domingo, 2 de outubro de 2011

Aprendendo a Aprender




E aí você aprende: aprende que pode cortar a língua quando for lamber a tampinha metálica do iogurte. Aprende que para aprender a ascender a trempe do fogão você terá que ser ágil – puxando a mão no nanosegundo entre o trepidar da chama do isqueiro e o momento em que o fogo sobe junto com o gás que sai -, para não queimar dedos e pelos.
Aprende a enfrentar uma gripe sozinho e conseqüentemente não depender dos mimos e dengos que lhe ofertam quando está acamado.
Você aprende a sentir medo, ou só sente o medo na proporção em que consegue agüentar enquanto estiver sozinho. Nossa mente tem dessas coisas, de ficar dosando tudo o que se sente, mesmo que pareça demais.
Aprende a cozinhar uma coisa ou outra e o básico. Mas aprende principalmente a driblar a própria fome, trocando uma refeição completa por um macarrão instantâneo e ainda deixando a panela, o talher e o prato na pia pra lavar depois. Barganha com as tarefas domésticas.
Logo a gente aprende que todo espaço externo não preenche o vazio interno que consome horas de martírio sobre as escolhas que em vão – quanto ao objetivo almejado - não levaram a um caminho muito longo.
Aprende que todo preenchimento interno é demais para o vazio. É muito vazio pra pouco vazio, ou pouco vazio pra muito vazio. Você aprende a sentir demais, ou menos, a querer demais ou menos, a tentar mais, ou menos. E nada, absolutamente nada nem tudo será capaz de suprir isso.
Você aprende que algumas pessoas estão dispostas a te ajudar, mas que principalmente e fundamentalmente é preciso entender que nesse caso o que vale é a intenção, e que uma ajuda não necessariamente muda os rumos da coisa, porém muda sua maneira de enxergar e distinguir quem está ao seu redor.
Dizem que é a vida que ensina, mas sei que você aprende no susto, no melhor sentido “toma que o filho é teu”, a pular no escuro e “puta que pariu”, sentir o mesmo que se sente quando num sonho estamos vivenciando uma queda no além. O frio na barriga, o calor nas mãos, o suor e muita adrenalina batida com medo, num drink de sensações.
Você aprende a pensar sobre porque arrumar sua cama todos os dias de manhã, sabendo que a desarrumará ao anoitecer, num processo repetitivo e para vida toda. E mais do que isso, aprende que no único dia em que você a deixa desarrumada para forçar uma mudança de hábito, aparece uma visita que você há muito esperava, e que te faz sentir vergonha do estado do seu quarto.
Aprende ainda que quando conhecemos verdadeiramente uma pessoa, ela provavelmente olhará para nosso estado de bagunça e tentará entender porque chegamos nesse ponto, ou em qual momento caiu a primeira meia no chão e lá ficou, abrindo caminho para as milhares de tralhas que espalharíamos quarto afora.
Você aprende que amar não é tudo, mas que tudo é amor. Respeito é amor, lealdade é amor, paciência, compaixão, paixão, caridade, afeto, carinho, sinceridade, e mais tantas outras palavras que denotam o que amar realmente significa, e que dizer “eu te amo” torna-se tão superficial quando não há prática de algumas delas. É a teoria aprendida, mas a prática não vivenciada.
Você aprende a aprender. A aprender que quanto mais se aprende, mais ainda há o que aprender. Aprender requer antes de tudo discernimento, pois num deslize ortográfico onde dobra-se a letra “e”, e junto com um pequeno desvio de caráter você deixará de aprender  e acabará por apreender sua própria vida.
No fundo, todo conhecimento aprendido deve ser passado adiante, para que não aprendamos a apreender de forma egoísta em função de um vazio que não se entende, já que a idéia de encarcerar coisas e pessoas é mais facilmente praticada do que a de libertá-las como um conhecimento que o vento dispersa aos lugares mais distantes e sempre volta quando este completa sua volta no planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário