sábado, 11 de julho de 2009

Os Relacionamentos e as Massas

Relacionamento _ato de relacionar ou de se relacionar. Ligação afetiva ou sexual entre duas pessoas. = relação
Em outro post eu falei sobre o medo que as pessoas têm da solidão. Esse medo leva a uma necessidade latente, quase que obrigatória, de se relacionar com um parceiro. O não envolvimento em uma relação duradoura começa a despertar um sentimento de aflição e ansiedade, associados ao medo de permanecer eternamente “largado ao vento”.
Nesse contexto, as pessoas que não aprenderam a lidar consigo mesmas são incapazes de uma convivência com seu próprio eu. São pessoas que não estabeleceram um RELACIONAMENTO com suas potencialidades e deficiências. Na verdade elas se vêem como incapazes de qualquer coisa quando estão sozinhas.
Pessoas assim são como aqueles “colarzinhos” baranguérrimos de revistas populares, cujo pingente é a metade de um coração e você dá a outra metade para o seu parceiro, ou seja, você não sabe o que é pior, ver uma pessoa que parece a metade do coração partido, numa correntinha banhada a “ouro 18 quilates”, ou o casal que é o próprio pingente encaixado: forçado, de mau gosto e com a fenda do mal encaixe entre as partes, destacando mais que a bijuteria como um todo.
Toda essa busca por uma vida a dois levou os atuais relacionamentos do nosso tempo a uma escala muito mais “culinária” do que afetiva, a qual poderíamos facilmente comparar às massas: em geral são um macarrão instantâneo ou um espaguete mal feito.
Os relacionamentos “macarrão instantâneo” são aqueles cuja fome extrema somada à preguiça de preparar alguma refeição mais elaborada levam as pessoas a optar por aquela tradicional, econômica e barata massa: o popular miojo.
São relacionamentos chamados de namoro, que começam logo depois – senão antes – do terceiro encontro – ou o mais rápido possível. As pessoas abrem o pacote da massa, separam o tempero artificial – o sabor pouco importa, já que é artificial mesmo -, colocam numa panela qualquer com um pouco d’água, cozinham por três minutos e então degustam aquele preparo como se fosse realmente um excelente substituto de uma refeição real.
Esse tipo de relacionamento raramente vai adiante; primeiro porquê o tempero é forte, industrializado e posteriormente enjoa; segundo, porquê o coração, assim como o organismo, necessita de outros complementos reais e sentimentos verdadeiros e duradouros, assim como o corpo, de vitaminas e outras substâncias para poder funcionar bem.
E não adianta comprar o “cup noodles” simplesmente porquê vêm com aqueles milhos e carnes desidratadas; você até se distrai com esses complementinhos no início, mas logo nota que a quantidade de macarrão é menor que o de pacotinho, ou seja, vai continuar com fome, mesmo após ter comido.
Já os relacionamentos “espaguetes mal feitos”, são aqueles cuja intenção é comer alguma coisa rápida, mas um pouco mais saborosa que a outra massa.
Até existe um processo de produção da comida. Só que na maioria das vezes, não era esse tipo de alimento que você desejava, porém você prepara, porquê não está muito disposto a ficar na frente da geladeira pensando o que fazer com tantas sobras. Durante o preparo da refeição você se distrai pensando no que realmente gostaria de comer, principalmente quando o cheiro vindo da cozinha do apartamento ao lado te entorpece mais do que o da sua própria. Você se encontra pensando no cheiro e acaba ou salgando o molho, ou cozinhando a massa demasiadamente.
Ao final do processo você até encara, faz cara feia, engole sem mastigar muito, mas come. No máximo, você joga aquilo tudo fora e liga para alguma tele-entrega dentre os milhões de ímãs colados na geladeira, tipo disk-sexo. Alguém aparece, te entrega o recipiente térmico e você come e descarta as sobras.
Você se satisfaz ali, naquele momento, abraça, beija e até diz eu te amo. Porém, a fome logo voltará e toda a história da preguiça culinária se repetirá de alguma forma, ou pelo menos até você cair na real de que um relacionamento de verdade é como uma refeição de verdade: começa na escolha dos pratos, na seleção dos ingredientes certos, dos acompanhamentos, no lento preparo de cada refeição, na limpeza da cozinha, na organização da mesa de jantar, na degustação da refeição lentamente, com cada coisa a seu tempo (entrada, prato principal, saída, sobremesa), na etiqueta e no comportamento, na conversa durante tudo isso, e principalmente, no desejo de ambos pela próxima refeição juntos.
Lembre-se: às vezes as refeições em casa são boas, mas que tal ir a algum restaurante comer alguma coisa diferente... outras pessoas talvez tenham a mesma idéia de sair para comer sozinhas, e nesse encontro poderá surgir alguma adequação, mistura ou releitura de velhas receitas conhecidas.

4 comentários:

  1. Meu anjooo... simplesmente amei seu texto... a sua forma de expressar é única... e essa singularidade impressiona.

    O meu antigo relacionamento se encaixou no 'espaguete mal preparado'.... hehehhee ...coisas da vida não?

    Um super bju... acho q vo ateh fazer um blog tbm...hehehhe

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  2. Voce está de parabéns, Ivan!
    Muito bom seu jeito de escrever.

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  3. Melhor dizendo, muito bom seu jeito "Ivan" de escrever. Hahahaha!

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