quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Sociedade dos Best-Sellers Dublados

Visão_ Ação ou efeito de ver. PercepçãoPerceção pelo órgão da vista. Imagem que se julga ver, geralmente em sonhos ou por efeito de uma alucinação. Vista, aspectoaspeto, presença. Aparição sobrenatural, fantástica. Imaginação vã. Idéia sem fundamento.
Ah, os olhos! Olhos que encantam, olhos que projetam os resultados de alguma tristeza em forma de lágrimas, olhos que captam o mundo visível. Olhos azuis, castanhos, verdes, pretos, puxados, arredondados, grande, pequenos, olhos nus, ou exercendo sua função com a ajuda de algum acessório/aparelho. Olhos capazes de transmitir mais informações que a própria boca em ação [um olhar vale mais que mil palavras], será? Talvez, se forem mil palavras escolhidas aleatoriamente e ditas sem contexto e nexo, realmente, o olhar valerá mais. Porém, as palavras sempre dizem muito mais do que ouvimos, ou queremos ouvir, e é por isso que talvez um olhar somado ao momento, que somado às circunstâncias da situação, que somados a um determinado lugar, mais outras pequenas coisas que se acumulam dentro de um espaço de tempo, realmente digam mais que mil palavras, ou seja, existe quase uma cena teatral que nos movimenta interiormente e que é regurgitada ao mundo -quando existe um silêncio no ar - através dos olhos.
Amor à primeira vista, visão panorâmica, primeira impressão, ver, enxergar, olhar, observar. Um mundo imagético que vai sendo construído para iludir nossos olhos. Desde criança somos educados ao sentido da visão como o mais importante deles. Deixamo-nos seduzir pelas formas, cores, texturas, nos espelhamos em pessoas com visibilidade na mídia, e nos apegamos cedo a estereótipos físicos. E é também desde pequeno que formamos uma opinião própria, um juízo de valor, baseado em uma percepção visual e superficial de algo que é apresentado. No que diz respeito à nossa própria imagem, queremos agradar sempre aos olhos alheios. Os nossos só estarão satisfeitos se formos capazes de satisfazer aos outros em primeiro lugar, despertar o desejo, o sentimento de carência e posteriormente uma necessidade por nós, caso contrário temos a sensação de rejeição, de solidão e de tristeza, pois não fomos capazes de nos encaixar nos padrões de beleza física do outro e da sociedade contemporânea.
O que ainda não percebemos, é que fomos alienados de nós mesmos e somos incapazes de aceitar as diferenças que dão a cada um, uma identidade própria. O corpo “imperfeito” ficou estanho a si mesmo e posteriormente ao espaço em que se insere. Não passamos mais longas horas nas praças, ou conversando na porta das casas. O corpo parece carregar alguma esquizofrenia, e a vergonha de mostrá-lo nos faz escondê-lo atrás de telas de cristal líquido e vidros espelhados.
Mesmo sabendo que os olhos sempre nos enganam [ilusionismo, ilusão de ótica, imagens manipuladas], ainda sim nos prendemos à visão e ao que ela nos transmite.
Raramente nos entregamos à beleza que os olhos não captam; aquela que é sentida com a alma, com o coração. Quantas vezes fechamos os olhos para tentar ver uma imagem de alguém que está à nossa frente falando? O que a voz diz projeta alguma imagem em nossa mente quando não estamos vendo com os olhos; mas raramente nos entregamos a isso, por mera questão de comodidade, costume e principalmente, por estarmos extremamente ligados aos padrões físicos.
Levamos a vida muito mais parecidos com uma pessoa que prefere ir ao cinema assistir à estréia de um roteiro baseado em um Best-Seller, do que aquela que leu primeiro o livro, e através das palavras dele, desenhou a história em sua cabeça, em alguns casos usou as mensagens sutis que ele continha - e que foram descobertas em conseqüência à essa sensibilidade - em sua própria vida e só então direcionou seus olhos à tela, para ver o que ela já conhecia, através dos olhos da sua própria mente, para ver com os olhos do corpo, o que uma outra pessoa viu com os olhos da mente dela e tentou manifestar fisicamente.
As reações de quem já conhecia a história são sempre as mesmas: insatisfação pelas imagens visuais projetadas, que não contem toda a informação e beleza que as criadas mentalmente, ruptura e cortes em partes importantes e necessárias da história, etc.
Já para aqueles que não leram, a história é sempre ótima, o filme interessante, apesar de a legenda como sempre estar cansativa, rápida e impedir de ver as cenas direito. Preferiam um filme dublado.
Pobres de nós nessa sociedade presa a valores tão efêmeros. Sociedade cuja ciência é capaz de reconstituir corpos dilacerados com tamanha perfeição, que não deixam sequer cicatrizes como vestígios do passado; mas que é incapaz de reconstituir valores mesquinhos, que produzem a guerra, a miséria e as desgraças pelo planeta.

Fechamos nossos olhos para as mazelas que nos cercam como forma de nos ausentar de parte da culpa por elas existirem, mas não fechamos nossos olhos à beleza física, mesmo que sejamos maltratados por ela, pois estamos visualmente entorpecidos com essa realidade imagética fútil.

2 comentários:

  1. nossa, até me arrepiei com esse texto... a realidade imagética fútil nos faz prisioneiros desses 'olhos' alienados do nosso interior.

    Uauuuuu!!!... Ivan, você é um tesouro. Sua mente e seu coração são raridades nesse mundo.

    Tudo de bom... adoro você!

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