muito tempo. Vivem cada dia como um episódio de “Caverna do Dragão”, onde precisam desesperadamente voltar para casa, ou seja, vencer na vida, mas como sabem que não será simples, precisam justificar suas frustrações de não conseguirem mais uma vez passar pelo portal, transformando os que estão à sua volta em monstros variados, quando não escolhem alguém e o transformam em Vingador. Assim, vão passando pelos episódios sempre como os pobres jovens perdidos em uma dimensão maligna.
O que as pessoas não entenderam é que escolher o papel de vítima significa assumir uma incapacidade de batalha, na qual sem se expressar claramente (como sendo um personagem com apenas um tipo de poder e que não sabe utilizá-lo corretamente) você precisa dos outros para vencer o vilão.
Porém, você pretende vencê-lo utilizando a pior estratégia para conquistar ajuda alheia: o de ser um pobre coitado, digno de pena, ou seja, o resto desgraçado, destruído e derrotado como resultado do que fizeram contra você.
Então, como um atropelado caído no chão, você começa a chamar a atenção de todos que estão passando. Logo há uma multidão ao seu redor, alguns curiosos, outros com pena do seu estado lastimável, outros oferecendo ajuda, enquanto o motorista assassino é golpeado com olhares de indignação e fúria.
Você ri por dentro porque não faltarão testemunhas para falar a seu favor. O plano parece funcionar perfeitamente. Interpretação digna de Oscar.
Do lado de fora da roda, o vilão, enquanto ciente da situação, assume seu papel de “homicida”, ergue a cabeça e segue em direção à delegacia, sabendo que corre o risco de ser injustiçado, porém, sem medo de fazer sua própria justiça.
A vítima, algum tempo depois, já recuperada do acidente, vai então depor contra o criminoso. E cheia de confiança e testemunhas, deixa transparecer em seu olhar a satisfação em ver o vilão apodrecer atrás das grades.
Durante o julgamento a vítima usa todas as suas táticas. Joga baixo, trapaceia, e interpreta cada vez mais.
Fim da sessão as vítimas se sentem vitoriosas.
O que elas ainda não se deram conta é que essa foi apenas uma sessão, que os dados estão rolando e o julgamento não acabou.
Por mais que mintam e interpretem, ninguém é ator em tempo integral. As máscaras apodrecem com a ação do tempo e aos poucos se decompõe e deixam à mostra um rosto pálido, de aspecto cadavérico e monstruoso.
Quando você começa a perceber (erroneamente) que esse papel de coitadinho é mais cômodo e fácil do que o de vilão, você será atraído a isso como um vício. Você viciará em mentir e logo está vivendo em um “Fantástico Mundo de Bob” que às vezes é invadido por episódios de “Caverna do Dragão”.
Quem diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque terá de inventar 20 vezes mais para sustentar a certeza da primeira... [Alex Poper]

3 comentários:

  1. Você tá ficando bom nisso, hein? hahahahah
    Adorei, como todos os outros. Arrasa sempre! E nunca deixe de atualizar! Seus leitores agradecem!

    beijos!

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  2. Cara, achei um pouquinho confuso e essas letra rosa com azul não ajudam. (achei isso enquanto lia).
    Quanto vilão e vitima... Sim, existem falsas vitimas que são as que vc falou. Mas será que não existem vitimas reais tb?(sei lá)
    issae Ivan! (Eu li viu)

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  3. Massa Ivan... Continue assim... Leitor Nato...

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