segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sessão de contos: Vício em Virgula



Ele adora começar os textos pelos títulos. Não se sabe ao certo, mas os títulos são resumos ou grifos direcionadores do desenrolar do que será escrito. Se pudesse nem escreveria textos nem nada, apenas títulos. Adora imaginar que tudo que ele pensa poderia ser explicado por títulos, como se fossem esses nomes de esmalte, tipo Tule, Bianco Puríssimo, Rebu, Toque de Ira .
Isso não é rótulo, são títulos. Os esmaltes são tão bem explicados por títulos. É quase palpável se você fechar os olhos e pedir que alguém diga o nome de um esmalte que você não conheça e você tentar imaginar a cor. É isso. Não que ele entenda de esmaltes, mas é gostoso ler os nomes. Mas isso não acontece com tudo que tem nome.
Tem também mania de vírgula! É quase um vício – viciados geralmente não assumem que são viciados. É só um risco entre as letras, mas é um vício colocar essa tal vírgula. Adan imagina que a vírgula é a respiração do texto e que ela acompanha sua própria respiração (vírgula) e prepara a ele mesmo para as próximas palavras que virão. Vírgula é vida, ela vem assim que você entende ou pré-entende uma frase, e então te descansa para a próxima leva de letras somadas que formam sílabas e que juntas viram palavras, que próximas soam textos.
Imagina colocar uma vírgula em certos momentos do seu dia, se o ponto final não fosse uma opção também, é claro. Senão juntaria três e deixaria a continuação para um outro dia. Mas a vírgula seria ideal para aquele parágrafo do dia onde não há respiro.
Adan não gosta que escreva meia página. Ele gosta de títulos auto-explicativos, mas se é para escrever, que seja uma página cheia, ou pelo menos mais que isso. Assunto sempre tem, mesmo que ele mude ou direcione para uma infinidade de outros assuntos; por isso ele relê cada parágrafo, mesmo com preguiça, e vai mudando o que é preciso. Ele se preocupa com o português correto, mas odeia todas as regras e não suporta ouvir “coordenada aditiva sindética”.
Essas regras gramaticais servem para que você entenda que jamais falará corretamente, pois ser correto depende de entender bem as regras e tentar torna-las uma prática. Não deseja praticar nada que se refira a “transitivo direto ou indireto”. Mas gosta da grafia correta.
É uma regra justificar. E se tornou um vício também: escreve-se um parágrafo, justifica-o; escreve outro, justifica também este. Está se forçando a tentar deixar alinhado a direita ou à esquerda. Centralizado nunca! Nem mesmo os títulos dos textos, que aliás nem escreve, apenas como nome do documento ao salva-lo. Então esse justificacionismo das frases, cria uma borda imaginária que a impressora não transporá. Porém ficarão espaços, pois nem toda frase justificada se alinha em ambas as laterais, a não ser que você force a justificação. Mas se forçar perde a força. Ficaria uma palavra no início umas duas no meio e outra no fim parecendo que alguém não as queria e amarrou uma corda e puxou-as com força tentando tira-las para fora do texto.
Nem todos os dias ele quer justificar, mas como tomou isso como regra, ele justifica para padronizar a escrita, sabe-se lá porque, visto que ele não escreve nada padronizado. Adan se pergunta agora porque justifica seus textos por obrigação, se não é por obrigação que os escreve.
Vai saber! Melhor não tentar entender porque estaria justificando pra si mesmo os motivos que o levam a justificá-los. E se justificar para si mesmo, estará mais uma vez levando-se a seguir suas próprias regras, que não foram feitas para serem seguidas. Elas foram feitas para... ah, Adan quase justificou sobre o porque de suas regras não serem leis. Melhor parar por aqui (vírgula) e colocar um ponto final, salvar e tentar finalizar esses desenhos em reticências desde ontem.
Não gostei desse fim, voltei a escrever porque queria finalizar com uma vírgula e não com ponto, então, 

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